André Marques da Silva, GMS: Proporcionar um ambiente para que «cada colaborador sinta que faz parte de algo maior»

A elevada concorrência nas áreas mais técnicas e tecnológicas, torna o recrutamento um desafio constante. Para ultrapassar esta dificuldade, o segredo passa por investir em programas de formação interna e desenvolvimento pessoal, e promover uma cultura de reconhecimento e bem-estar. Para André Marques da Silva, CEO do Grupo Marques da Silva (GMS), mais do que um bom salário, são essas as condições que fazem a diferença na hora de atrair os melhores talentos.

Por Tânia Reis

 

Desde a primeira loja em 2011 até hoje, o grupo já soma 12 lojas Apple, cinco Bang & Olufsen e uma equipa de 150 colaboradores. A crise económica que assolava o país constituiu momentos de oportunidade: concentraram-se no serviço de excelência, produtos diferenciadores e apostaram na formação contínua das equipas para garantir um atendimento de alta qualidade. Isso permitiu-lhes construir uma relação de confiança com os clientes enquanto representantes oficiais das duas reputadas marcas.

A sua viagem com a Apple começou em 2010. O que o levou a apostar na marca da “maçã”?

Tudo começou com um telefonema do meu pai que tinha acabado de sair de uma loja da Apple em Nova Iorque e me desafiou a tirar as mesmas conclusões, algo que fiz e onde constatei que a experiência de compra era algo único: simples, intuitiva e centrada no cliente. Na altura tratava-se de uma forma verdadeiramente inovadora de pensar o consumo. Percebi imediatamente o potencial de trazer essa mesma experiência para Portugal.

Se a GMS Store queria ser sinónimo de inovação e qualidade, tínhamos de adoptar a mesma forma de pensar o cliente e incorporar a mesma filosofia nas nossas lojas. Foi o que fizemos. Uma loja onde os produtos que surpreendem e encantam os consumidores definem um estilo de vida que fomenta criatividade, eficiência e uma ligação emocional com os seus utilizadores.

Considerando que Portugal entrava numa das suas maiores crises, que desafios encontrou? Como os enfrentou?

Foi, sem dúvida, um período muito complicado, mas também profundamente desafiador e de onde saíram coisas boas. O nascimento da GMS Store decorre dessa crise de 2010, quando o mercado automóvel caiu 70%, e o grupo diversificou para a tecnologia.

Abrimos a primeira loja em 2011 e crescemos desde esse momento, contando a nossa equipa com 150 pessoas, com 12 lojas Apple – a 12.ª abriu no final de Novembro, em Sintra – e cinco B&O.

A crise também são momentos de oportunidade: a verdade é que hoje não seríamos o mesmo grupo se não tivéssemos entrado no sector da Tecnologia. O poder de compra dos consumidores estava em queda e o mercado era extremamente imprevisível, mas a nossa resposta foi focarmo-nos naquilo que podíamos controlar: um serviço de excelência e produtos que realmente fizessem a diferença. Apostámos na formação contínua das equipas para garantir um atendimento de alta qualidade, o que nos permitiu construir relações de confiança com os clientes. Paralelamente, adoptámos uma gestão financeira muito cautelosa, optimizando custos e assegurando a sustentabilidade do negócio. A nossa resiliência e capacidade de adaptação foram fundamentais para não só resistir, mas também crescer num período tão desafiante.

O que mudou desde então? Que principais mudanças destaca no mercado do sector tecnológico em Portugal?

O mercado tecnológico em Portugal transformou-se completamente. Assistimos a uma adopção massiva de novas tecnologias, como a Inteligência Artificial, o 5G e a Internet das Coisas (IoT), que mudaram a forma como vivemos e trabalhamos. Também notamos um aumento na procura por produtos recondicionados, impulsionado pela crescente preocupação ambiental dos consumidores. A pandemia acelerou ainda mais a digitalização de muitos sectores, trazendo desafios, mas também oportunidades para empresas inovadoras.

Actualmente, temos um mercado mais maduro, com consumidores mais informados e exigentes, que procuram não só produtos de qualidade, mas também um excelente serviço de apoio. Adaptarmo-nos a este novo paradigma tem sido crucial para o nosso sucesso.

Hoje, a GMS tem mais de uma dezena lojas de norte a sul do país, centros de assistência autorizados Apple e cerca de 150 colaboradores. De que forma tem a reputação da Apple contribuído para este percurso?

A reputação da Apple foi essencial no nosso percurso. A marca atrai naturalmente clientes que procuram inovação e qualidade, o que nos dá uma base muito forte para crescer. Ser um revendedor premium permite-nos não só oferecer produtos de excelência, mas também uma experiência diferenciada e um serviço de alta qualidade.

Esta confiança na marca reflecte-se na lealdade dos nossos clientes e dá-nos a oportunidade de estar na vanguarda da tecnologia, garantindo que continuamos a surpreender e a satisfazer as expectativas de quem nos procura.

Há realmente escassez de talentos em Portugal? Sentem dificuldades em recrutar?

Sim, há uma falta de talentos em áreas específicas, sobretudo nas mais técnicas e tecnológicas. A concorrência é muito elevada, o que torna o recrutamento um desafio constante. Para ultrapassar esta dificuldade, investimos em programas de formação interna e desenvolvimento pessoal, procurando preparar as nossas equipas e atrair profissionais com potencial. Além disso, esforçamo-nos por criar um ambiente de trabalho onde as pessoas se sintam valorizadas e tenham oportunidades reais de crescer. Acreditamos que, mais do que um bom salário, são estas condições que fazem a diferença na hora de atrair os melhores talentos.

E reter?

Reter os talentos é igualmente desafiante. A nossa estratégia passa por oferecer oportunidades contínuas de crescimento e aprendizagem, promovendo uma cultura de reconhecimento e bem-estar. Fazemos questão de proporcionar um ambiente de trabalho positivo e colaborativo, onde cada colaborador sinta que faz parte de algo maior.

Programas de recompensas, iniciativas de equilíbrio entre a vida pessoal e profissional e um foco na valorização do esforço individual têm sido pilares do nosso sucesso em manter uma equipa motivada e dedicada.

Apesar de ser considerada a marca mais valiosa do Mundo, segundo o ranking Best Global Brands, o valor da Apple sofreu uma queda de 3% em relação ao ano passado. Crê que tal irá reflectir-se no mercado português?

A Apple é uma marca com uma base de clientes extremamente leal, que continua a valorizar a inovação, a qualidade e a experiência de utilização dos seus produtos. Flutuações como esta não afectam a confiança dos consumidores. Do nosso lado, continuaremos focados em oferecer um serviço de excelência e uma experiência diferenciada, o que garante a continuidade do nosso crescimento.

Com os avanços tecnológicos, nomeadamente da Inteligência Artificial, a seu ver, como será o futuro?

A Inteligência Artificial já está a transformar o mundo e, no futuro, será ainda mais central na nossa vida. Prevemos uma maior integração da IA, desde experiências de compra altamente personalizadas até à automação de tarefas quotidianas. Áreas como saúde, educação e finanças serão profundamente revolucionadas, com soluções mais eficientes e adaptadas às necessidades de cada um.

Contudo, é fundamental que este avanço seja acompanhado por uma reflexão ética e por regulamentações adequadas, para que os benefícios sejam amplamente partilhados e os riscos devidamente controlados. O futuro promete ser desafiante, mas também repleto de oportunidades incríveis.

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