Rock in Rio Lisboa e BNP Paribas promoveram conversa sobre as diferentes dimensões da diversidade no mundo do trabalho
O BNP Paribas, em parceria com o Rock in Rio Lisboa, realizou a conferência “Palco para todos”, uma iniciativa que pretendeu dar destaque aos desafios da integração da diversidade no mundo do trabalho, contribuindo para uma sociedade mais sustentável e mais inclusiva para todos.
Moderado por Luciana Peres, directora de Responsabilidade Social Corporativa, Diversidade e Inclusão do BNP Paribas Portugal, esta conferência contou com representantes de organizações que ilustram, nas suas diferentes áreas de actuação, as diferentes dimensões da diversidade.
Iniciando a discussão, com o tema da inclusão dos refugiados, Catarina Lima, coordenadora do programa de acolhimento de refugiados da JRS Portugal – Serviço Jesuíta aos Refugiados, refere como a integração profissional poderá dar um novo sentido de vida aos refugiados que fogem do seu país.
«A integração profissional de refugiados é um passo fundamental em várias medidas. O mais óbvio é autonomia financeira. A integração profissional acelera o processo de integração no nos países. Estamos a falar de pessoas que fugiram dos seus países e perderam traços que as definem.» Catarina Lima adianta ainda que «voltar a ter uma rotina é muito importante para a estabilização mental das pessoas. São pessoas que estão a lidar com processos de luto muito complexos e a integração profissional nesse sentido ajuda a que estas pessoas possam voltar a reconstruir a sua identidade, a construir a sua estabilidade emocional, a reconstruir a sua vida do zero».
Roberta Medina, vice-presidente executiva do Rock in Rio, no âmbito do projecto “Por um Mundo Melhor” mencionou a importância da interacção com a comunidade local para o sucesso do festival Rock in Rio.
«A nossa cultura familiar de crença é de que o seu negócio só vai bem se a sua cidade estiver bem. Se fazemos o Rock in Rio no Parque da Bela Vista, tudo o que está à volta não pode ser negativamente impactado. O primeiro olhar que tivemos foi como criar uma boa vizinhança. As contrapartidas do Rock in Rio têm de ser reinvestidas na região”. Roberta deu exemplos que impactam diretamente a população durante os dias do festival, nomeadamente com a oferta de bilhetes à comunidade, mas também que vão para além do evento, em que trabalham com o propósito de “dar mais vida à Bela Vista”. “Temos uma parceria com a Chelas é o Sítio [associação de moradores daquela zona] e com a Junta de Freguesia, em que vamos ouvir a população e conhecer de perto as necessidades, porque queremos quebrar preconceitos e estereótipos que sabemos que existem nesta região.», explica.
A vice-presidente executiva do Rock in Rio acredita mesmo que já se começa a falar de igualdade de género, mas é necessário enaltecer mais o debate da pluralidade.
«Eu acho que a sociedade está pronta para fazer discussões mais abertas. Muito dos preconceitos e vícios de comportamento são estruturais. Em Portugal, é como se ninguém soubesse muito bem como se aproxima essa conversa. Falamos de igualdade de género, mas do resto, parece que não queremos falar», exemplifica, dando o mote para a Rock Street deste ano.
«Optámos por usar a palavra pluralidade no Rock in Rio, para que não se pensasse que era só igualdade de género. Na Rock Street, queremos trazer a conversa de raça, de género, de gerações. Há tanta coisa para reajustar a nossa mentalidade, a abertura de novas culturas. Queremos que fique mais fácil falar de diversidade em todas as frentes».
Um dos grandes exemplos de uma iniciativa que pretende abrir o caminho na aceitação da diferença é o Café Joyeux, um projecto inclusivo que forma e integra pessoas com dificuldades intelectuais e do desenvolvimento.
Filipa Pinto Coelho, presidente executiva do Café Joyeux, explicou: «Queríamos fazer algo que aproximasse a sociedade da diferença. Queríamos criar um conceito que fosse uma forma de estarmos próximos da sociedade, com um serviço de qualidade, onde esta aproximação acontecesse».
«Temos um modelo inovador de contratação e formação das pessoas, nós contratamos para formar e isto é disruptivo na nossa sociedade. O Café Joyeux dá esta oportunidade, permitindo que as pessoas possam crescer naquela função. Não estamos a falar de um café inclusivo, estamos a falar de um café que não exclui. Esperamos mesmo que amanhã não estejamos a falar de inclusão, mas sim de não-exclusão.»
Salvador Mendes de Almeida, fundador da Fundação Salvador, aproveitou esta conferência para falar um pouco das dificuldades sentidas por quem tem uma deficiência motora.
«Um dos maiores contributos para a exclusão das pessoas com deficiência é a falta de acessibilidade. Temos conhecimento de situações em que existem pessoas que ficam 10 anos à espera de uma plataforma elevatória para poderem sair de casa», afirma, não deixando, no entanto, de salientar as boas práticas que já se fazem no país.
Para desmistificar o preconceito e desconhecimento que existe sobre esta realidade junto de crianças e jovens, Salvador mencionou o projecto “Trocar a deficiência por miúdos”, que permite o contacto dos jovens com pessoas com deficiência, para que este seja encarado com a maior naturalidade possível.
«As pessoas com deficiência têm de ter uma maior presença de espírito e a naturalidade destes jovens ajuda muito [a esta realidade], porque existem muitas pessoas que têm receio de fazer perguntas, e os jovens têm esta espontaneidade e naturalidade de querer saber mais», refere.
Contribuir de forma activa para uma sociedade melhor é uma missão que pode começar desde cedo e que Dussu Djabula, presidente do HeForShe Lisboa, desempenha a fundo. O movimento HeForShe pretende integrar jovens e adultos do sexo masculino no desenvolvimento de uma cultura real de igualdade de género.
«O movimento HeForShe foi criado em 2014 e foi criado na lógica de que não podermos contribuir para a igualdade de género, sem o trabalho por parte do outro lado [homens]. Queremos contribuir para formar agentes de mudança e agentes de direitos humanos», exemplifica a responsável, que apontou também desafios à sua atuação.
No final da Conferência, todos os convidados concordam que o mercado já integra muitas práticas necessárias, mas ainda há um caminho para percorrer. A lei das quotas, segundo a opinião de todos, é um acelerador e, nesse sentido, trata-se de uma medida positiva, embora possa ser também um pouco limitador, tendo em conta que para ser cumprida, é necessário apresentar uma declaração de grau de incapacidade igual ou superior a 60%. Relativamente a esta questão, todos foram unanimes em concordar com Filipa Pinto Coelho na sua afirmação «se todos tivermos mais conhecimento dessa diferença sem ser por essa imposição, vai resultar melhor».