Alexandre Rosa, Noesis: «Num sector competitivo como o tecnológico, as pessoas são o grande diferencial e factor crítico.»

Numa realidade em que a inovação tecnológica acontece num abrir e fechar de olhos, Alexandre Rosa, CEO da Noesis, reconhece que a escassez de talento na área de TI é um entrave na jornada de transformação das organizações, e o grande desafio para os próximos anos será a capacidade de formar recursos capazes de responder às exigências dos novos tempos.

Por Tânia Reis

 

Fundada em Portugal há quase 30 anos, a tecnológica Noesis conta, actualmente, com um volume de negócio superior a 55M€, e 1000 colaboradores espalhados por seis países: Portugal, Espanha, Irlanda, Países Baixos, Brasil e Estados Unidos. Alexandre Rosa, CEO da Noesis, recorda esse percurso de crescimento e aponta os grandes desafios e oportunidades no sector tecnológico, de hoje e do amanhã.

 

Com quase 30 décadas de história, como descreve o percurso da Noesis? Que balanço faz?

Em quase 30 anos de actividade, passámos por muitas “revoluções” tecnológicas e fomos parte integrante deste movimento, entusiasmante, de inovação e de transformação das empresas e dos negócios. Desde 2020, fazemos parte de um grupo internacional, Altia, cotado na bolsa espanhola, e que nos veio trazer maior robustez e penetração internacional.

É um percurso significativo e que nos enche de orgulho. Hoje somos um player muito relevante no sector do IT, e temos um portefólio de oferta amplo e capaz de apoiar as organizações nas suas jornadas de transformação digital, bem como em todas as suas necessidades tecnológicas. Desenvolvemos projectos muito relevantes para algumas das maiores empresas e marcas a nível Europeu e Mundial.

 

Como caracteriza a cultura da empresa?

Apesar do forte crescimento e internacionalização que temos registado nos últimos anos, somos uma empresa próxima das pessoas, com uma cultura aberta, acessível e de transparência perante todos os colaboradores.

Somos reconhecidos como uma das melhores empresas para trabalhar em Portugal e também na Europa, tendo sido distinguidos em 2022 com o 2º lugar no Best Workplaces Portugal e 7º lugar no Best Workplace Europe. Já no inquérito referente a este ano, obtivemos, novamente, um excelente resultado, com 90% dos nossos colaboradores a afirmarem que a Noesis é uma excelente empresa para trabalhar. Este reconhecimento atesta a nossa preocupação com as nossas pessoas e o caminho que temos vindo a fazer ao longo dos anos de valorização dos nossos talentos.

 

Sendo especialistas em inovação tecnológica, que mudanças relevantes observaram nos últimos anos?

A transformação digital é um conceito de que já se fala há muito tempo e que tem evoluído, à medida que a tecnologia avança também. Diria que, especialmente na última década e com particular destaque para os últimos cinco anos, o conceito de transformação digital evoluiu para aceleração digital. Pois, de facto, foram anos de forte aceleração, em que as empresas se viram confrontadas com a obrigatoriedade de acompanhar o ritmo da inovação e da digitalização dos seus negócios, processos, etc. Actualmente o grande hype está na Inteligência Artificial, que é e será um grande aliado para as organizações, mas também os temas da automatização, da cloud, cibersegurança, do desenvolvimento low-code, entre outros, são algumas das principais tendências de inovação tecnológica na actualidade.

 

E em termos de pessoas, como tem sido a evolução?

Diria que o mercado de trabalho acompanhou esta aceleração digital. O mercado de hoje é significativamente diferente do mercado de há 10 ou 20 anos. Desde logo porque a geração que agora entra no mercado de trabalho é uma geração nativa digital, que convive com a tecnologia desde sempre e, como tal, está mais preparada para os desafios da digitalização e da transformação digital. É também uma geração que promove mudança e que espoleta inovação, no seio das organizações.

Actualmente, a força de trabalho no IT é altamente qualificada e especializada. Com a panóplia de tecnologias que surgem todos os dias, e com ecossistemas IT cada vez mais complexos, é necessária essa especialização e qualificação, em especial em tecnologias específicas.

No entanto, regista-se que estes recursos são escassos, não sendo por acaso que se fala na escassez de talento no IT, que é um sector de pleno emprego, como sabemos. Esta escassez de talento é global e um entrave a uma mais rápida evolução das organizações, nas suas jornadas de transformação. Esse é o grande desafio das organizações, das sociedades e dos governos, para os próximos anos, sermos capazes de formar recursos capazes de responder às exigências dos novos tempos.

 

Quantas pessoas integram actualmente e quais os principais desafios na sua gestão?

Actualmente já superámos a barreira dos 1000 colaboradores, maioritariamente sediados em Portugal, espalhados pelos nossos escritórios em Lisboa, Porto, Coimbra, Proença-a-Nova, Covilhã e Guarda, mas também presentes nas restantes geografias onde actuamos.

Uma estrutura com esta dimensão acrescenta novos desafios na sua gestão. Desde logo o desafio decorrente da nossa aposta na internacionalização. Temos cada vez mais recursos deslocalizados em diferentes países, mas também cada vez mais colaboradores locais, nos Países onde estamos e uma maior diversidade de nacionalidades – Portugueses, Espanhóis, Brasileiros, Holandeses, Norte-Americanos, entre outras – na nossa organização.

Esta realidade obriga-nos a estar atentos e a sermos capazes de acomodar esta diversidade cultural no seio da organização, para além de outras questões mais “básicas” como o idioma ou a comunicação. Sabemos que a diversidade nas organizações acrescenta muito valor e a Noesis é disso um exemplo real.

Por outro lado, o crescimento da estrutura, que para além da dispersão geográfica se encontra dividida em nove áreas de negócio/oferta, ou seja, em diferentes áreas de especialização, obriga também à necessidade de termos patamares de liderança intermédia cada vez mais fortes.

Por estes motivos, a Noesis aposta fortemente na componente da formação, não apenas técnica, mas sobretudo de soft-skills. Temos um programa em curso de formação de liderança e gestão de equipas, que abrange centenas dos nossos colaboradores e a totalidade dos que ocupam posições de liderança – deste o Team lead, passando pelo gestor de Projecto, managers, até ao nível de direcção e board. Apostamos também fortemente na formação em idiomas – Espanhol e Inglês, sobretudo, e nas formações comportamentais.

Finalmente, o grande desafio passa por conseguirmos manter a nossa identidade e o nosso ADN: uma gestão próxima e transparente. Ter uma estrutura de mais de um milhar de colaboradores, dispersos por diferentes pontos no globo, é muito diferente de ter uma equipa com 200 colaboradores em Lisboa… já passámos por essa fase, hoje já não é possível conhecermos todos os colegas pessoalmente, mas, ainda assim, é necessário trabalhar diariamente para manter este ADN de proximidade e colaboração entre todos, bem como o reforço de uma cultura pouco verticalizada e hierarquizada.

 

Que prioridades assumem na estratégia de Gestão de Pessoas?

Na Noesis, a nossa motivação é a de colocar as pessoas no centro da organização. Dar voz aos nossos colaboradores e envolvê-los nos processos de decisão. Acreditamos que esta visão promove uma cultura de confiança, onde todos sabem o nosso propósito e a estratégia da empresa. Procuramos, assim, promover uma cultura de transparência, que é, para mim, um ponto-chave na nossa gestão.

Anualmente desenvolvemos um plano de employer branding, tal como definimos planos estratégicos, o nosso business plan ou o plano de Marketing. Um plano que tem objectivos, iniciativas concretas e um budget definido e aprovado. Nesta área, actuamos em duas vertentes, por um lado, a retenção e motivação dos nossos talentos e, por outro lado, o tema da atracção de talento e de posicionamento da nossa marca no mercado, como um player relevante no nosso sector e uma boa empresa para trabalhar.

No plano interno, e, portanto, na área da retenção de talento, olhamos para várias vertentes, que vão desde o processo de onboarding do colaborador, acompanhamento, formação, plano de carreira e progressão profissional, até a acções menos estruturantes, mas igualmente importantes, como temas de team building, reconhecimento das nossas pessoas e responsabilidade social.

 

Qual o “perfil-tipo” (género, idade, formação, etc.) do colaborador Noesis?

Os dados relativos a Fevereiro de 2023, reportam, actualmente, 1083 colaboradores, dos quais cerca de 30% são mulheres. O IT continua a ser um mundo maioritariamente masculino, embora se note a presença de cada vez mais mulheres. Aliás, na Noesis promovemos todos os anos um conjunto de iniciativas junto da comunidade académica com vista a promover as disciplinas/carreiras STEM junto das jovens estudantes, para além de apoiarmos associações como a Girls in Tech e a Women in Tech.

Por outro lado, a nossa idade média é de 36,1 anos, o que significa que somos uma equipa relativamente jovem, embora com uma boa estrutura de profissionais seniores e experientes, o que é determinante para a qualidade dos serviços que prestamos, especialmente nestas áreas do IT.

As nossas equipas são altamente qualificadas, mais de 75% têm formação académica (licenciatura, mestrado, doutoramento) para além da forte aposta que fazemos nas formações técnicas e certificações específicas e mais de 90% são efectivos na empresa.

 

Quais as competências/características que mais valorizam nas vossas pessoas?

Dado que a área em que actuamos é eminentemente técnica, valorizamos, naturalmente, as competências técnicas dos nossos recursos, bem como dos candidatos que pretendemos recrutar. Procuramos ter os melhores especialistas nas tecnologias e áreas em que actuamos, da cloud à cibersegurança, do desenvolvimento de software à Inteligência Artificial, da automação à qualidade. Actuamos num sector muito competitivo, onde as pessoas são o grande diferencial e factor crítico para assegurar que prestamos serviços com qualidade. A qualidade da nossa entrega é o factor-chave para o sucesso do negócio, como tal, as pessoas estão e têm de estar no centro das nossas preocupações. Valorizamos bons profissionais, em resumo, com as competências técnicas necessárias, mas também com outras características não menos importantes, nomeadamente, o alinhamento com a cultura da empresa, capacidade de adaptação e versatilidade, curiosidade e motivação para aprender e evoluir.

 

Desde a pandemia, o paradigma do mundo do trabalho mudou. Que modelo têm implementado actualmente?

Seguimos as tendências e promovemos um modelo de elevada flexibilidade e de trabalho híbrido. Privilegiamos um modelo em que são as próprias equipas que definem qual o regime mais adequado, dependendo da sua especificidade, área de trabalho, função, projecto, cliente, etc. Há, no entanto, uma directriz geral, extensível a toda a organização, de adopção de um modelo híbrido que contemple a presença, pelo menos dois dias por semana, no escritório.

Uma das principais características da Noesis, que é reconhecida pelos nossos talentos nos inquéritos do Best Place to Work, por exemplo, é o da preocupação de promovermos o work-life balance. Nesse sentido, a adopção de um modelo híbrido e flexível, ajuda-nos a cumprir esse objectivo.

 

Que desafios e oportunidades apresenta esse modelo?

O modelo de trabalho remoto veio acrescentar inúmeras vantagens para colaboradores e organizações, conferindo-lhes maior agilidade, flexibilidade e, em muitos casos, com aumentos de produtividade, conforme já identificado por vários estudos nesta matéria. Também ao nível do recrutamento, permitiu às organizações alargar o scope de influência.

Ao mesmo tempo, se as vantagens são evidentes, é também cada vez mais claro que veio acrescentar novos desafios em diversos níveis, tais como, o nível de engagement dos colaboradores com a organização, liderança das equipas, trabalho colaborativo ou até mesmo em aspectos relacionados com criatividade e/ou inovação. É hoje evidente que estas componentes saem prejudicadas num modelo 100% remoto. Também por isso, na Noesis (e diria que na generalidade das organizações), a adopção do modelo híbrido tem a ambição de “juntar o melhor dos dois mundos” e acredito que será esse, cada vez mais, o caminho de futuro.

 

E que outras iniciativas desenvolvem para envolver e “fidelizar” as vossas pessoas?

Posso dar dois exemplos concretos. Lançámos, durante a pandemia, uma iniciativa que chamámos de “Come ON Board”. Um evento online, recorrente, no qual a administração e a nossa equipa de gestão partilham, com todos os colaboradores, as principais novidades, factos relevantes, iniciativas em curso, resultados financeiros, entre outras informações que se considera relevante partilhar com a organização.

A participação é aberta a todos e qualquer colaborador se pode juntar à transmissão, assistir, mas também interagir e colocar questões diretamente ao nosso board. Esta iniciativa permite-nos estar mais próximos de todos e, ao mesmo tempo, recolher insights e sugestões que nos permitem implementar soluções para o futuro ou avaliar o impacto das decisões que são tomadas.

Por outro lado, o nosso compromisso com esta cultura centrada nas pessoas pressupõe também a promoção de conhecimento e o desenvolvimento das competências dos nossos talentos, quer nas vertentes técnicas, quer nas comportamentais.

Do ponto de vista das competências técnicas, há vários anos que apostamos numa política de certificação dos nossos profissionais, nas diferentes áreas em que actuamos. Queremos ter equipas de especialistas e que estes sejam certificados pelas próprias tecnologias com que trabalhamos. Do ponto de vista das soft-skills temos um programa de formação interno – Noesis Academy, e disponibilizamos ferramentas como o Udemy, para os nossos colaboradores.

 

Dos benefícios disponibilizados quais são os mais apreciados?

Procuramos que o conjunto de benefícios que proporcionamos aos nossos colaboradores seja o mais transversal possível e cubra diferentes áreas, dada a heterogeneidade dos nossos quadros. Esse mix é composto por condições que fazem parte do package, tais como condições financeiras, prémios, seguros, benefícios flexíveis, etc e também por outro tipo de benefícios extrassalariais, como programas de bem-estar e wellness nos escritórios, planos de formação e acesso à ferramenta Udemy.

É difícil apontar o que é mais apreciado, pois depende de cada colaborador e, inclusive, do momento de vida em que se encontra, mas temos recolhido feedback positivo, por exemplo, sobre a excelente cobertura do seguro de saúde, que é universal e oferecido a todos os nossos colaboradores, ou pelo facto de pagarmos um abono adicional por cada filho, ou ainda do programa de medicina no escritório, que permite que qualquer colaborador possa ter uma consulta medica gratuita no nosso gabinete médico ou solicitar a prescrição de receitas médicas por email, até aos benefícios mais “simples”, como o facto de oferecermos um kit de produtos para o bebé a todos os nossos colaboradores, quando são pais/mães ou o dia de férias que oferecemos a todos os colaboradores, no seu aniversário.

 

Que objectivos pretendem alcançar no futuro mais próximo?

Actualmente estamos em plena execução do nosso plano estratégico 2020-2023 e com excelentes resultados até ao momento. Em 2022 atingimos todos os objectivos delineados, que ao nível do crescimento do negócio, resultados financeiros, expansão internacional e retenção de talento. Os resultados de 2022 ainda não estão oficialmente fechados e comunicados (por sermos parte de um grupo cotado em Bolsa), mas podemos revelar que registámos um crescimento do nosso volume de negócios na ordem dos 12%, face a 2021, tendo superado o objectivo definido. Também ao nível da nossa “pegada” internacional, o volume de negócios nos mercados internacionais representa actualmente perto de 40% do volume total de negócio, objectivo que se pretende atingir em 2023.

Simultaneamente, estamos já a preparar a estratégia para 2024-2027, num plano que se manterá ambicioso com objectivos de crescimento do volume de negócio a dois dígitos e de reforço da operação em todos os mercados em que operamos.

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