Pela primeira vez em nove anos, igualdade salarial sofre retrocesso (sobretudo em funções mais qualificadas). E há um motivo que o explica
Pela primeira vez em nove anos, o fosso salarial entre homens e mulheres aumentou, sobretudo nos quadros superiores. A denúncia vem da presidente da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE).
«Pela primeira vez, num ciclo de nove anos, nós vimos aumentar o ‘gap’ [fosso] salarial de 13,1% para 13,2% se considerarmos o salário base, e de 15,9% para 16% se considerarmos o ganho [salário liquido] e isto deve preocupar-nos», disse Carla Tavares, que esteve na subcomissão parlamentar para a Igualdade e Não Discriminação.
A presidente da CITE admitiu que o aumento pode parecer reduzido, mas apontou que é preciso desconstruir os números, tendo em conta que «o maior aumento desta desigualdade é precisamente nos quadros superiores», por oposição aos quadros inferiores ou médios, entre os quais a «desigualdade não é tão elevada».
«Nos quadros superiores e nas profissões mais qualificadas há um aumento bastante significativo do ‘gap’ salarial entre mulheres e homens e isto é algo que deve merecer a nossa reflexão e percebermos o que pode ser feito para melhorarmos esta realidade», defendeu Carla Tavares.
A responsável referiu, a propósito, que a CITE tem prevista uma campanha para 2025 sobre partilha de tarefas domésticas e trabalho familiar, sublinhando que «é aí que está a base de todas as desigualdades».
«Enquanto não conseguirmos quebrar esta barreira, não conseguimos alcançar a efectiva igualdade entre mulheres e homens no mercado de trabalho», defendeu.
Segundo Carla Tavares, o diferencial no tempo que homens e mulheres gastam com trabalho doméstico «ainda é tão persistente» e lembrou que o último estudo da CITE revelou que as mulheres despendiam mais uma hora e 45 minutos do que os homens na realização dessas tarefas.
«Enquanto não diminuirmos este ‘gap’ [no trabalho não remunerado], não vamos, de facto, conseguir resolver todos os outros problemas que afectam as mulheres nas mais diversas vertentes, mesmo ao nível da progressão da carreira», defendeu.
Questionou por que razão «as mulheres muitas vezes não acedem a lugares de maior responsabilidade», respondendo imediatamente que é «porque recai sobre elas outras responsabilidades», como o «tratamento da casa, da família, de cuidar dos filhos».
«[Isso] não lhes permite muitas vezes assumir funções de maior responsabilidade», sublinhou.
Além da campanha pela partilha de tarefas domésticas, a presidente da CITE disse que está também prevista outra campanha pela prevenção e combate ao assédio no trabalho.
Carla Tavares adiantou que, em 2023, foram reportadas à Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) 426 “situações de irregularidades” detectadas pela CITE e adiantou que está a ser ultimada uma ferramenta que irá permitir uma ligação mais directa entre as duas entidades para a monitorização dos processos.