Como ser feliz no trabalho?

Está encontrada a fórmula para a felicidade, segundo Mo Gawdat, ex-líder da Google [X]. Mas como se aplica esta equação aos locais de trabalho?

Por Paulo Mendonça

 

Apesar de rico, bem-sucedido profissionalmente e casado com a mulher da sua vida, Mo Gawdat começou a estudar o tema da felicidade em 2001 e desenvolveu uma fórmula que revelou no livro “A Equação Para a Felicidade”, escrito em 2010, 17 dias depois de uma acontecimento trágico: a morte do seu filho, Ali.

Desde o lançamento do livro, já editado em 25 países, incluindo Portugal (Lua de Papel), têm vindo a multiplicar-se as reacções positivas, bem como o alcance do movimento #onebillionhappy, uma campanha online com o objectivo de tornar felizes mil milhões de pessoas. Como ser feliz? Mo Gawdat responde à Human Resources Portugal.

Como surgiu a ideia de desenvolver uma equação para a felicidade?

Tal como a maioria das pessoas, eu não era feliz e resolvi começar a investigar este tema a partir de um ponto de vista que fosse capaz de compreender. Os livros sobre felicidade tendem a centrar-se na espiritualidade e, como engenheiro, tinha dificuldade em entender esse tipo de abordagem. Por este motivo, comecei a comparar a felicidade com uma máquina que, a determinada altura, deixa de funcionar. E quando se adopta esta abordagem, temos de pensar em termos de engenharia e tentar dar respostas às perguntas que um engenheiro faz perante uma avaria. Em que momento a máquina deixou de funcionar? Como funcionava quando estava em perfeitas condições?

Ao tentar identificar quando comecei a sentir-me infeliz, percebi que era feliz aos 23 anos, no início da idade adulta, aos 16, em plena adolescência, aos 8, na infância… Recuando ainda mais e de forma muito interessante, percebi que era feliz aos zero anos. Ou seja, o ser humano é feliz na sua origem. A felicidade é um estado de “predefinição” para o Homem. Todos somos felizes “por defeito”.

Um bebé não precisa de nada do seu ambiente exterior para ser feliz, desde que as suas necessidades básicas sejam satisfeitas. Se não sentir fome, sede, frio ou dor, por exemplo, o bebé é feliz. Faz parte da sua maneira de ser. Mas depois cresce e começa a ouvir dizer que tem de ser bem sucedido na vida, que tem de ganhar muito dinheiro, que tem de ter um determinado tipo de corpo… E ao começar a acreditar em tudo isto, deixa de ser feliz.

Numa segunda abordagem, e voltando ao exemplo do bebé, observei que a sua felicidade não depende de factores externos e assim se mantém até que tenha fome, por exemplo, ou seja, até que uma necessidade primária deixe de estar satisfeita. Quando isso acontece, alimentamos o bebé e ele volta ao seu estado original de felicidade. Isto alertou-me para uma coisa muito simples, mas surpreendente: felicidade não é mais do que a ausência de infelicidade. Não precisamos de artigos de blogues para nos darem listas de 10 coisas que temos de fazer para sermos felizes. Temos de fazer apenas uma: deixar de ser infelizes. O que resta depois disso é a felicidade que existe em nós como “predefinição”.

Passamos muitas horas do nosso dia no emprego e por isso a felicidade é importante no local de trabalho. Como podem os departamentos de Recursos Humanos aplicar esta fórmula as suas equipas?

A equação é a mesma. O trabalho faz parte da vida. Fazer distinção entre o trabalho e a vida pessoal não é mais do que uma forma dos nossos empregadores tentarem convencer-nos de que se importam connosco. É preciso perceber em todos os momentos que a felicidade é um estado predefinido do ser humano e, como tal, ninguém além de nós nos pode fazer felizes. Muito menos o chefe!

As pessoas têm de ser felizes no local de trabalho ou não o serão no resto do dia. E ser feliz é uma escolha. Se alguém não consegue ser feliz no local de trabalho, tem de procurar um novo. Pura e simplesmente. Todos sabemos que encontrar emprego não é fácil, mas isso não é razão para não o procurar. Pode demorar um ano, dois, três. Mas se a pessoa estiver motivada para ser feliz, vai transmitir esse sentimento para os recrutadores e, juntando um pouco de sorte, vai conseguir. O importante é que dê prioridade à sua felicidade e procure um emprego que a faça feliz.

 

A felicidade dos colaboradores é a decisão mais inteligente porque uma empresa feliz consegue contratar e reter o talento por muito mais tempo.

 

Esse é o lado do indivíduo. E as empresas? Não têm de investir na felicidade dos seus colaboradores?

É claro que sim. Olhemos para o meu exemplo. Trabalhei 11 anos na Google. Quem é que acredita que fazemos as pessoas felizes a trabalhar na Google apenas por sermos todos tão “bons rapazes”? A felicidade dos colaboradores é a decisão corporativa mais inteligente de sempre porque uma empresa feliz consegue contratar os melhores profissionais do mundo e reter o talento por muito mais tempo. E tudo corre melhor numa empresa quando as pessoas são felizes. Para uma empresa, investir em felicidade é tão importante como delinear uma estratégia.

Muitas empresas não percebem isto e há um dia em que os melhores colaboradores desaparecem porque começam a perceber que não faz qualquer sentido passarem oito horas por dia num sítio a se arrepender de terem saído da cama.

 

Algumas empresas têm nos seus quadros a função de gestor de felicidade. Isto faz sentido?

Faz sentido se for levado a sério e muitas vezes não é. Muitas vezes as pessoas nesse tipo de funções vêm do mundo da meditação e do mindfullness e tem pouco a ver com felicidade. Para se ser feliz no local de trabalho é preciso entender que o controlo é uma ilusão e basicamente entender a equação da felicidade: acontecimentos menos expectativas. Se um gestor de felicidade souber o que está a fazer, for empenhado e der os passos certos para conseguir um ambiente na empresa favorável a que as pessoas encontrem a sua felicidade, muito bem. Se for para organizar eventos e meditações, não serve para nada.

 

Leia a entrevista na íntegra na edição de Junho da Human Resources Portugal.

 

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