Número de postos de trabalho ocupados por jovens entre 15 e 24 anos registou subida recorde

A economia portuguesa começou a destruir emprego, mas a situação nacional está a ser salva pela criação de empregos ocupados por pessoas muito jovens, uma camada da população que está tipicamente mais sujeita à precariedade e aos salários mais baixos praticados no país, avança o Dinheiro Vivo.

 

Em Novembro, o emprego nacional estava quase estagnado, cresceu apenas 0,3% face a igual mês de 2021, o valor mais fraco desde o período de maior mortalidade da pandemia (início de 2021), indicam cálculos do Dinheiro Vivo a partir de estimativas preliminares mensais sobre o mercado de trabalho português, ontem divulgadas pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). E, como referido, teria sido pior não fossem os muito jovens.

De acordo com a publicação, emprego de pessoas com 25 anos ou mais começou a cair (cedeu 0,6%, o pior registo desde Janeiro de 2021), mas a face do mercado de emprego acabou por ser salva por uma subida recorde do número de postos de trabalho ocupados por indivíduos muito jovens (15 a 24 anos). O volume de emprego nesta faixa etária disparou 16,8%, que é como quem diz, o valor mais elevado destas séries longas do INE que remontam a 1999.

Em termos absolutos, o emprego total nacional só ganhou 16 mil novos postos de trabalho no ano que termina em Novembro; há mais 42 mil trabalhadores muito jovens (menos de 25 anos); o grupo com 25 anos ou mais perdeu quase 26 mil postos de trabalho, mostram os dados oficiais, ainda que provisórios (os de Novembro).

A crise inflaccionista e energética, que se agudizou com o início da guerra da Rússia contra a Ucrânia (em Março de 2022), até começou por dar algum gás a algumas actividades, já que certas empresas conseguiram alargar margens e rendas à boleia da inflação muito alta.

Mas os meses foram passando, em Julho o Banco Central Europeu (BCE) iniciou o seu ciclo severo e longo de subidas de taxas de juro, a guerra só alastrou e piorou e as consequências para a actividade económica real começaram a materializar-se: menos confiança, projectos e investimentos adiados, menos consumo, maior recurso das famílias às poupanças, perda de compra de salários e pensões, o custo de vida agravou-se, sobretudo para os mais pobres, os que dedicam uma parcela esmagadora dos seus rendimentos mensais para suprir as necessidades mais básicas e essenciais.

Assim, o mercado de trabalho começou, com algum desfasamento (o que também é típico) a dar sinais de fraqueza e já não é só na criação de empregos.

O INE mostra, por exemplo, que a taxa de desemprego subiu quatro décimas de pontos percentuais para 6,4% da população activa em Novembro, naquela que é a maior subida desde Julho de 2020, quando o país estava em plena pandemia e a lamber as feridas dos primeiros confinamentos decretados nesse ano.

Apesar da criação de emprego recorde entre os muito jovens (15 a 24 anos), neste grupo, a intensidade do desemprego também está a subir. A estimativa provisória do INE aponta para que mais de 18% dos jovens activos estejam sem trabalho.

Será sobretudo porque há menos activos dessas idades, pois o número de desempregados de menor idade continuou a cair. Mas o número total de desempregados, não. O contingente de pessoas sem trabalho (e que procuraram activamente emprego e estavam disponíveis para aceitar) aumentou mais de 3% em Novembro, para um total de 331,6 mil casos.

Pelas contas do DV, este é o primeiro agravamento desde Maio de 2021. Tal como no caso do emprego, a situação só não é pior porque o contingente dos desempregados muito jovens (15 a 24 anos) continuou a diminuir (menos 11%), mas já sem compensar o avanço muito grande do desemprego no grupo dos 25 anos ou mais.

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