Apenas 42,3% das pessoas com incapacidade em idade activa estão empregadas, mas quase três em cada quatro estão à procura de novo emprego

Um estudo da Randstad sobre “o papel das pessoas com incapacidade no mercado de trabalho em Portugal” mostra que a taxa de emprego para pessoas sem incapacidade (67,2%) é superior em quase 25 pontos percentuais quando comparada com a taxa de emprego das pessoas com incapacidade, que se situa nos 42,3%.

No que diz respeito à taxa de desemprego, verifica-se que a taxa é superior em cerca de três pontos percentuais quando se tratam de pessoas com incapacidade (11,2%), face a 8,1% para pessoas sem incapacidade.

A análise começa por indicar que a população, com quinze anos ou mais, com incapacidade, corresponde a 1,06 milhões de pessoas e destas, 348,3 mil estão em idade activa. Desde logo é perceptível que a taxa de actividade na população com incapacidade é de 47,6%, face a uma taxa de actividade de 73,1% da população sem incapacidade.

O estudo revela que a incapacidade de mobilidade é a mais prevalente, afectando 55,9% da população com incapacidade, seguida de limitações visuais (32,4%) e cognitivas/de memória (31,3%). Outros tipos de incapacidade incluem dificuldades auditivas (26,0%), nos cuidados pessoais (27,6%) e na comunicação (14,2%).

Nesta análise verifica-se que a grande maioria das pessoas com incapacidade (84,4% – 894.813 pessoas), com 15 anos ou mais, são pessoas não activas. Do total de pessoas inactivas com incapacidade, 77,2% são reformadas.

A população empregada com incapacidade está sub-representada em quase todas as categorias profissionais que requerem uma maior qualificação. Nas profissões técnicas e de nível intermédio, 10,6% da população geral está empregada nesses cargos, comparativamente com 7,4% da população com incapacidade.

Isto é mais acentuado em áreas que exigem alta qualificação, como actividades intelectuais e científicas, onde apenas 11,1% da população com incapacidade está empregada (comparativamente com 18,2% da população geral). Por outro lado, há uma maior proporção de pessoas com incapacidade em trabalhos não qualificados (24,4% em comparação com 15,4% da população geral).

O terceiro bloco deste estudo, que se baseia num questionário realizado em Portugal durante os meses de Junho e Julho, os dados da análise revelam que 59% das pessoas com incapacidade entrevistadas estão desempregadas e a grande maioria das pessoas desempregadas com incapacidade em Portugal são de longa duração, estando 62% nesta situação.

Das pessoas empregadas, a maioria trabalha em grandes empresas (44%). Além disto, as funções desempenhadas variam em tarefas administrativas simples (29%), em tarefas técnicas especializadas (27%) e em tarefas físicas simples (21%). Por último, a estabilidade no emprego é variada, sendo que 44% das pessoas estão no seu trabalho actual há mais de três anos, mas uma parte significativa está em posições relativamente recentes.

Do total dos profissionais que estão a trabalhar, 58% estão dispostos a ouvir ofertas ou estão à procura de um novo emprego. As principais motivações para mudar de emprego baseiam-se na procura de um melhor salário (79%), em melhores oportunidades de desenvolvimento profissional (55%), ou na procura de um emprego mais adequado à sua formação (21%).

Por outro lado, entre aqueles que não querem mudar de emprego, valorizam ter oportunidades de desenvolvimento profissional (40%), o nível de flexibilidade da empresa (37%) e a localização próxima de casa (34%) como as principais razões para permanecerem no seu emprego actual.

A grande maioria das pessoas entrevistadas (92%) acha difícil ou muito difícil encontrar um novo emprego. Entre as razões, 51% dos participantes identificam a própria incapacidade como o principal obstáculo. Para além disto, 77% das pessoas com incapacidade não estão actualmente envolvidas em nenhum tipo de formação. As principais razões para não continuar a formação incluem a falta de condições financeiras (38%), a dificuldade de encontrar cursos adaptados à sua incapacidade (16%), e problemas de acessibilidade e mobilidade (11%).

No que diz respeito ao perfil dos entrevistados, 40% têm uma incapacidade relacionada com a mobilidade, 13% com a cognição ou a memória, 10% com uma incapacidade visual e 7% com uma auditiva. Além disso, 42% têm outros tipos de incapacidades, incluindo incapacidades psicossociais e mentais (como transtornos de saúde mental), doenças crônicas e orgânicas, condições autoimunes e imunológicas, e incapacidades neurológicas.

A análise quanto ao grau de incapacidade revela que 65% dos entrevistados têm uma incapacidade igual ou superior a 60%, 26% têm um grau de incapacidade inferior a 60% e 9% ainda não foram avaliados.

A análise conclui ainda que a maior parte das pessoas com incapacidade em Portugal são mulheres e indivíduos com 65 anos ou mais. Do total da população residente com cinco ou mais anos com incapacidade, 62,2% (isto é, 674.863 pessoas) são mulheres e 37,8% são homens (410.609 pessoas).

Isto quer dizer que, do total da população, 12,9% são mulheres com incapacidade, comparado a 8,7% dos homens. Por grupos etários, 65,6% das pessoas com incapacidade (712.473 pessoas) têm 65 ou mais anos. Por último, 91,9% da população com cinco ou mais anos com incapacidade vive em alojamentos familiares. Do total de pessoas com incapacidade que residem em alojamentos colectivos (87.246 pessoas), 89% residem em alojamentos de apoio social.

Relativamente ao nível de escolaridade, os dados evidenciam uma disparidade das pessoas com incapacidade em comparação com a população geral. Enquanto que 21,5% das pessoas com incapacidade não possuem nenhum nível de escolaridade, esta percentagem é de apenas 5,9% para o total da população com 15 anos ou mais.

No caso do ensino superior, apenas 5,4% das pessoas com incapacidade alcançaram este nível de escolaridade, em comparação com 19,8% da população geral. A análise ao rendimento, mostra que do total de pessoas com incapacidade, 762.303 indivíduos (71,9%) recebem reformas ou pensões como a principal fonte de rendimento.

O estudo divide-se em três partes: uma análise do perfil sociodemográfico das pessoas com incapacidade em Portugal e comparação europeia; uma análise da participação deste grupo no mercado de trabalho, utilizando dados de instituições como o INE e da Eurostat; dados sobre o talento das pessoas com incapacidade, através de um questionário para entender melhor as suas competências, formação e experiência profissional.

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