Sete conclusões que vão ajudar a compreender o futuro da transformação digital
O primeiro Observatório Internacional dedicado ao estudo e à avaliação do impacto da Inteligência Artificial (IA) na transformação digital das organizações e da sociedade da Quidgest, identifica sete conclusões para compreender o futuro da transformação digital.
São elas:
1. Apesar dos desafios, a IA é tida como uma descoberta positiva e a maior revolução do nosso tempo: Quando questionados sobre o que é a IA, os inquiridos dividiram-se em três grupos de opinião: a maioria (65%) considera a IA uma assistente que facilita a realização de tarefas complexas, melhora a produtividade, a eficiência, complementa e amplia as capacidades humanas. Esta perspetiva reflecte-se em respostas que descrevem a IA como um “meio tecnológico para melhorar a performance humana” ou “uma nova forma de inteligência que não compete, mas complementa a nossa”.
Já 20% vêem a IA como uma verdadeira revolução tecnológica do nosso tempo, comparável à Revolução Industrial ou ao advento da Internet. Aqui, a IA é interpretada como “uma nova era para os seres humanos” e “o próximo grande salto na evolução tecnológica”. Por fim, 16% dos inquiridos apontam os riscos e desafios éticos como uma preocupação significativa no desenvolvimento e na aplicação da IA. O medo da perda de empregos, a violação dos direitos de autor e a necessidade de regulamentação são frequentemente mencionados, com expressões como “A IA pode ser uma ameaça à humanidade se estiver nas mãos erradas” e “a regulação promete ser um grande desafio”.
2. Sistemas obsoletos, conformidade e falta de recursos são os maiores obstáculos na adopção de IA: A integração da IA com sistemas obsoletos (e a dificuldade ou incapacidade de actualização dos mesmos) é um problema mencionado por 24% das empresas, seguido de perto por preocupações com questões éticas, regulatórias e de conformidade (16%). Outro desafio destacado é a falta de recursos de TI e especialização em IA, que afecta 14% das organizações. 13% destacam ainda a resistência à mudança como um desafio significativo, o que sublinha a necessidade de uma cultura organizacional mais flexível e aberta à inovação.
3. ChatGPT é a ferramenta de IA mais utilizada, mas não é a única: 30% dos inquiridos indicam o uso do ChatGPT, seguido do Gemini (14%) e do Copilot (10%). Estas ferramentas, desenvolvidas por três gigantes tecnológicos (OpenAI, Google DeepMind e Microsoft), destacam-se pela capacidade de se integrarem facilmente nos fluxos de trabalho diários e proporcionarem suporte prático tanto para tarefas simples como para processos mais complexos de desenvolvimento e automação.
Contudo, quase metade dos inquiridos (46%) menciona a utilização de outras ferramentas de IA, o que sublinha a diversidade de soluções disponíveis no mercado e a flexibilidade que pessoas e organizações têm na escolha de plataformas que melhor se adaptam às suas necessidades e preferências específicas. Entre as mais citadas incluem-se: MidJourney, TensorFlow, PyTorch, BERT, T5, DeepL, Google Cloud AI, Microsoft Azure AI, IBM Watson, Genio da Quidgest e Synthesia. Estas ferramentas cobrem uma vasta gama de áreas e funcionalidades, desde a criação de conteúdo visual até o tratamento de dados, o desenvolvimento de software ou a tradução automática, entre outras.
4. Investimento na tecnologia portuguesa não acompanha a confiança nela depositada: A maioria dos inquiridos (64%) demonstra confiança na tecnologia desenvolvida em Portugal. Este é um sinal positivo que reflecte a percepção geral de que o sector tecnológico português tem capacidade para criar soluções inovadoras e de qualidade. Mas quando analisamos o orçamento destinado pelas organizações à transformação digital, observamos que 63% dos inquiridos investem entre 0% e 10% do seu orçamento total em soluções ou equipas de desenvolvimento tecnológicas portuguesas. Apenas 2% das organizações afirmam investir mais de 75% do seu orçamento em tecnologia portuguesa. Estes valores poderão reflectir a percepção de que as soluções tecnológicas portuguesas ainda não atingiram um nível de competitividade global suficientemente reconhecido, o que dificulta a sua valorização em comparação com alternativas internacionais.
5. Equipas de TI concentram o conhecimento sobre IA: Dentro das organizações, o conhecimento sobre IA parece estar maioritariamente concentrado nas equipas de TI e transformação digital, de acordo com 44% dos inquiridos. No entanto, 23% dos participantes acreditam que a gestão de topo é quem possui a visão e o conhecimento necessários para guiar essas transformações. Isto sugere que, embora a execução das estratégias tecnológicas esteja nas mãos das equipas de TI, a visão estratégica global para a adopção de IA vem frequentemente da liderança.
Paralelamente, há uma fatia de 15% indecisa sobre quem possui, afinal, o domínio deste tema. Há os que acreditam que “ninguém” dentro da organização possui um conhecimento especializado profundo ou que “não existem especialistas, apenas entusiastas”; os que defendem que a competência se encontra em outros departamentos, como o marketing ou a consultoria de negócios, e ainda os que partilham que este conhecimento se encontra distribuído por todos os colaboradores, “todos sabem um pouco de tudo”.
6. Maioria das organizações não mede (nem sabe como medir) o ROI da transformação digital: 66% das organizações não possuem mecanismos para monitorizar e avaliar o ROI em transformação digital com IA. A ausência destas ferramentas compromete a capacidade de medir o impacto real da IA e dificulta a tomada de decisões informadas sobre investimentos futuros. Este cenário também dificulta a obtenção de perspectivas que poderiam ajudar a guiar e a ajustar continuamente, através de dados monitorizados em tempo real, a estratégia digital de forma mais eficiente e eficaz.
7. Indústria, Educação e Saúde no topo dos ODS mais impactados pela IA: Quando analisamos o impacto da IA nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) identificados pela Organização das Nações Unidas (ONU), a maioria dos inquiridos (20%) identificou Indústria, Inovação e Infraestruturas como a área mais positivamente impactada pelos avanços da IA. Educação de Qualidade (14%) e Saúde de Qualidade (13%) também se destacaram, o que mostra o imenso potencial da IA para transformar estes domínios.
Além de impulsionar a eficiência e a produtividade, a IA posiciona as organizações na vanguarda da responsabilidade social, proporcionando soluções que não só respondem às necessidades de mercado, mas contribuem para um futuro mais justo, transparente e colaborativo. Seja com indivíduos mais informados, com leis mais claras e processos decisórios mais éticos, com maior promoção do respeito pelos recursos do planeta, ou através do fortalecimento da justiça social, a redução das desigualdades ou uma indústria mais inclusiva e sustentável – entre outras ideias que estão na origem da Agenda 2030.