Carlota Ribeiro Ferreira, Happy Conference: «As organizações humanizaram-se muito ao longo dos últimos anos e a felicidade e bem-estar das pessoas está no topo da agenda das boas lideranças»

A Win World promove amanhã, dia 10 de Julho, a Happy Conference 2024. O tema desta edição é “The Beauty of the Unknown – Navigating AI, Durable Skills, Smart Work & Gen Z”. Carlota Ribeiro Ferreira, fundadora da Win World, promotora do evento, explica o que se pode esperar do evento e da importância dos temas que vão ser abordados, no mundo do trabalho actual.

 

A responsável acredita que as organizações se «humanizaram muito ao longo dos últimos anos, pelas mais diversas razões, e a felicidade e bem-estar das pessoas está no topo da agenda das boas lideranças, mas também na consciência de cada um».

A Happy Conference tem lugar no Teatro Tivoli BBVA, em Lisboa, onde especialistas de várias áreas partilharão ideias enquanto discutem os mindsets e as ferramentas necessárias para navegar com confiança por um futuro complexo e desafiante.

 

1. O que é a Happy Conference?
A Happy Conference é uma conferencia desenhada para trabalhar os temas da felicidade e bem-estar nas empresas, de forma ampla, prática e cientifica. Procuramos anualmente juntar líderes e equipas para aprendermos e debatermos temas poderosos com implicações na felicidade e produtividade das pessoas, e claro, nos resultados e impactos dos negócios. E isto passa por entendermos melhor a psicologia positiva, a importância da criatividade, a confiança e o valor económico da confiança, a disciplina da produtividade, a saúde mental ou o génio coletivo que resulta da diversidade e inclusão.

Todos os anos há um tema e exploramos profundamente esse tema com os melhores oradores do mundo. Este ano o tema é a beleza do desconhecido, no sentido de ganharmos consciência e confiança sobre as dimensões do futuro e como podemos navegar com conforto no desconforto da complexidade e imprevisibilidade dos contextos.

 

2. Por que sentiu necessidade de a organizar?
Há 15 anos, em 2009, falava-se pouco de felicidade e bem-estar como factores fundamentais na equação da produtividade, dos resultados e do impacto. Passamos muito boa parte do nosso tempo a trabalhar, a contribuir e entregar, somos seres humanos em pleno, e termos consciência dos nossos sentimentos e emoções, daquilo que afeta a nossa felicidade e bem-estar, é crucial para nos posicionarmos melhor perante a nossa vida e a dos que nos rodeiam e claro, perante o nosso trabalho.

Era importante trazer esta dimensão à agenda corporativa, de forma intencional, ampla e criativa. Hoje, felizmente, ela está bem presente. As organizações humanizaram-se muito ao longo dos últimos anos pelas mais diversas razões, e a felicidade e bem-estar das pessoas está no topo da agenda das boas lideranças, mas também na consciência de cada um. Estamos melhores, mais conscientes e exigentes connosco neste aspecto. E todos sabemos que entregamos muito mais, e de forma muito mais realizada, se estivermos bem e felizes.

 

3. Quais foram os objectivos definidos no geral e especificamente para esta edição dos 15 anos de Happy Conference?
Ao fim de 15 anos, e estando já a consciência de felicidade e bem-estar muito mais presente nos líderes e nos negócios, achámos que era importante fecharmos o ciclo, e definimos que esta seria a última edição da Happy Conference nos moldes em que a conhecemos. É, portanto, da ultima edição que se trata, e assim sendo, queríamos que fosse muito virada para o futuro. Queríamos deixar os participantes com conhecimentos e ferramentas úteis para gerirem as suas vidas e carreiras neste futuro que nos entra pela porta dentro todos os dias, com novas dinâmicas, modelos e práticas, mas também novos sentimentos, emoções, atitudes.

E assim, cá estamos, com um tema incrível “The Beauty of the Unknown”, a beleza do desconhecido, para desbravarmos juntos a inteligência artificial, as competências emocionais que o futuro nos exige, os novos modelos de trabalho, a geração Z e claro, a criatividade e a felicidade. É uma edição especial, com seis oradores, num formato de conferência-magazine, como gostamos de chamar. É como se abríssemos, lêssemos e explorássemos juntos uma revista sobre o futuro que nos toca já amanhã.

 

4. A quem se destina?
Claramente a líderes e suas equipas, de qualquer organização. Trabalhamos mesmo para um publico corporativo vasto, e também para psicólogos, coaches, sociólogos, professores, formadores e todos os que trabalham e se interessam por temas de desenvolvimento pessoal.

 

5. Porquê o tema da Inteligência Artificial? Vê a IA uma como uma ameaça ou uma oportunidade?
É inevitável. É um dos temas. Já a usamos todos os dias, está presente em grande parte das interacções que temos com os mais variados produtos e serviços que usamos, é um amplificador humano de enorme importância. E não é para temer; é para capitalizar sobre; é para nos aliarmos a. A inteligência artificial permite-nos delegar tarefas com menor valor, dedicarmo-nos às mais exigentes do ponto de vista da intelectualidade, curiosidade e criatividade, e de relação humana, claro.

Entramos numa época onde nos está a ser dada a possibilidade de sermos mais humanos, e isso é maravilhoso. Agora, se isto vai implicar reinventarmo-nos pessoal e profissionalmente, mudarmos de trabalho ou darmos novos moldes ao nosso trabalho, alterarmos comportamentos ou modelos de colaboração, etc, sim, vai! E isso é bom. Mantem-nos vivos e implicados. A inteligência artificial veio acelerar muita coisa e veio para nos ajudar em muita coisa. Há temas de ética, claro, e de novas consciências perante todas as possibilidades da tecnologia. Há também impactos na nossa saúde e até novos compromissos com o nosso cérebro. Preparemo-nos, então, para isso.

 

6. O que é o “smart work”?
Como o nome diz é trabalhar com mais perspicácia e foco para melhores resultados, capitalizando nas tecnologias existentes, nas novas consciências e culturas, nos novos modelos organizacionais. Flexibilidade e responsabilidade ganharam dimensão, e isso é muito importante, pois conduz-nos não só a novos equilíbrios de vida e de prazer, mas também a novos estilos de liderança e de colaboração. É muito diferente eu gerir uma equipa que está 100% no escritório, com o mesmo horário e o mesmo tipo de alinhamento, do que uma equipa remota, dispersa e com diferentes níveis de ligação à empresa. E tudo isto, entre outras coisas, exige de nós novos níveis de empatia, tolerância, cooperação e comunicação.

Exige também trabalharmos mais numa lógica de missão, de projecto, com equipas comprometidas em torno de um propósito e um tempo, que têm de ser claros e por vezes bem circunscritos no contexto e no horizonte. Teremos igualmente, por vezes, de desconstruir grandes missões em missões mais pequenas que se colam e convergem para a grande, no sentido de assegurar forças de trabalho altamente implicadas para cada fim.

E nós, enquanto indivíduos, temos de nos conhecer e de entender bem em que moldes gostamos de trabalhar, para que tipo de instituições e em que género de projecto e equipa. Este autoconhecimento é fundamental. E os líderes, têm de ser muito ágeis e perspicazes a montar as equipas, conciliando os interesses do negócio ou do projecto com os das pessoas que compõem essa equipa. Quando esse jogo se joga bem, os resultados podem ser extraordinários pois juntam-se pessoas incríveis em equipas incríveis para missões incríveis.

 

7. Porquê o foco na Geração Z?
Geração brilhante, assertiva, com novos códigos de pensar, de estar e de fazer. É uma geração que não se detém, e isso é bom, pois comenta, contesta, surpreende, mas que também não se retém, e a meu ver isso também tem aspetos muito positivos, pois obriga-nos a sermos permanentemente líderes ativos e atentos. Interessa-me tanto a geração Z, como a geração mais velha, com 60, 70 ou 80 que ainda pode estar tão viva e ativa. E interessa-me juntar tudo isto e daí fazer resultar o génio colectivo que precisamos.

As baixas taxas de natalidade e a crescente longevidade a que assistimos, leva-nos já hoje a termos empresas com 5 gerações na sua força produtiva e isto é uma oportunidade extraordinária. Aproveitar a sabedoria e consistência dos mais velhos e a frescura e irreverencia dos mais novos é um privilégio que exige arte e humildade de todas as partes. Tudo isto para dizer que entendermos melhor o que move a geração Z, é de facto fundamental para construirmos as pontes certas entre todos para os mais variados fins.

 

8. Entre os principais desafios sentidos pelos líderes actualmente estão a escassez de talento, a dificuldade de fidelizar os colaboradores e mantê-los engaged com as organizações. Como analisa esta realidade e que caminhos aponta para os contornar?
Falo muito sobre isto, e acho que se por um lado a retenção é importante, claro, os líderes têm também de dar mais valor à movimentação. A retenção é critica, mas a movimentação também tem muito valor num mundo onde as pessoas muitas vezes não querem ser retidas, ou querem-no em função da fase que estão a viver. E portanto olhar mais a fundo para o valor desse entrar e sair de talento na organização é uma oportunidade de desenvolvimento organizacional para aquilo que é a nova configuração e dinâmica social.

Ora, o que é que isto implica? Implica várias coisas, na minha opinião, entre elas: ter um posicionamento relevante assente em propósitos e valores maiores (as pessoas movem-se por ambições e causas maiores); construir uma cultura real, positiva, una, genuinamente segura do ponto de vista psicológico, mas que desafie e dê espaço de expansão às pessoas (empresas que não nos desafiam ou não nos dão oportunidades de mudança e crescimento não são aquelas onde queremos estar); definir e colocar em prática processos efetivamente poderosos e eficazes de onboarding, ongoing e offboarding (isto é absolutamente essencial pois cada vez temos de ser mais rápidos a atrair, incluir e substituir pessoas caso elas saiam); explorar redundâncias e ter sempre pessoas em vista para substituir (muito importante, não só para que as pessoas se possam mover e crescer para novas posições, como para o caso de as pessoas saírem, conseguirmos substituir bem); apostar nas co-lideranças (é também uma tendência importante pois permite acomodar melhor a vontade e a saúde das pessoas mas também gerir melhor processos de sucessão ou saídas repentinas); e por fim, apostar seriamente no conhecimento e nas estratégias e dinâmicas de conhecimento na empresa (as empresas devem tornar-se centros de conhecimento, captando, organizando, promovendo e partilhando de forma muito plena, o conhecimento que aí se gera. Tem de ser fácil aceder ao conhecimento, não podemos ter o conhecimento centralizado numa ou outra pessoa, as coisas têm de ser mais sistematizadas e profissionais).

 

9. Num mundo em permanente mudança e evolução, quais as skills mais importantes nas lideranças? 
Penso que já fui respondendo atrás, e claro que visão, empatia e comunicação clara são skills importantíssimos. Mas talvez reforce aqui a curiosidade, a adaptabilidade e a intencionalidade. Acho que se espera do líder, de hoje e de amanhã, esta capacidade de entendimento dos contextos e dos futuros, e isto implica de facto um interesse genuíno no mundo e nas gentes, nas ciências e nas tecnologias, nas artes e nas letras, nas políticas e nas diplomacias.

O futuro acontece com todas estas dimensões em diálogo, e cada vez mais, tudo se liga e interliga. Um líder tem de ser curioso, tem de questionar e relacionar bem as matérias, é isto que lhe permite perceber que problemas existem, o que é que o mercado precisa, e assim definir arenas de actuação. A adaptabilidade decorre da complexidade e imprevisibilidade dos contextos, que cada vez exigem mais perspicácia e rapidez a mudar, e até a errar e a corrigir.

Está tudo certo, mas temos de ser rápidos e adaptarmo-nos às novas realidades que vão surgindo ou àquelas que queremos criar. Relativamente à intencionalidade, acho que nada acontece sem determinação e foco. Acredito na liderança em tempo real, na liderança que se ativa a cada momento, e isso exige que estejamos totalmente conectados com o caminho, com as dimensões que temos de gerir, com as pessoas em nosso redor. E só assim conseguimos mobilizar grandes equipas para grandes objetivos – temos de colocar intenção, ação e energia boa a cada instante.

 

10. Como vislumbra o futuro do mundo do trabalho?
Positivista por natureza, sou apaixonada pela vida, pelos negócios e pelas pessoas. Pelo mundo e pelo futuro. O futuro é complexo e desafiante, não sou irrealista; no entanto, é também repleto de oportunidades de realização, de contributo e impacto. Para mim, é fundamental ligarmo-nos ao que o mundo e as pessoas precisam, e servir. Se estivermos atentos e genuinamente implicados em servir, contribuir e acrescentar valor, há inúmeras possibilidades de trabalho. É um mundo que requer, como falava atrás, curiosidade, adaptabilidade e intenção, o que significa que aprender, mudar e concretizar serão verbos muito presentes.

Sejamos corajosos e desinstalemo-nos com confiança, com vontade de ganhar conforto no desconforto, com capacidade de sermos pragmáticos, disciplinados e produtivos, para criar e entregar mais. É um mundo que vai exigir também que tenhamos uma enorme consciência de saúde, e assim, olharmos por nós será fundamental para sermos e darmos o melhor de nós. Termos noção do que nos dá em energia e do que nos tira, é, portanto, uma principio básico de existência positiva, digamos.

Temos também de ser mais abertos ao mundo pois isso confere mais oportunidades de trabalho e significado. Hoje, com o trabalho remoto, com as acessibilidades e mobilidades mais interiorizadas, temos diversos modelos de trabalho possíveis. Anteciparmo-nos será outra nota importante a reter, mudarmos antes de termos de mudar. Change before you have to, como diria Jack Welch.

 

Por Tânia Reis e Margarida Lopes

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