Cinco tendências que vão marcar o sector da Saúde e Ciências da Vida

O sector da Saúde e Ciências da Vida tem vindo a sofrer profundas alterações nos últimos anos, impulsionadas pelos avanços tecnológicos, pelas mudanças no comportamento dos pacientes e pela contínua escassez de talento. Neste contexto, o ManpowerGroup Global Insights – Tendências do Mundo do Trabalho no sector da Saúde e Ciências da Vida divulga as principais tendências que estão a redefinir e a moldar esta indústria, e como podem os líderes aproveitá-las para se destacarem e responderem de forma eficaz às exigências futuras.

 

1. A adopção de Inteligência Artificial (IA) no sector da saúde
A transformação do sector da Saúde e Ciências da Vida continua a ser impulsionada por avanços tecnológicos, nomeadamente a IA, que está a redefinir os cuidados médicos ao permitir diagnósticos mais rápidos, tratamentos personalizados ou mesmo monitorização remota de pacientes. Esta ferramenta tem a capacidade de melhorar a eficiência, acelerar o desenvolvimento de medicamentos, reduzir o burnout e potencialmente igualar o acesso aos cuidados de saúde. No entanto, a sua integração no sector exige uma formação e adaptação contínuas da força de trabalho para ampliar a sua adopção, especialmente num momento em que apenas 38% dos empregadores da área da saúde afirmam recorrer a ferramentas de IA conversacional como o ChatGPT, número bastante abaixo da taxa de adopção média actual (48%) para todos os sectores, segundo dados do ManpowerGroup.

Para os empregadores da indústria, e segundo o mesmo estudo, os principais desafios na adopção de IA são, em primeiro lugar, os custos elevados e as preocupações com a privacidade e regulamentação (ambos referidos por 34% das empresas), seguidos da escassez de competências (31%). Ao mesmo tempo, existe uma elevada preocupação com a resistência dos trabalhadores à mudança (29%).

Para enfrentar estas barreiras, as organizações devem adaptar as suas estratégias, nomeadamente no que respeita à gestão de talento. Em particular, o envolvimento dos trabalhadores na inovação através da IA oferece uma oportunidade de diferenciação e reforço da proposta de valor do empregador, num sector afectado por elevada uma escassez de talento. Por outro lado, a regulamentação de IA , particularmente rigorosa neste sector, exigirá trabalhadores cada vez mais capacitados para acompanhar o ritmo acelerado da mudança.

 

2. Envelhecimento da população e escassez de talento
O envelhecimento da população é um dos principais desafios para os sistemas de saúde globais. Este cenário gera uma pressão crescente no setor, fruto da maior procura por cuidados continuados, do aumento das despesas com cuidados de saúde e de uma mudança no impacto das doenças. Apesar da necessidade de uma força de trabalho preparada para responder a estas exigências, o sector da Saúde e Ciências da Vida enfrenta uma escassez de talento acentuada.

De facto, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, a falta de trabalhadores neste sector atingirá os 10 milhões e afectará desproporcionalmente países de rendimentos baixos e médios. Dados do estudo Global Talent Shortage, do ManpowerGroup, corroboram esta informação, com 77% dos empregadores a nível global e 86% em Portugal a afirmarem ter dificuldades em encontrar o talento de que precisam.

Os empregadores do sector devem, assim, priorizar a atração e construção de talento, inovando na formação, contratação e alocação de mais profissionais de saúde, que respondam às necessidades das populações envelhecidas. Além disso, ao apostarem na diversidade e inclusão, e nas skills transferíveis, poderão maximizar as suas bases de talento.

 

3. Resiliência na cadeia de abastecimento
O sector da Saúde e Ciências da Vida tem vindo a reformular as suas cadeias de abastecimento para as tornar mais resilientes face a disrupções. Há uma mudança de abordagem em relação à localização, trazendo a produção de materiais críticos para junto das instalações de fabrico. Uma das iniciativas de relevo, na União Europeia, é a Aliança de Medicamentos Críticos, mediante a qual estão a ser identificados medicamentos vulneráveis a disrupções na cadeia de abastecimentos, e a promover incentivos com vista ao aumento da produção local desses medicamentos. Por outro lado, existe uma crescente aposta deste sector na digitalização, por forma rastrear stocks e consumos, com dados em tempo real, para prever possíveis quebras.

O reshoring e os investimentos na cadeia de abastecimentos médicos serão, assim, um motor para a criação de novos postos de trabalho em muitos países. No entanto, este movimento enfrenta importantes desafios de talento. Não só a crescente complexidade das cadeias de abastecimento exige profissionais capazes de assegurar toda a gestão logística, cumprimento da regulação e relação com fornecedores, como os crescentes esforços de digitalização significam também uma maior procura de competências de análise de dados, tecnologias digitais e optimização das cadeias de abastecimento. Em ambos casos a procura por estas competências é elevada, e alimentadas por diversos sectores. Nesse sentido, o investimento na planificação estratégica do talento e uma análise aprofundada das estratégias de localização serão fundamentais para garantir que as novas instalações têm acesso a uma base de talento local qualificada.

 

4. Foco na experiência do paciente (PX)
O foco na experiência do paciente (PX) começa a remodelar as necessidades globais de talento no sector da Saúde e Ciências da Vida, à medida que os pacientes procuram cuidados mais personalizados, trabalhadores empáticos e acesso contínuo a serviços. A maioria dos líderes empresariais do setor afirmam que melhorar a experiência do paciente é uma prioridade, o que aumenta a necessidade de profissionais capazes de oferecer esses serviços. No entanto, este é um sector onde muitos trabalhadores estão em burnout, com mais de metade (52%) a afirmarem que experienciam diariamente situações de stress no trabalho, segundo dados do ManpowerGroup.

Tendo estes desafios em conta, é essencial que os líderes do sector disponham do talento certo e que o fidelizem, apostando em soft skills que promovam uma cultura mais centrada no paciente, a empatia, a transparência e a colaboração. Por outro lado, a experiência do trabalhador ganha uma crescente relevância, contribuindo de forma decisiva para melhorar a experiência do paciente. Nesse sentido, o investimento para melhorar a gestão do stress dos trabalhadores, torna-se decisivo para a atracção e compromisso do talento, mas também para a melhoria da percepção de serviço dos pacientes.

 

5. Desenvolvimentos nos medicamentos GLP-1  
O mercado para a GLP-1, classe de medicamentos usada para o tratamento de diabetes tipo dois e da obesidade, tem vindo a crescer de forma notável, à medida que estas complicações afetam cada vez mais pessoas globalmente. Actualmente, mais de 2.5 mil milhões de pessoas têm problemas de obesidade, sendo que, nos Estados Unidos, um em cada oito norte-americanos já usou medicamentos GLP-1. Para além destas aplicações, o potencial de futuro desta classe de medicamentos pode ainda ser ampliado, à medida que a investigação e a análise de dados dos pacientes permitem identificar novas aplicações no tratamento de outras doenças.

O desenvolvimento deste mercado vai assim intensificar, assim, a luta por talento qualificado. Serão necessários trabalhadores para alimentar o crescente número de instalações de produção e distribuição destes medicamentos, bem mais profissionais especializados em cuidados relacionados com a perda de peso, capazes de dar uma resposta às necessidades dos pacientes com estas condições.

Ler Mais