António Marto, Bolsa de Empregabilidade: «O salário já não é o factor mais valorizado pelos candidatos»
No próximo dia 29 de Março estará no Porto, entretanto, a Bolsa de Empregabilidade levou pela primeira vez a Feira de Emprego à zona sul. A missão é tornar o emprego no turismo mais acessível e a edição deste ano traz novidades, mas António Marto, fundador da Bolsa e Presidente do Fórum Turismo, alerta que, para reconquistar os “profissionais perdidos”, as empresas turísticas terão de acompanhar as novas tendências da Gestão de Pessoas.
Por Tânia Reis
Vilamoura, Lisboa e Porto foram as cidades escolhidas para mais uma edição da Feira de Emprego do sector do turismo. Para António Marto, é importante estarem onde fazem a diferença e são precisos, por isso, apoia a descentralização do emprego no sector para outras regiões, onde existem empresas e candidatos com necessidades específicas a quem pretendem dar resposta. O objectivo é continuar a expandir o projecto para mais regiões nacionais e, porventura, internacionais.
Em que consiste a Bolsa de Empregabilidade e que novidades apresentam este ano?
O projecto da Bolsa de Empregabilidade consiste em juntar empresas que procuram novos colaboradores a candidatos que procuram oportunidades de emprego no sector. Para este ano, preparámos várias novidades: expandimos as feiras de emprego para o Algarve; em Lisboa, ampliámos a feira para um espaço autónomo na Sala Tejo do Altice Arena; e, lançámos a nossa plataforma de recrutamento online, onde garantimos o acesso a oportunidades em Turismo e Hospitalidade durante todo o ano.
Que balanço faz das duas feiras que já decorreram, em Vilamoura e Lisboa?
O balanço é bastante positivo. Apesar de nos termos estreado este ano no Algarve, contámos com mais de 50 empresas e 800 candidatos inscritos, entre os quais alunos de escolas superiores e profissionais da região do Algarve (aproximadamente 66%) e profissionais portugueses e estrangeiros (num valor a rondar os 34%). Em Lisboa, mais de 90 empresas estiveram presentes com o objectivo de contratar, e cerca de 4500 candidatos visitaram a feira à procura de oportunidades, com o mesmo perfil do Algarve, no entanto, em maior escala.
Que expectativas têm em relação à que vai acontecer na zona Norte?
As expectativas são boas, uma vez que no primeiro ano tivemos 50 empresas e cerca de 1000 candidatos. Este ano acreditamos que vamos superar estes números. Contamos já com 57 empresas inscritas para contratar e também superámos o número de inscritos face ao ano passado.
No entanto, os números não são o nosso único foco. Estamos a desenvolver esforços no sentido de criar um espaço de qualidade, onde não faltem oportunidades relevantes e no qual os candidatos presentes possam sentir que são cruciais em todo o processo. Tendo em vista isso, uma das iniciativas que dinamizamos nos eventos são as Fórum Talks, que, através de curtas intervenções, pretendem ser, para o candidato, um espaço de conhecimento do sector e de angariação de ferramentas que pode aplicar na sua vida activa.
Olhando para as edições anteriores, observou diferenças significativas?
Sim, não só a nível de números, como também no impacto da Bolsa junto de um público mais vasto. Queremos chegar a um público heterogéneo, que abranja, desde o estudante, ao profissional experiente que procura uma nova oportunidade.
Dentro do sector do Turismo que áreas estão a ter mais destaque? Que razões aponta para tal?
Há mais procura para as áreas de Hotelaria, Restauração, Recursos Humanos, Animação Turística, Operadores Turísticos e Gestão. Estas áreas apresentam geralmente sempre um maior volume de pessoas nas suas estruturas, especialmente agora, com a recuperação rápida que se tem verificado no sector após a quebra na pandemia. No entanto, também existem oportunidades em áreas digitais, como é o caso do Marketing, Design e Comunicação.
Quais são os perfis mais procurados e requisitos mais pretendidos pelos recrutadores?
Procuram-se sobretudo perfis nas profissões base de f&b, cozinha e hotelaria.
E quais as expectativas dos candidatos “visitantes” relativamente às empresas?
Acima de tudo, têm a expectativa de fazer o match das oportunidades que procuram com o que as empresas estão a oferecer. Além disso, notamos uma crescente preocupação com as condições que as empresas podem oferecer nas mais diversas variáveis, não necessariamente a nível financeiro, mas também considerando horários e turnos mais flexíveis, bem como um ambiente considerado saudável.
O salário continua a estar no topo dos mais valorizados pelos candidatos ou valorizam outros temas?
Como referi, o salário já não é o único factor a ser considerado. Os candidatos valorizam cada vez mais a flexibilidade de horário que lhes permita conciliar a sua vida profissional com a pessoal e familiar. Procuram ainda um ambiente saudável nas estruturas, onde possam crescer e desenvolver-se ao nível da sua carreira.
A que estratégias estão a recorrer as empresas para atrair os melhores talentos?
As empresas estão a investir em remunerações mais competitivas, na oferta de formação e de oportunidades de progressão nas carreiras e de crescimento dos colaboradores nas empresas. Também em employer branding, de modo a reformular a imagem do sector para um mercado laboral mais atractivo.
Que outras iniciativas pretendem desenvolver durante este ano?
Estamos a negociar a possibilidade de expandir a Bolsa para outras regiões, inclusivamente, fazê-las chegar às ilhas e até a outros países. Já organizámos a Bolsa de Empregabilidade em 2022 e 2023 no Brasil e estamos atentos, não só a esse, como a outros mercados internacionais.
No panorama actual, como vê o mercado de trabalho? Acha que o sector do Turismo enfrenta uma escassez de talento?
A falta de pessoas é um dos temas em destaque no sector, actualmente. No Verão passado, a anterior Secretária de Estado do Turismo, Comércio e Serviços, Rita Marques, estimou que Portugal precisava entre 45 mil a 50 mil profissionais no sector do turismo.
Que razões aponta para isso e como podemos contornar essa situação?
Em resultado do abandono laboral durante a pandemia – em 2019, o sector do turismo empregava indirectamente aproximadamente 1.01 milhões de pessoas em Portugal, e passou a empregar cerca de 900 mil pessoas, isto, em 2021 –, um dos desafios que o sector enfrenta é a dificuldades em reconquistar esses profissionais perdidos.
Aliado a isso, prevê-se o crescimento do sector a médio e longo prazo, com um aumento previsto para este ano das exportações do turismo a rondar os 8,6%, em Portugal, de acordo com os dados veiculados pelo Banco de Portugal, e a estimativa que o turismo mundial vai crescer 6% e empregar mais 126 milhões de pessoas na próxima década, segundo o Conselho Mundial de Turismo. Dados que, naturalmente, vão favorecer o nosso país. Estes números, que traduzem uma maior procura turística no futuro, vão obrigar à alocação de colaboradores em áreas que por si só já evidenciam carência de recursos humanos.
Algumas das soluções passam por aliciar com melhores condições todos aqueles que integram este mercado estratégico para o país. Mas também por recorrer a todos aqueles com mais flexibilidade nas mais variadas vertentes, sejam estes nacionais ou estrangeiros.
Que tendências acredita que vão marcar o futuro da Gestão de Pessoas neste sector?
As tendências de gestão no sector de turismo estão a evoluir rapidamente, fruto da pandemia. Algo que forçou muitas empresas a repensarem as suas práticas de Recursos Humanos. Algumas das tendências que podem marcar o futuro incluem a adopção de tecnologias nos processos de recrutamento, o aumento do investimento em formação e desenvolvimento humano (indo ao encontro do que os candidatos procuram), a melhoria da diversidade e inclusão na componente laboral, a contratação de perfis digitais e a flexibilidade no que respeita à contratação. É fundamental que as empresas turísticas acompanhem essas tendências e invistam em novas práticas, capazes de atrair e reter os melhores talentos e manter uma vantagem competitiva no mercado.