Em que país do mundo se fala mais de violência de género nos media? E qual é a abordagem privilegiada?
Os meios de comunicação social consciencializam, sensibilizam e previnem a violência de género duas vezes mais do que nas redes sociais, que são mais sensacionalistas. No entanto, 20% das notícias publicadas continuam a justificar as agressões e uma em cada seis viola a intimidade das vítimas, através da exposição de dados pessoais que estas prefeririam evitar.
As conclusões do relatório “Desfocadas: Como opinar e informar melhor sobre a violência de género” realizado pela LLYC no âmbito do dia 8 de Março, Dia Internacional da Mulher. A APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima) associa-se à divulgação desta iniciativa da LLYC.
O estudo mostra que os meios de comunicação social falam mais da violência de género do que as redes sociais, publicam um artigo sobre violência de género a cada 30 notícias. Na conversa social, a frequência é 15 vezes menor. E as notícias sensibilizam mais do que a conversa social, os meios de comunicação social destacam-se duas vezes mais em sensibilização, prevenção e consciencialização do que nas redes sociais
Nas redes sociais a conversa é mais sensacionalista. Utilizam duas vezes mais termos como “brutal”, “terrível”, “chocante” ou “horroroso” para chamar a atenção do leitor.
O mesmo estudo mostra que o foco está nas vítimas e não nos agressores. Mais 75% das menções são aos seus atributos (por exemplo, mais 45% das menções à sua idade).
O estudo revela ainda que uma insinuação negacionista nos meios de comunicação multiplica-se por quatro nas redes sociais. Os meios de comunicação social sugerem o negacionismo ao associarem os incidentes a casos pontuais ou isolados.
Uma em cada seis notícias expõe dados pessoais que as vítimas prefeririam evitar, como a profissão, alusões à saúde mental, descendência ou parentesco. Nas redes sociais, a intimidade é ainda mais violentada. Concretamente mais 7%.
Espanha é o país onde mais se fala de violência de género e o que tem o maior rácio de participação sobre a violência de género nas redes sociais. A relação de interacção entre as redes sociais e as notícias é 48% maior do que a média.
No caso da América Latina, a violência de género destaca-se nas notícias, mas não nas redes sociais. As notícias sobre a violência de género são 25 vezes mais frequentes do que as relacionadas com o bullying nas escolas ou os acidentes de viação. Na Argentina e na Colômbia, por cada notícia de trânsito, existem dez de violência de género e, no México, a violência de género está 50% acima da média entre as notícias e as redes sociais. O Brasil é o país que maior sensibilização e consciencialização projecta nas notícias, mas isso não se transfere para a conversa social.
Nos Estados Unidos, a agressão é justificada duas vezes mais do que na média dos restantes países, mas, considerar que as vítimas são infelizes, aplica-se quatro vezes menos do que no resto dos países, uma boa prática jornalística.
Para a elaboração deste estudo, a equipa de Deep Learning da LLYC analisou durante um ano 226,2 milhões de artigos de notícias gerais, 5,4 milhões de notícias sobre a violência de género e 14 milhões de mensagens na rede social X relacionadas com a violência de género nos 12 países onde a consultora está presente (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Espanha, Estados Unidos, México, Panamá, Peru, Portugal e República Dominicana).