Catarina Vieira, Herdade do Rocim: «Um bom profissional tem de ser, antes de mais, boa pessoa. Também é fundamental para assegurar a produção de vinhos de alta qualidade.»

Com o acolhimento e bem-estar como princípio basilar da gestão, na Herdade do Rocim promovem uma política de valorização pessoal e profissional das cerca de três dezenas de colaboradores. A administradora, Catarina Vieira, reconhece que a digitalização é inevitável, mas garante que a integridade e o carácter são atributos insubstituíveis, que enriquecem o ambiente de trabalho e asseguram a produção de vinhos de alta qualidade.

Por Tânia Reis

 

O projecto nasceu em 2000 e sete anos depois lançavam os primeiros vinhos para o mercado. A missão é produzir vinho com um forte compromisso com a sustentabilidade, até porque para a Herdade do Rocim essa é a essência da sua identidade e a chave para um legado duradouro.

 

Como nasce a Herdade do Rocim?

Começámos o projecto que é hoje a Herdade do Rocim em 2000. O meu gosto pela viticultura levou a que um dia tivesse dito ao meu pai que gostaria de ter uma pequena vinha onde pudesse fazer investigação na área da viticultura. Para o meu pai, e porque conviveu de perto com esta realidade, por os meus avós terem sido também eles produtores de vinhos, não bastou um vinha, mas sim um projecto mais abrangente e completo. E assim nasce a Herdade do Rocim.

Depois de regressar de Bolonha, Itália, onde fiz o meu estágio e o meu trabalho de final de curso, comecei de forma gradual a viver este projecto e, em 2003, passei a estar em permanência na Herdade. Também neste período fiz uma pós-graduação em Enologia, na Universidade Católica Portuguesa. Desde 2000 e até há relativamente pouco tempo, a plantação de vinhas e a reestruturação de outras foi uma actividade quase permanente. Em 2005 iniciámos a construção da Adega que ficou concluída em 2007, ano em que lançámos os primeiros vinhos para o mercado.

No Rocim, estamos inteiramente ligados à terra, à natureza, às pessoas, ao Planeta. A nossa missão passa por produzir vinho com um forte compromisso com a sustentabilidade, concebendo-a não só como suporte económico, mas como um modo de vida que promove a felicidade das pessoas e o respeito pelo meio ambiente.

 

Quantos colaboradores têm actualmente?

Actualmente contamos com 27 colaboradores, sendo metade da equipa do género feminino e 2/3 têm formação superior, em áreas como viticultura, enologia, gestão comercial, serviços administrativos, marketing e enoturismo. Este leque diversificado de formações enriquece a nossa equipa e fortalece a nossa capacidade operacional.

 

Em que pilares assenta a vossa estratégia de Pessoas? De que forma apostam no seu upskilling e reskilling?

As nossas pessoas são o activo mais importante da empresa. O acolhimento e bem-estar dos colaboradores que trabalham no Rocim é um princípio basilar da nossa gestão.

Existe uma política permanente de valorização pessoal e profissional, em áreas como a cultura geral, nomeadamente no conhecimento de línguas e na comunicação, investindo simultaneamente no conhecimento técnico e no desenvolvimento de comportamentos.

Adicionalmente, temos um plano de apoio social e cultural que oferece diversos benefícios, como assistência médica e apoio à família, para promover o bem-estar dos colaboradores. Dispõem ainda de apoios específicos e de outros contributos no âmbito da formação pessoal e profissional, acesso a bens culturais e bolsas de estudo…

 

Que iniciativas desenvolvem para promover a fidelização e engagement dos colaboradores? Quais as mais apreciadas por eles?

Todas as iniciativas que promovam o bem-estar e o contacto entre as equipas são bem acolhidas pelas nossas pessoas. Encontros lúdicos, formações contínuas, reuniões para discussão de ideias e planeamento futuro da empresa. O diálogo constante e a participação de todos são aspectos muitos valorizados pelos nossos colaboradores, que apreciam especialmente a oportunidade de evoluir profissionalmente e contribuir activamente para o sucesso da empresa.

Sentem dificuldades em recrutar talento?

O tema dos recursos humanos é hoje um assunto muito debatido. Apesar disso não temos enfrentado grandes desafios na atracção de talento, graças ao fortalecimento da nossa estrutura de recursos humanos e à nossa capacidade de manter colaboradores qualificados e motivados. Reconhecemos, no entanto, que o mercado pode ser competitivo e que é essencial continuar a inovar nas práticas de recrutamento e retenção.

 

Que factores poderiam tornar o sector mais atractivo?

A integração entre a oferta turística, gastronómica e cultural poderia reforçar significativamente a atractividade do sector. Acreditamos que uma maior coordenação entre estas áreas poderia maximizar os benefícios do turismo, destacando a qualidade e a singularidade dos nichos de mercado em Portugal.

 

Um dos focos é também a sustentabilidade. De que forma a vivem na organização?

No Rocim, trabalhamos em harmonia com a natureza: desde a vinha até à colocação do produto no mercado, cumprindo um conjunto de boas práticas ecológicas. O nosso projecto ficou, desde o início, marcado pelo respeito pela terra, pelo equilíbrio ecológico e pela preocupação com as pessoas. Desde então, temos trabalhado para continuar a colocar em prática estes valores… Na nossa actividade diária, a sustentabilidade manifesta-se através de acções concretas e medidas inovadoras que visam a redução do consumo de recursos naturais, a promoção da biodiversidade e a melhoria contínua da qualidade. Adoptamos práticas que garantem não só a excelência dos nossos produtos, mas também o bem-estar da comunidade e a preservação do meio ambiente.

Esforçamo-nos diariamente para ser um exemplo de sustentabilidade, onde cada decisão e cada acção são guiadas por princípios de responsabilidade e consciência ambiental. Ao integrar estas práticas no nosso ADN, reforçamos o nosso papel enquanto cidadãos conscientes e produtores responsáveis. A sustentabilidade, para nós, é mais do que um objectivo; é a essência da nossa identidade e a chave para um legado duradouro.

 

Embora alguns processos estejam naturalmente já automatizados, ainda há tarefas que só o humano consegue fazer… Como vê o tema da transformação digital e da Inteligência Artificial?

A digitalização é um fenómeno inevitável e essencial para a modernização dos negócios, e naturalmente das empresas. É fundamental acompanharmos esta evolução para mantermos a nossa competitividade.

A inteligência artificial, no meu ponto de vista, é um tema que deve ser abordado com alguma cautela. Apesar do seu potencial, existem implicações éticas e práticas que exigem uma reflexão cuidadosa. É importante equilibrar a inovação tecnológica com a preservação dos elementos humanos que definem o nosso sector.

 

Que competências humanas nunca poderão ser substituídas, nomeadamente no sector vinícola?

A integridade e o carácter são atributos insubstituíveis.  Um bom profissional tem de ser, antes de mais, boa pessoa. Estes valores fundamentais não só enriquecem o ambiente de trabalho como também asseguram, no nosso caso, a produção de vinhos de alta qualidade.

 

Num cenário de emergência climática, como vê o sector em Portugal? Quais as principais oportunidades e desafios que se colocam?

É uma pergunta com muita complexidade e que nos tem há já muito tempo exigido uma postura de antecipação. Temos de estar preparados para o que já conhecemos, mas antecipar o que ainda poderá vir. Esta situação exige uma gestão ágil e um planeamento estratégico que considere novas práticas sustentáveis e tecnologias inovadoras. O desafio reside em manter a qualidade e a identidade dos nossos vinhos, enquanto se explora a oportunidade de liderar em práticas vitivinícolas sustentáveis e resilientes ao clima.

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