Estes profissionais têm uma taxa de exaustão acima dos 90%
Os tripulantes de cabine em Portugal apresentam sinais de esgotamento acima da média nacional, revela um estudo académico encomendado pelo Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil. Saiba porquê.
Por Ana Rita Rebelo
Na análise, que incluiu um inquérito com mais de 1300 respostas, conclui-se que 91,15% dos profissionais do sector «apresentam sinais significativos de esgotamento emocional».
O documento, divulgado esta segunda-feira, refere que 35% dos profissionais apresentam «sinais muito elevados de exaustão emocional»; 33% dos têm «alguns sinais preocupantes», 16% têm «sinais críticos de exaustão emocional»; e, por fim, 6% dos inquiridos com «estão em exaustão emocional extrema». Apenas 8% não exibem sinais de esgotamento emocional.
A esmagadora maioria (80%) concordam que têm uma sobrecarga de trabalho. Além do cansaço, os profissionais sentem-se afectados pelas mudanças de fuso horário a que estão constantemente sujeitos, pelo jet lag nas suas alterações do regime de sono e de vigília. A exaustão emocional é mais elevada no longo curso e no médio e longo curso, afectando igualmente quer o sexo feminino com o masculino.
«Estamos perante uma das profissões mais exigentes do ponto de vista físico e intelectual», comentou a investigadora Raquel Varela na apresentação do estudo. E rematou: «Não é uma profissão de desgaste rápido, é de desgaste rapidíssimo».
No entanto, o estudo também conclui que a maioria do pessoal de voo apresenta «um elevado índice de realização profissional»: 40,1% têm sinais elevados de realização profissional.
Acima de 35% já consultaram serviços de saúde devido a problemas clínicos associados à sua profissão e em 27% dos casos foram diagnosticadas doenças associadas ao exercício da profissão. «A massificação dos voos comerciais leva a que o cansaço gerado pelo aumento da carga horária torne os tripulantes de cabine menos disponíveis para os passageiros e também menos atentos para as questão de segurança a bordo. Este cansaço não deriva apenas do trabalho por turnos, mas também (e especialmente) da inexistência de um horário de trabalho real», enfatiza o documento.
Por companhias, a Ryanair destaca-se com «valores muitos elevados de contribuição para o valor do teste pelo lado negativo», ou seja, «com um índice médio muito alto de esgotamento emocional nos seus profissionais». Mas também a Azores Airlines e a easyJet apresentam contribuições significativas para o índice de esgotamento.
Já a TAP Air Portugal apresenta-se melhor do que as restantes, porém tem muitos profissionais, mais do que a média esperada, no quarto escalão de esgotamento emocional, «o que poderá indicar que no futuro, se a situação não for combatida e se as condições de trabalho degenerarem, estes trabalhadores poderão cair para estádios mais avançados em esgotamento emocional, típicos de desgaste», pode ler-se.
Relativamente ao assédio moral no local de trabalho, o estudo revela que a transportadora de bandeira portuguesa ganha pontos, enquanto a Ryanair volta a destacar-se pela negativa, uma vez que «os valores reportados pelos respondentes são extremamente altos e preocupantes, com 225% de assédio acima do valor esperado, e valores médios muito acima de todas as outras companhias».
Este inquérito, realizado entre 20 de Março e 2 de Maio deste ano, foi coordenado pela investigadora Raquel Varela e contou com a participação de Roberto Della Santa, cientista social, e Henrique Oliveira, matemático.