Doutor Finanças: «A gestão das pessoas é a base de toda a estratégia»

No Doutor Finanças, o modelo flexível de trabalho veio para ficar e é um dos factores que os colaboradores mais valorizam.

 

O Doutor Finanças é uma empresa especializada em finanças pessoais e familiares. Nos últimos dois anos, com a chegada da pandemia, adoptou um modelo flexível de trabalho, em que os colaboradores podem decidir onde vão trabalhar (casa ou escritório), e testou a semana de quatro dias. Irene Vieira Rua, directora de Pessoas e Cultura Organizacional do Doutor Finanças, falou com a Human Resources sobre a gestão de pessoas nesta empresa.

O que vos levou a participar no estudo Índice da Excelência?
O bem-estar dos nossos é algo fundamental. Trabalhamos todos os dias para melhorar a vida das nossas pessoas. Acreditamos que o fazemos bem, mas que há sempre espaço para melhorar. A participação neste estudo serve para podermos avaliar de forma independente e distanciada se o caminho que estamos a percorrer é aquele que melhor serve as nossas pessoas e, em função disso, introduzir melhorias.

 

De que forma a Gestão de Pessoas integra a estratégia da vossa empresa?
A gestão das pessoas é a base de toda a estratégia. Somos dos que acreditam que para termos um negócio sólido e sustentável é preciso garantir primeiro que as nossas pessoas estão bem, que se sentem motivadas, que conseguem fazer um equilíbrio entre as diferentes vertentes da sua vida (pessoal, familiar e profissional). Neste espírito e com esta convicção, uma gestão de pessoas atenta e empática é essencial e, acreditamos, começa desde a primeira interacção.

 

Quais são os principais desafios que esta área vos apresenta neste período de (quase) pós-pandemia?
A pandemia trouxe-nos o desafio maior de todos: conseguir acompanhar as pessoas à distância. Numa empresa onde a proximidade faz parte do seu ADN, o estarmos longe fisicamente uns dos outros representou um desafio herculano. Precisámos de nos adaptar, mas fizemos o caminho, fomos errando e melhorando o processo. Acreditamos que conseguimos adaptarmo-nos e reinventarmo-nos! Cada uma das nossas pessoas contribuiu para melhorar todo o processo de comunicação e gestão interna. Ainda temos muito para melhorar, mas o que conseguimos foi mostrar que mesmo longe conseguimos continuar a ser uma equipa. De tal forma que, em 2021, decidimos implementar um modelo de trabalho flexível na total extensão da palavra flexível.

 

Como é que evoluíram em relação àquilo que era a expectativa no início de 2020 (pré-pandemia)?
A evolução foi muito positiva. Tivemos muitos desafios pelo caminho, mas conseguimos superá-los. Acrescentámos soluções e serviços, desenvolvemos novas ferramentas para clientes e utilizadores do nosso portal, e as equipas foram crescendo e adaptando à nova dimensão. Esta evolução obrigou-nos a tomar medidas que simplificassem a vida dos nossos. Criámos novos canais de comunicação, melhorámos a comunicação interna e reforçámos o acompanhamento individual e de equipa. Fomos criando espaços e eventos que nos aproximassem uns dos outros e que permitissem que cada um de nós se sentisse parte. No início receámos que não fosse possível manter a cultura que imperava no Doutor Finanças. Mas, num ambiente em que a diversidade é o aliado da complementaridade e um dos pilares mestres da nossa cultura, o contexto acabou por nos fortalecer.

 

Como pretendem dar resposta a estes desafios e quais são as áreas que consideram prioritárias?
Não acreditamos em soluções mágicas. Acreditamos num trabalho permanente, no foco no outro como meta. E, neste sentido, estamos sempre atentos a formas e soluções para estreitarmos cada vez mais os laços entre os vários elementos da equipa. Continuamos a trabalhar para que a estrutura, cada vez maior, mantenha os laços.

Com o crescimento das equipas, num ambiente de distância física, criámos mais pontes, e vamos continuar a trabalhar para que estas pontes se fortaleçam. O nosso foco são os nossos doutores, sabendo que ao contribuirmos para o bem-estar das nossas pessoas, o nível de serviço entregue aos nossos clientes e parceiros será naturalmente incrementado.

 

Foi preciso dar novas competências às pessoas para responder aos novos desafios?
Nem seria possível de outra forma. Para acompanhar este crescimento e os desafios que todo o contexto nos trouxe, foi necessário fazer crescer os nossos. As equipas cresceram e não só tivemos de, em determinados casos, capacitar as lideranças no sentido de gerir equipas mais alargadas, como fizemos evoluir profissionais no sentido de iniciarem a sua caminhada como líderes de equipas, ajudando-os a crescer e a alcançar novos objectivos.

Muitos de nós tiveram de desenvolver outras capacidades, melhorar a sua organização e a sua comunicação com o resto da equipa.

 

Que boas práticas identifica como inovadoras ou inéditas na vossa empresa?
Procuramos que todas as medidas que temos vindo a implementar no Doutor Finanças tenham suporte tanto ao nível da investigação de referência como tenham sido testadas com sucesso noutras realidades. Para além disso é fundamental ouvir as pessoas, recolher o seu feedback e perceber o que realmente é significativo para elas. Gerir pessoas e aquele que é o seu bem-estar não é algo que possamos gerir na medida do que melhor fica na fotografia. Fruto deste levantamento percebemos que o nosso caminho teria de ser trilhado por uma noção clara e inequívoca de flexibilidade e assim decidimos pela adopção de um modelo de trabalho assente numa flexibilidade praticamente total.

Outra medida que em 2021 deu muito que falar foi o projecto piloto que desenvolvemos em Agosto e que permitiu uma redução de 20% da carga horária semanal, sem qualquer ajuste salarial. Falo-vos da semana de quatro dias.

Nenhuma das medidas referenciadas é inédita. Têm validação empírica e a sua aplicação noutras realidades permitiu-nos um maior grau de confiança na sua aplicação e nos resultados da mesma. A única coisa que nos diferencia da maioria das empresas é a coragem de arriscar.

 

Quais as práticas que os colaboradores mais valorizam?
O modelo de trabalho flexível, sem dúvida. A liberdade de as pessoas escolherem onde vão trabalhar é das medidas mais valorizadas. As pessoas sentem que o seu trabalho e empenho foi recompensado e que esta medida respeita cada pessoa de forma única.

 

Em que âmbito percepcionam existir menos satisfação?
Diria que com o crescimento existem inevitavelmente dores de crescimento e uma delas passa pela comunicação. Comunicar melhor não passa por comunicar mais. Passa por comunicar de uma forma empática, atendendo àquelas que são as necessidades das pessoas e esse é um desafio que vai aumentando de forma proporcional ao crescimento da empresa.

 

O que assumem como o vosso propósito?
Temos como propósito ajudar as famílias a tomarem melhores decisões financeiras. Fazemo-lo mediante aconselhamento financeiro gratuito, formação à medida e disponibilização de conteúdos e ferramentas que apoiam a tomada de decisões fundamentadas.

 

Que mudanças trazidas pela pandemia se tornarão definitivas na vossa empresa e porquê?
O modelo de trabalho. Antes da pandemia trabalhávamos sempre no escritório, tínhamos algumas pessoas num modelo híbrido, mas a esmagadora maioria trabalhava sempre no escritório. A pandemia veio abrir novos horizontes. Obrigou-nos a testar o trabalho remoto e provámos que conseguimos fazê-lo com a mesma excelência. Por isso, o modelo que dá às pessoas o poder de decidir onde vão desempenhar o seu trabalho será definitivo.

 

Como encaram a questão do equilíbrio entre vida pessoal e profissional numa altura em que a casa de muitos colaboradores é também o seu escritório? Acreditamos que só conseguimos desenvolver um bom trabalho se o bem-estar estiver assegurado. E o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional é determinante para isso. É por isso que partilhamos com os nossos algumas boas práticas do trabalho remoto, ajudamos as pessoas a encontrarem soluções para minorar o impacto do que é viver e trabalhar no mesmo espaço. É na gestão do dia-a-dia que tentamos colmatar algumas dificuldades. Não há uma solução universal, até porque a realidade dos colaboradores não é necessariamente igual entre si.

 

Como trabalham para combater os efeitos nocivos que os isolamentos e confinamentos podem trazer, por exemplo, em termos de saúde mental?
Através de um acompanhamento próximo. Só assim é possível perceber os problemas dos nossos. Foi devido a este acompanhamento que decidimos disponibilizar apoio psicológico a todos os colaboradores. Uma medida que foi implementada em 2021 e que foi muito bem recebida pelas pessoas. A saúde mental é de uma importância fulcral. Se não estivermos bem, e se insistirmos sem pedirmos ajuda, arriscamo-nos a ficar numa situação muito complexa. Por isso, incentivamos as pessoas a encontrarem um equilíbrio, a pedirem ajuda.

 

Como encaram o futuro do trabalho em Portugal, nomeadamente na vossa área de actividade?
A pandemia colocou-nos em contacto com todo um mercado global que até então seria inimaginável, o que pode dar origem a novos desafios na hora de contratar determinado tipo de profissionais, nomeadamente dos que actuam na área de Inovação. A guerra pelo melhor talento é uma realidade, mas não me parece que estejamos perante uma novidade. Uma coisa é certa, não existe como ignorar esta situação, pelo que urge que as empresas se adaptem à realidade de um mercado global e na qual existe um desequilíbrio grande entre a oferta e a procura. Para serem competitivas, no que à atracção e fidelização de talento diz respeito, as empresas terão de se posicionar no sentido de proporcionar uma boa experiência a todos com os quais interage desde uma fase precoce (experiência do candidato) até à experiência do colaborador propriamente dita.

 

Quais os aspectos que consideram fundamentais no caminho para a excelência?
Que bom seria se existisse uma receita para a excelência. Mas não há, precisamente porque o conceito de excelência varia de acordo com a pessoa que o enuncia. Para mim, excelência está longe de significar perfeição e pressupõe melhorar todos os dias. A excelência não é definitivamente o destino; é a estrada que percorremos até aos lugares onde queremos chegar. A excelência é um caminho onde impera a paixão, no qual se aprende com os erros, onde as pessoas realmente importam e onde existe a capacidade de, não só calçar os sapatos dos outros como de ver o mundo como o outro vê, num inegociável exercício de empatia.

 

Este artigo foi publicado no Especial Índice da Excelência, na edição de Fevereiro (nº.134)  da Human Resources, nas bancas.

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