Saúde mental: cinco factores de risco em contexto de trabalho (que deve evitar a todo o custo)

Hoje, 10 de Outubro assinala-se uma data que visa reflectir sobre a importância da saúde mental. Este tema, em certa medida negligenciado no seio empresarial, tem finalmente vindo a ganhar relevância, refere Teresa Vicente, head of People da Minsait em Portugal (Indra Group) e partilha cinco factores críticos a abordar o quanto antes.

 

O local de trabalho, onde passamos grande parte do nosso tempo, não obstante a crescente flexibilidade e modelos híbridos mais democratizados recentemente, pode e deve contribuir para um sentimento de bem-estar. No entanto, as características da cultura corporativa e, por vezes, o foco nos resultados e na produtividade, bem como a forma como algumas empresas (des)cuidam os seus ambientes laborais, pode e deve ser reavaliada, para assegurar que se criam condições propícias ao bem-estar das suas pessoas.

A questão central não é apenas a de se os profissionais estão a ser bem-sucedidos em atingir metas e a cumprir prazos, mas se o fazem num ambiente que respeita e fomenta a sua saúde mental (e física também) e, no limite, que contribua para a sua realização pessoal. Neste sentido, existem cinco factores críticos que precisam de ser abordados com urgência.

Relações laborais abusivas

As relações abusivas no local de trabalho são uma das principais causas de stress e problemas psicológicos. O abuso pode surgir sob a forma de assédio moral, intimidação, desrespeito ou tratamento desigual, criando um ambiente tóxico que afecta o bem-estar e a produtividade. Para combater este mal, as empresas devem adoptar uma política de tolerância zero ao abuso, promovendo a comunicação aberta e assegurando que todos os colaboradores se sintam valorizados e respeitados. As lideranças têm a responsabilidade de promover uma cultura de empatia, apoio e segurança, onde os comportamentos abusivos sejam rapidamente identificados e eliminados.

Ausência de responsabilização

Em qualquer organização, a responsabilização é fundamental para um bom desempenho. No entanto, quando essa responsabilização não existe, cria-se um ambiente de impunidade, onde o trabalho e os resultados são desvalorizados. A falta de responsabilização gera desequilíbrio, onde uns trabalham arduamente enquanto outros não sentem o mesmo nível de compromisso. Esta desigualdade cria tensão entre os colaboradores, afectando a saúde mental e o clima organizacional. Para que as empresas promovam a saúde mental é necessário que todos assumam a responsabilidade pelos seus actos e contribuições, assegurando um ambiente de justiça e equidade.

Problemas crónicos que atrasam tarefas simples

A ineficiência sistémica é outro factor que corrói a saúde mental dos profissionais. Muitos ambientes de trabalho sofrem de problemas crónicos ou recorrentes que levam tarefas simples a consumir uma quantidade inexplicável de tempo. Quer seja através de burocracia excessiva, sistemas informáticos desactualizados ou processos mal delineados, a realidade é que os colaboradores frequentemente se deparam com obstáculos que tornam o seu trabalho mais complicado do que deveria. A simplificação de processos e a resolução eficaz de problemas devem ser uma prioridade em qualquer organização que valorize a saúde mental dos seus trabalhadores.

Modelos hierárquicos incompatíveis com o processo produtivo

O mundo do trabalho evoluiu, mas a verdade é que muitos modelos hierárquicos permanecem arcaicos e desajustados à realidade. Já não é surpresa que a rigidez hierárquica pode impedir o fluxo de ideias e a agilidade nas decisões, factores essenciais para o bom funcionamento de qualquer equipa. Quando os modelos hierárquicos não estão alinhados com o processo produtivo, o resultado é a frustração dos trabalhadores, que sentem que o seu contributo é limitado por barreiras institucionais. Modelos mais horizontais e colaborativos, que permitam maior fluidez de comunicação e participação activa de todos, são fundamentais para um ambiente saudável e mais produtivo.

Excesso de controlo sobre o trabalho e os resultados

Num mundo ideal, a gestão e a supervisão servem como guias para melhorar a produtividade e os resultados. No entanto, o controlo excessivo sobre o trabalho, o método, o horário e a agenda pode ser, para muitos, sufocante. A autonomia é um dos pilares da motivação e da saúde mental no trabalho, e quando os colaboradores se sentem microgeridos, pode dar-se o caso de maior frustração, ansiedade e, muitas vezes, burnout. Um ambiente onde cada acção é supervisionada e onde cada resultado é rigidamente medido, priva o trabalhador da sensação de liberdade para inovar e melhorar. As empresas precisam de confiar nas suas equipas, oferecendo-lhes o espaço necessário para serem criativas e responsáveis pelos seus próprios processos.

Hoje em dia, a saúde mental dos profissionais deve ser uma prioridade para as organizações. Não basta oferecer serviços de apoio psicológico ou iniciativas pontuais de bem-estar. É urgente reestruturar os ambientes corporativos de forma que promovam o bem-estar de todos os trabalhadores. A supressão dos factores que prejudicam a saúde mental no local de trabalho é um processo que exige um esforço concertado por parte das lideranças, que devem adoptar uma abordagem mais humana, flexível e inovadora na gestão das suas equipas. Acima de tudo, devem continuar a dar relevância ao tema, a colocá-lo na agenda e a reflectir, com honestidade, sobre a realidade corporativa que vivem. É ou não saudável? É ou não promotora do bem-estar? É ou não facilitadora da existência de pessoas melhores? Seja no trabalho, ou fora dele?

A autonomia, a comunicação aberta e a liderança empática são essenciais para criar uma cultura organizacional que valoriza e apoia cada indivíduo. O Dia Mundial da Saúde Mental é uma oportunidade para reflectir sobre as mudanças necessárias para transformar os ambientes de trabalho em espaços onde os profissionais possam prosperar, tanto em desempenho quanto em saúde e realização pessoal.

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