Apenas 21% dos profissionais de saúde domina ferramentas e soluções digitais em contexto de trabalho

Um estudo europeu liderado pelo investigador português Luís Lapão, da Faculdade de Ciências da Universidade Nova de Lisboa | NOVA FCT, concluiu que, no cenário actual de transição digital, é urgente ampliar programas de formação em competências digitais para os profissionais de saúde.

A grande maioria dos profissionais inquiridos não sabe utilizar as ferramentas digitais necessárias, desde aplicações de edição de texto às tecnologias e aplicações de serviços digitais mais avançados, incluindo de telemedicina.

No primeiro semestre de 2023, o estudo “Training Needs Assessment for the Design of Health Care Digital Transformation Courses in EU”, co-financiado pelo projecto EU4Health da Comissão Europeia, fez um levantamento das necessidades dos profissionais de saúde em Portugal, Bélgica, Letónia, Noruega e Itália, com enfoque nas competências digitais, desde os níveis básicos aos mais avançados.

Entre os resultados, destaca-se alguma «incapacidade de utilizar» correctamente as ferramentas digitais, que contrasta com um sector em contante inovação e implementação de processos digitais. Segundo os profissionais de saúde inquiridos, 53% reconhece que tem algumas competências digitais de informação e comunicação, desde aplicações de edição de texto aos aplicativos de comunicação interna (exemplo, Microsoft Word, MS Teams), mas somente 27% dos profissionais confirma conseguir utilizar estas ferramentas para resolver problemas no seu ambiente de trabalho na saúde.

Relativamente a competências digitais avançadas, nomeadamente, utilizando ferramentas analíticas ou baseadas em “Internet of Things” (exemplo, smart devices, aplicações de telemedicina), 56% considera ter competências de análise de dados (exemplo, registos clínicos), mas apenas 21% dos inquiridos afirma dominar as soluções digitais que tem ao seu dispor, e 12% reconhece que estas tecnologias existem, mas não as utiliza.

Os resultados do estudo revelam que é urgente desenvolver programas de formação em competências digitais focados nas necessidades reais, colaborativas e individuais dos profissionais da saúde, e que é necessário um processo de requalificação para os mesmos acompanharem a complexa transição digital que ocorre no sector da saúde.

O estudo conclui ainda que, segundo a necessidade e vontade dos profissionais, a formação deve ser em formato híbrido – apesar de os profissionais preferirem a formação presencial, directamente no ambiente de trabalho, a investigação demonstra que o ensino online é eficaz, sobretudo na parte teórica. Os profissionais da saúde dominam e conhecem as soft skills, mas reiteram a necessidade e interesse de uma formação contínua, sobretudo em gestão de tempo e do stress.

«Num cenário de saúde em rápida evolução, a transformação digital da saúde é o presente e futuro inadiáveis. Sem as competências necessárias, nomeadamente as digitais, este caminho toma um rumo insustentável para os profissionais e as equipas de saúde», alerta Mélanie Maia, investigadora do projecto e primeira autora do paper.

«Neste estudo ficam claras as reais necessidades dos profissionais da saúde, partindo de duas questões principais: que competências têm? e quais as competências que consideram necessário desenvolver? Os resultados revelam que é necessário apostar seriamente em formação de qualidade, a todos os níveis de cuidados, não esquecendo os cuidados primários de saúde, por forma a alcançarmos um ecossistema digitalmente capacitado, que acompanhe estes tempos de constante e rápida inovação tecnológica», defende.

“Training Needs Assessment for the Design of Health Care Digital Transformation Courses in EU” consistiu num inquérito e focus-groups, realizados a cerca de 400 participantes validados que representam a multidisciplinaridade dos profissionais da saúde: nutricionistas, radiologias, técnicos de laboratório, médicos, dentistas, parteiras, enfermeiros, terapia ocupacional, fisioterapia, assistentes sociais, entre outros (incluindo gestores e consultores), em cinco países europeus, incluindo Portugal.

A investigação foi liderada por uma equipa de investigadores do UNIDEMI, a Unidade de Investigação e Desenvolvimento em Engenharia Mecânica e Industrial da NOVA FCT, em colaboração com outros investigadores da União Europeia.

Os resultados do estudo serão apresentados num paper que será divulgado em dois congressos científicos: no próximo dia 25 de Junho, na IEEE MELECON 2024, no Porto; e entre os dias 13 e 15 de Novembro, na European Public Health Conference 2024, em Lisboa.

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