Que impacto vai ter a IA no mercado de trabalho? Randstad revelou resultados do seu estudo. E deu a palavra aos especialistas

Os resultados do mais recente estudo da Randstad Research: “A IA e o mercado de trabalho português” foram apresentados na passada quinta-feira no Hub Criativo do Beato, em Lisboa. No final, seis especialistas de várias áreas, dos Seguros à Tecnologia, passado pela Educação e Energia, debateram os riscos e oportunidades que a IA representa. E foram unânimes na forma como a encaram: com optimismo.

A análise foi dividida em três blocos, explicou Isabel Roseiro, directora de marketing da Randstad. Uma primeira revisão de literatura, nomeadamente de dados do Fórum Económico Mundial, OCDE e Goldman Sachs; a perspectiva quantitativa, para o mercado de trabalho português, com a identificação dos efeitos da IA na criação e destruição de emprego; e, por fim, a perspectiva qualitativa, através de dois inquéritos para compreender a percepção e expectativas das empresas e profissionais portugueses, relativamente à influência da IA nos diferentes sectores de actividade.

«Num curto espaço de tempo, a inteligência artificial está a transformar a forma como trabalhamos com impacto directo em diversos sectores de actividade», referiu.

«Ao mesmo tempo, a sua entrada cada vez mais massificada faz-nos colocar algumas questões éticas em cima da mesa. A verdade é que a sua utilização tem também efeitos sócio-económicos nomeadamente no que diz respeito ao potencial de ganhos de eficiência, o facto de algumas empresas e trabalhadores poderem beneficiar desta nova tecnologia, mas também a possibilidade de outros perderem os seus empregos com a automatização de tarefas.»

A análise indicou que se espera que o impacto desta tecnologia seja sobretudo nas tarefas com maior utilização da linguagem. De acordo com o grau de exposição à IA, funções profissionais como IT, Finanças; Vendas; Operações; Recursos Humanos; Marketing; Jurídico e Cadeia de abastecimento são as que apresentam o mais alto grau de automatização e actualização, tendo, por isso, um maior grau de exposição.

Ao mesmo tempo, a expansão da IA nas empresas deverá criar novas oportunidades económicas, novas profissões e empregos. Ainda que possam vir a ser criados 400 mil novos postos de trabalho,a estimativa do efeito líquido no emprego do país será negativa, levando a uma perda potencial de cerca de 80,3 mil empregos nos próximos dez anos.

As previsões para a economia portuguesa colocam no topo dos empregos actuais que poderiam estar em risco os sectores das actividades administrativas e das actividades informáticas e telecomunicações que poderiam ter potencialmente 18% e 17% dos seus processos automatizados. Relativamente ao aumento de produtividade estimado, serão os sectores das actividades financeiras e de seguros e das actividades informáticas e telecomunicações (36%), seguido das actividades de consultoria, científicas e técnicas (27%).

Por fim, a análise qualitativa da Randstad, através de inquéritos a empresas e a colaboradores , efectuada durante o período de Janeiro a Fevereiro de 2024, mostrou que a maioria das empresas inquiridas em Portugal já utilizam IA, e para uma grande variedade de funções. Por outro lado, 37,3% das empresas inquiridas (na sua maioria com mais de 250 trabalhadores) não incorporaram a IA em nenhuma das suas actividades.

«Um dos pontos críticos identificado nesta análise foi o facto de as empresas que introduziram a IA em alguns dos seus processos terem enfrentado desafios em termos de competências. Em 75,8% dos casos, a importância de ter competências tecnológicas especializadas entre os seus trabalhadores aumentou. E, em muitos casos, a importância de outras competências não tecnológicas, que podem complementar estas últimas, também aumentou», comentou ainda a directora de marketing da Randstad Portugal.

Após a apresentação do estudo, Paulo Baldaia moderou duas mesas-redondas, uma dedicada à Tecnologia e outra mais focada nas Pessoas.

A primeira contou com a participação de Jorge Carrola Rodrigues, professor na NOVA IMS, Gonçalo Vilhena, CIO da Randstad Portugal, e Ricardo Gonçalves, head of Center for Artificial Intelligence & Analytics da Fidelidade.

A escassez de talento veio para ficar e a Inteligência Artifical também, é por isso imperativo reconhecer e avaliar o seu potencial para o capitalizar em Portugal. E se as empresas, através de upskilling e reskilling, e os governos, através de legislação, terão um papel fulcral a desempenhar, também os cidadãos/colaboradores deverão assumir as suas responsabilidades na aprendizagem e no combate à resistência à mudança.

Realçando a importância da legislação europeia e nacional, analisando os prós e contras da IA, os três especialistas manifestaram optimismo e crença no futuro.

A segunda mesa focou a área das Pessoas e estiveram à conversa Cláudia Mendes, Global director da Women in Tech, Maria Kol, directora de Recursos Humanos da Microsoft, e Marco Serrão, Chief People & Spaces Officer da Galp.

Combater viéses e esterótipos da IA com uma maior diversidade de género no mundo tecnológico foi um dos alertas deixados. Porém, com um elevado potencial de produtividade ficou claro que actualmente o que faz falta não é talento – esse virá depois – mas sim recursos.

Ainda que seja impossível adivinhar ou prever a maioria das respostas às actuais questões, os três especialistas concordam, optimisticamente, que, no futuro, a IA vai aportar mais valor à sociedade.