Formação profissional em Sáude está aquém das necessidades
A formação profissional em Saúde em Portugal ainda fica aquém das necessidades. Quem o diz é a CEO da Health UP, Margarete Cardoso, que salienta «nem sempre é feita tendo em conta as reais necessidades dos profissionais de Saúde no seu dia a dia». Por isso, Margarete Cardoso, defende que «é importante rever a formação profissional contínua em Portugal e apostar em modelos que vão ao encontro do que é realmente necessário».
O mais recente relatório do Centro Europeu para o Desenvolvimento da Formação Profissional (CEDEFOP), admite que a aprendizagem ao longo da vida para adultos continua a ser um desafio não só em Portugal, mas em todos os Estados-membros.
Segundo os dados deste organismo europeu, referentes ao ano de 2022, em Portugal, quatro em cada 10 portugueses participou numa oferta de educação ou qualificação. E mesmo ao nível da melhoria das competências digitais dos adultos, segundo a mesma fonte, os dados não eram muito mais animadores, apenas cinco em cada 10 portugueses participou em acções de formação nesta área.
Margarete Cardoso ressalta que, embora muitas instituições de saúde em Portugal reconheçam a necessidade de investir na formação contínua, ainda há desafios a superar. «Nem todas as instituições vão além da formação obrigatória», afirma a consultora e formadora na área dos recursos humanos de Saúde. «É crucial que as formações sejam específicas e adaptadas às necessidades dos profissionais de saúde».
Adicionalmente, salienta a CEO da Health UP, muitos profissionais de saúde sentem que, ao concluir o curso, «já conquistaram o conhecimento necessário para a vida toda». O que, salienta, num mundo em constante evolução como é o da Saúde, é um erro.
O desenvolvimento científico e tecnológico implica uma necessidade de atualização constante por parte dos prestadores de cuidados de saúde. Contudo, estando os profissionais de saúde sujeitos a vários tipos de pressão relacionados com a responsabilidade, a sobrecarga de trabalho, o excesso de procedimentos burocráticos e a falta de reconhecimento e valorização profissional, há o risco de subestimarem a formação.
A ausência de políticas e práticas institucionais que incentivem a formação continuada é outro dos fatores a ter em conta. «A falta de envolvimento das lideranças pode diminuir a motivação dos profissionais», explica Margarete Cardoso. Que garante que é necessário mudar o paradigma da formação profissional na Saúde, de modo a assegura que existem «formações específicas para as necessidades dos profissionais».
Por isso, frisa, é fundamental «promover uma cultura organizacional que incentive e valorize o desenvolvimento profissional». Margarete Cardoso ressalva que «a liderança deve encarar a formação como um investimento estratégico e não como um custo».
Para tal, é necessário criar um ambiente que valorize a aprendizagem contínua, de modo a motivar os profissionais a aderirem a programas de formação. «Avaliar o impacto da formação na prática diária, nos resultados em pacientes, e no desempenho institucional também pode reforçar a importância do desenvolvimento contínuo», assevera.
As instituições de saúde e os governos desempenham um papel crucial na promoção da formação contínua, a qual é fundamental para garantir a qualidade dos cuidados prestados. Como destaca Margarete Cardoso, «a liderança deve ver a formação como uma parte essencial da estratégia institucional, pois ela tem um impacto direto na segurança dos pacientes e na capacidade de resposta das instituições».
Se mudarmos este paradigma, salienta, «iremos ter profissionais de Saúde dotados de mais e melhores competências, mais motivados» e preparados para enfrentar os desafios do dia a dia.
Motivo pelo qual, ressalva, «é fundamental que a formação contínua profissional passe a ser vista como um investimento que as instituições de Saúde fazem, não só nos seus profissionais, como também na melhoria e modernização dos serviços prestados aos utentes».