Há uma nova app que, além de ligar profissionais e empresas (na área de Hotelaria e Restauração), também promove o mérito. O líder do projecto explica

Imagine uma app permite fazer o “matching” entre profissionais e empresas na área da Hotelaria e Restauração, destacando o desempenho de excelência de ambos, ao mesmo tempo que simplifica pagamentos, seguros ou qualquer burocracia legal e administrativa. Já existe e chama-se merytu.

Por Tânia Reis

 

Lançada em plena pandemia, esta solução tecnológica inovadora une profissionais e empresas da área da hotelaria e restauração de forma simples e eficaz. Permite aos profissionais encontrarem oportunidades de trabalho e com possibilidades de evolução de carreira baseadas no desempenho profissional. E simultaneamente, permite às empresas reforçarem as suas necessidades de profissionais. Tudo através de um processo de selecção directo, imediato e transparente, explicou o CEO, João Silva Santos, em conversa com a Human Resources Portugal.

 

Como nasce a merytu e que tipo de actividade desenvolvem?

A merytu é uma plataforma digital portuguesa que faz a ligação entre trabalhadores independentes e empresas da indústria da hospitalidade, através de uma app. Simplificamos a identificação quer de talento, quer de oportunidades de trabalho esporádico ou regular, automatizando o matching entre profissionais e empresas, com base nas suas necessidades e objectivos.

A merytu nasceu da vontade de reconfigurarmos o paradigma de trabalho estabelecido nesta indústria e de acelerar a transição para um novo modelo de trabalho, baseado na autodeterminação, transparência e work-life balance. O nosso objectivo é oferecer uma solução equilibrada que satisfaça, ao mesmo tempo, profissionais e empresas.

 

Aquilo a que se propuseram foi criar um modelo de trabalho inovador. Como é que isso se traduz na prática?

A nossa proposta de valor baseia-se, fundamentalmente, no mérito. Isto é, desenvolvemos um sistema de avaliações que permite as empresas avaliarem a prestação do serviço do profissional, e, em simultâneo, os profissionais avaliarem as experiências nessas mesmas empresas. Este feedback imediato permite aos profissionais desenvolverem as suas competências e evoluírem consoante o respectivo desempenho, o que se traduz também na possibilidade de aumentar o valor por hora das funções exercidas. No que diz respeito às empresas, o sistema de avaliações facilita a identificação de profissionais com as qualificações e experiência desejadas, visto que foram sujeitos a uma avaliação realizada por outras empresas do mesmo sector, em cada serviço prestado. Por outro lado, o facto de os profissionais avaliarem as empresas é ainda uma oportunidade de estas identificarem eventuais melhorias e aperfeiçoarem as experiências de trabalho que proporcionam. Acreditamos que esta funcionalidade é uma ferramenta valiosa para as empresas, já que encontram nela uma possibilidade de se destacarem e de atrair pessoas para trabalhar, especialmente num momento como este, em que o sector do turismo enfrenta um enorme desafio na captação e retenção de talento. Não existia nada deste género no universo do trabalho até ao momento, pelo que a merytu é, de facto, inovadora nesse sentido.

 

Há uma grande componente tecnológica… Como funciona a app e a quem se dirige? Empresas e profissionais?

As empresas publicam na app os seus convites de Gig, ou seja, compromissos profissionais para uma determinada função, entre as 16 disponíveis das áreas da hotelaria, restauração, eventos e wellness, indicando o nível de experiência do profissional, data, horário e local do serviço. Através da nossa tecnologia, identificamos automaticamente os perfis de profissionais que correspondem aos convites, isto é, os profissionais registados na merytu com as caraterísticas pedidas e que têm disponibilidade nesses períodos. Em média, em menos de 10 minutos os convites são aceites. É importante ressaltar que os profissionais têm total liberdade para decidir que convites querem aceitar, podendo escolher quando, durante quanto tempo e onde pretendem trabalhar. São exactamente convites, não existe, portanto, qualquer limite ou obrigatoriedade de aceitar.

Além disso, eliminámos todas as questões burocráticas relativas à identificação de talento e de oportunidades de trabalho que estão habitualmente incluídas nos processos de selecção tradicionais, como sejam o envio de CV e a entrevista. Os pagamentos, o seguro de trabalho e outras questões legais e administrativas foram igualmente simplificados para serem geridos automaticamente in-app.

 

O vosso foco é a Hoteleria e Restauração, porquê estas duas áreas em particular?

Actualmente damos resposta a mais de 250 empresas das áreas da hotelaria, restauração, eventos e wellness, sendo que as duas primeiras são as que têm maior representatividade. O nosso foco nestes sectores da hospitalidade deve-se, em parte, ao nosso background. Tanto eu como o Francisco, outro dos sócios e cofundadores da merytu, dedicámos a nossa carreira profissional ao sector hoteleiro e se já antes tínhamos vontade de transformar o que conhecemos como o modelo de trabalho em que se inscrevem, sobretudo, as funções operacionais deste sector, criando um modelo que reconheça o valor destes profissionais e que permita encaixar o trabalho nas suas vidas e não o contrário, a crise pandémica veio sublinhar a urgência de uma mudança. Consideramos que actualmente seria, até, tardio olhar para esta nova forma de encarar o trabalho como uma tendência. Os números falam por si, há uma escassez generalizada de talento nestes sectores, portanto a crise de descontinuidade dos modelos de trabalho vigentes nestas áreas é um facto e numa crise de descontinuidade não se volta ao passado, inova-se.

 

Sendo duas áreas que enfrentam grandes desafios de atracção e retenção de talento, como se apresenta a vossa solução como uma possível resposta?

Entendemos que o modelo da merytu corresponde às expectativas quer de empresas, quer de profissionais. Acreditamos que a solução para superar os desafios de atracção e retenção de talento na hotelaria e restauração passa pela cooperação entre ambos e essa cooperação é um dos pilares da nossa proposta de valor. Não me canso de repetir que as pessoas não desapareceram, apenas querem ser valorizadas e gerir as suas vidas profissionais com mais autonomia e liberdade. Em primeiro lugar, os profissionais deste sector encontram na merytu a flexibilidade de horários que lhes permite equilibrar a vida pessoal e profissional. Em segundo lugar, o nosso sistema de avaliações dá-lhes a possibilidade de evoluir por mérito próprio e, por conseguinte, aumentar os seus ganhos. Paralelamente, as empresas têm ao dispor uma solução ágil que viabiliza o reforço das suas equipas, à medida das suas necessidades, com profissionais qualificados e motivados.

 

Que resultados já podem partilhar?

Actualmente, o nosso ritmo de crescimento mensal situa-se nos 30%. Contamos com mais de 1200 profissionais activos e mais de 250 empresas que utilizam a merytu para reforçar as suas equipas, sendo que a taxa de convites lançados pelas empresas cifra-se entre 50 a 100 convites diários.

 

Os objectivos iniciais que estabeleceram quando lançaram a merytu há 3 anos são os mesmos de agora?

Embora o desenvolvimento da merytu tenha começado em 2019, a aplicação foi oficialmente lançada em Maio de 2021. Os objectivos aquando do lançamento centravam-se na consolidação da actividade no sector inicial, ou seja, na hospitalidade, e consequente expansão geográfica a nível nacional. Após a grande aceitação por parte do mercado da nossa solução, definimos a médio e longo a inclusão de novos sectores e, subsequentemente, a internacionalização.

 

Que dificuldades encontraram inicialmente?

Ao lançarmos a nossa solução no epicentro do confinamento pandémico, o nosso plano de implementação teve de ser redesenhado para dar resposta a esta fase tão atípica que o sector da hospitalidade atravessava. Ajustámos a nossa estratégia e com bastante resiliência superámos as adversidades até aos dias de hoje com indicadores bastantes positivos.

 

E actualmente?

Um dos desafios da inovação é a disrupção que, inevitavelmente, provoca. Como qualquer solução inovadora, o ritmo de adopção é um factor variável e que requer um esforço contínuo de comunicação e de pedagogia. Actualmente temos dois tipos de perfis. Temos empresas que aderem espontaneamente e outras que requerem algum acompanhamento numa primeira fase de utilização da plataforma.

 

Como veem o mercado do recrutamento em Portugal neste pós-pandemia?

Vemos que existe uma forte necessidade das empresas se adaptarem a um mercado de trabalho cada vez mais dinâmico que requer uma flexibilidade crescente. Hoje, cada vez mais, os profissionais escolhem as empresas e não o inverso. Este ritmo de mudança requer novos modelos de interacção entre as duas partes. A proposta da merytu facilita a adaptação das empresas a esta nova conjuntura.

 

O que vos distingue das empresas de recrutamento mais tradicionais?

O modelo da merytu assenta na criação de uma ligação directa e transparente entre empresas e profissionais, de uma forma ágil e simplificada. Não somos intermediários desta relação, mas facilitadores. A aplicação é na sua essência uma ferramenta de gestão de carreira para os profissionais, uma vez que permite destacarem-se pelo seu mérito. Para as empresas, é um instrumento de employer branding que permite distinguirem-se de forma contundente pelas suas práticas de gestão de capital humano.

 

Qual o perfil-tipo que os empregadores vossos clientes procuram no profissional actual?

As competências comportamentais têm prevalecido na escolha dos profissionais. As empresas têm privilegiado características como atitude e proactividade em detrimento dos conhecimentos técnicos quando consultam o rating dos profissionais, isto é, as avaliações a que os profissionais já foram sujeitos por outras unidades. O modelo da merytu é aberto a vários perfis de profissionais, desde pessoas que estão a dar os primeiros passos na hotelaria, a perfis com vários anos de experiência e, claro, os perfis de talento procurados pelas empresas variam de acordo as necessidades que têm no momento. Contudo, independentemente do factor experiência, temos verificado uma crescente priorização das soft skills.

 

O que acredita que os profissionais mais valorizam actualmente?

Acredito que os profissionais procuram um trabalho que encaixe nas suas vidas e, como tal, a flexibilidade e a liberdade de escolha são alguns dos aspectos mais valorizados.

 

Contam actualmente com 260 empresas como clientes – principalmente na área da restauração e hotelaria. Vão abrir «matching» a outros sectores de actividade e a outras zonas do país?

Um dos nossos objectivos mais imediatos é solidificar a nossa presença na área de hospitalidade no norte do país e alcançar o centro até ao fim do ano. A médio prazo contamos alargar a nossa actividade a outros sectores e a novas zonas do país, sendo a Madeira e o Algarve duas grandes apostas.

 

Que tendências perspectivam para a área em que actuam, nomeadamente no que respeita ao mercado de trabalho?

No nosso entendimento, haverá uma agudização das tendências comportamentais que começaram a ganhar maior expressão nos últimos anos, como é o caso da great resignation. Se actualmente a hotelaria e restauração já vivem o desafio da escassez de mão de obra, acreditamos que nos próximos anos esta realidade poderá agravar-se. Vários estudos demonstram que um dos aspectos mais relevantes para a retenção de talento das novas gerações é a flexibilidade de horários. Sabemos que a população mais jovem tem uma apetência natural para proteger a vida pessoal e a sua liberdade não é negociável. Acreditamos que a sustentabilidade das áreas em que actuamos depende, em grande parte, da captação e retenção deste talento, o qual representa já uma grande fatia da população activa e que, nos próximos anos, será a geração predominante. Inevitavelmente estes sectores terão de valorizar, de facto, os profissionais, não só em retribuições competitivas, como em benefícios emocionais que correspondam às suas necessidades e motivações.

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