Despertar os sentidos para o bem-estar

O envolvimento dos nossos sentidos numa “experiência sensorial” tem impacto nos nossos pensamentos, emoções, comportamento, desempenho e no nosso bem-estar geral.

Por Joana Lacerda, Project leader na Openbook  

 

Alguns locais como supermercados e hospitais têm tirado partido desta abordagem. A título de exemplo, num estudo levado a cabo numa superfície comercial que passava música francesa, verificou-se que a maioria do vinho comprado era francês. No entanto, a maior parte da arquitectura é concebida pensando só no impacto visual.

Os escritórios são espaços em que a população activa passa uma grande parte do seu tempo. Por si só, esta é uma razão que justifica que se reflicta mais sobre os potenciais benefícios de uma abordagem multissensorial.

São várias as características visuais dos elementos que compõem um espaço físico que podem condicionar as nossas emoções. Um escritório com linhas e ângulos rectos pode transmitir uma sensação de ordem e eficiência. Por outro lado, espaços com mobiliário circular e curvas suaves podem criar uma atmosfera mais acolhedora e amigável. Já locais com muita assimetria podem despertar curiosidade e criatividade, adicionando uma dose de dinamismo ao ambiente.

A psicologia da cor desempenha também um papel crucial; por exemplo, os tons de azul, associados à tranquilidade, são mais apropriados para ambientes onde o trabalho requer maior concentração.

Por norma, os projectistas concentram os seus esforços no isolamento acústico, enquanto a importância do som ambiente é frequentemente esquecida. Uma das queixas mais frequentes dos colaboradores é o ruído elevado, principalmente nos open spaces, que poderá ter efeitos prejudiciais à saúde psicológica. Ao considerarmos a sonoridade como parte integrante do projecto, é possível criar espaços que atendam às necessidades sonoras e emocionais dos utilizadores.

Assim que entramos num edifício, somos expostos a inúmeras interacções físicas com diversos elementos, desde o puxador da porta até ao tecido de um sofá. A experiência da arquitectura é palpável e quer as texturas quer a temperatura dos materiais são atributos tácteis que devem ser valorizados, com especial relevo para os materiais naturais.

Podemos não sentir, literalmente, o sabor dos materiais de um edifício, mas o design pode ter um impacto na nossa resposta ao espaço físico.

O conforto dos espaços de refeição e descanso é crucial. Ambientes que promovem o bem-estar e o relaxamento podem criar um ambiente propício para apreciar e saborear as refeições, enquanto espaços desconfortáveis podem resultar em experiências menos agradáveis e não reparadoras.

O olfacto está ligado a funções emocionais e de memória do cérebro, e pode ter um efeito na produtividade no local de trabalho. Os aromas florais melhoram a função cognitiva, aumentando a concentração e poderão ser usados em espaços de mindfulness, por exemplo. Por outro lado, a posição de coffee stations junto aos locais de trabalho, pode não ser apenas conveniente, mas impactar nos níveis de energia dos colaboradores.

A expectativa é que a prática do design arquitectónico incorpore cada vez mais a nossa crescente compreensão dos sentidos humanos e da forma como estes se influenciam mutuamente. Espera-se que esta abordagem multissensorial conduza ao desenvolvimento de edifícios e espaços públicos que promovam o nosso desenvolvimento social, emocional, cognitivo e, consequentemente, a produtividade e bem-estar geral.

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