Empresas vão ter de passar a incluir nos relatórios de gestão informações detalhadas sobre o impacto ambiental, social e de governança
Ainda que possa vir a representar um custo significativo para as empresas Luís Laginha de Sousa, presidente da do Conselho de Administração da CMVM, antecipa que os relatórios de sustentabilidade que as empresas terão de elaborar de acordo com a Directiva de Relato Empresarial de Sustentabilidade com transposição em preparação terão vantagens e impacto financeiro positivo associados – mais do que um custo, serão um investimento. A nova Directiva de o Relato Empresarial de Sustentabilidade das Empresas foi um dos temas centrais do primeiro Congresso Internacional de Sustentabilidade da GS1 Portugal.
A Directiva de Relato Empresarial de Sustentabilidade determinou, em Novembro de 2022, a obrigação passarem a incluir nos seus relatórios de gestão informações detalhadas sobre o impacto ambiental, social e de governança (ESG, na sigla inglesa) das suas operações. Esta medida vai abranger cerca de 50 mil empresas na União Europeia (UE), dez mil das quais, em Portugal.
João de Castro Guimarães, director Executivo da GS1 Portugal, salientou, na intervenção de abertura dos trabalhos, que a sustentabilidade é «parte integrante da génese da codificação e é orientadora da ação da GS1 Portugal». Este evento, salientou João de Castro Guimarães, insere-se «num ciclo de reflexões anuais que permitirão olhar para tendências globais e analisar o seu impacto nos agentes económicos e na forma como incorporam a sustentabilidade nas suas organizações».
Patrick de Cambourg, presidente do Sustainability Reporting Board da EFRAG – European Financial Reporting Advisory Group, que assessorou a União Europeia na construção desta Directiva e que foi um dos oradores da iniciativa organizada pela GS1 Portugal, defende a medida. «Vai possibilitar a harmonização de dados e a simplificação de informação credível necessária para esclarecer os stakeholders de cada organização sobre os seus resultados em sustentabilidade.» E acrescenta que este é um exercício que assenta em quatro áreas-chave: standards, gestão, governança e o papel das autoridades públicas.
A elaboração de um plano de acção em prol da sustentabilidade, com aproximadamente 1100 data points, segundo Tiago Henriques da DSPA (Data Science Portuguese Association) , contém custos associados, que poderão ser incomportáveis para as empresas. Luís Laginha de Sousa, presidente do Conselho de Administração da CMVM – Comissão de Mercado e Valores Mobiliários mencionou o estudo da Novata alertando que «as grandes empresas estimam gastar 50 mil euros na recolha de dados que materializem este relatório».
Apesar dos custos, Luís Laginha de Sousa reconhece vantagens financeiras associadas a este investimento, referindo que «um bom relato de sustentabilidade pode ser benéfico para as empresas, melhorando o seu acesso ao capital financeiro e aos custos de financiamento associados, permitindo, do mesmo modo, internamente, identificar os aspetos de melhoria, que a longo prazo serão reflectidos em lucros líquidos».
De acordo com o “Sustainable Development Report”, citado por Nuno Gonçalves, vice-presidente do Conselho Directivo do IAPMEI – Instituto para a Inovação e Competitividade, «82,8% das grandes empresas incorporam os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) nas estratégias. Porém, as PME, ainda reticentes com os custos, manifestam uma drástica diferença, totalizando apenas 40,1%».
Francesca Paggiali, vice-presidente global de Políticas Públicas da GS1, relembrou que a Directiva carece de várias respostas, sendo uma prioridade para Ursula von der Leyen, Presidente da Comissão Europeia. «A 25 de Fevereiro será discutido um instrumento denominado omnibus para reduzir a burocracia relacionada com a sustentabilidade, tendo como objectivo a simplificação de processos e a avaliação da quantidade de dados recolhidos, podendo ainda impactar a conceção atual do modelo de reporte dos ganhos de sustentabilidade das empresas».
A crescente evidência dos impactos reais, económicos, ambientais e sociais é significativo, defende Ana Cláudia Coelho, Sustainability and Climate Change partner da PwC – Pricewaterhouse Coopers. O processo de definição de uma estratégia de sustentabilidade compreende cinco etapas: visão global de ESG; avaliação de potenciais temas de sustentabilidade, análise de impactos, riscos e oportunidades; definição dos temas e requisitos dos relatórios; e, por último, desenhar estratégias políticas, métricas, metas e acções.
Neste relatório devem constar, não apenas as considerações internas, como todas as parcerias estabelecidas. João de Castro Guimarães, director Executivo da GS1 Portugal reforça: «Não fazemos nada sozinhos, muito menos em matéria de sustentabilidade. Numa cadeia de valor deve existir sinergia entre parcerias, fornecedores e recursos».
A tarde foi preenchida por um painel de debate, subordinado ao tema “Roteiro para neutralidade carbónica: descarbonizar e gerar valor”, que contou com Ana Esteves, vice-presidente da APLOG – Associação Portuguesa de Logística; Eduardo Moura, Senior ESG Advisor da EDP; João Guimarães, director Executivo da GS1 Portugal; Joana Veloso, directora do departamento de Alterações Climáticas da Agência Portuguesa de Ambiente e, com a moderação de Luísa Schmidt, investigadora coordenadora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.