Flash Interview, Bolsa de Empregabilidade: «Há um fenómeno que se tem destacado no mercado de trabalho: o ‘slashing’»

A Bolsa de Empregabilidade e a merytu são novamente parceiras nas feiras de emprego. António Marto, presidente da Associação Fórum Turismo e fundador da Bolsa de Empregabilidade, e João Santos Silva, co-fundador e CEO da merytu, revelam que, para este ano, as expectativas são altas e destacam o fenómeno “slashing”: «as novas gerações estão a desfazer a ideia de que ter apenas uma vocação profissional é o único modelo válido e possível».

Por Tânia Reis

 

Desde 2016, a Bolsa de Empregabilidade já permitiu conectar mais de 25 mil candidatos e 525 empresas do sector do Turismo, através de feiras de emprego e uma plataforma de recrutamento online.

A decorrer em vários pontos do país, este ano estão agendadas cinco feiras de emprego, mais uma vez com o apoio da merytu. As duas primeiras já tiveram lugar em Vilamoura, a 30 de Janeiro, e Évora no passado dia 20. As próximas acontecem em Lisboa, a 1 de Março, no Porto a 12, e a 16 de Abril em Coimbra.

 

Que expectativas têm para as Feiras de Emprego deste ano?

António Marto – As expectativas estão altas. O Turismo teve em 2023 o melhor resultado de sempre e prevê-se que continue em crescimento. Estamos focados em fazer com que a Bolsa de Empregabilidade acompanhe esse crescimento e, por isso, prevemos que 2024 seja o melhor ano de sempre do projecto.

Esgotámos todos os slots de participação das empresas para os cinco eventos e agora estamos focados em atrair público. Ambicionamos chegar a mais público para além dos daqueles que têm competência na área, e mostrar que o Turismo é um sector que os pode receber. A nossa estratégia não é só de proporcionar um bom evento a quem está connosco fisicamente, mas também àqueles que estão registados no online.

 

A merytu continua a ser main sponsor das Feiras de Emprego. Como surgiu essa parceria?

João Santos Silva – Quando a merytu foi lançada verificou-se de imediato um alinhamento total com os valores promovidos pelo maior evento de empregabilidade no sector onde a merytu iniciou a sua actuação. A nossa proposta de valor baseia-se na dignificação dos profissionais da indústria, oferecendo-lhes opções inéditas que potenciam as suas carreiras.

 

Como é que se materializa e que mais-valias traz?

João Santos Silva – As sinergias entre a Bolsa de Empregabilidade e a merytu pretendem materializar, no presente, aquilo que queremos que seja o futuro dos profissionais do sector: liberdade, valorização e a dignificação do seu mérito.

A integração da solução digital que a merytu proporciona no âmbito das dinâmicas da Bolsa de Empregabilidade consiste, sobretudo, numa simplificação de processos e numa rapidez de aproximação entre profissionais e empresas do sector, algo inédito e muito benéfico para ambos.

Além de os profissionais poderem candidatar-se entregando o CV nos stands da bolsa, agora podem também integrar a Team merytu de cada empresa na App. Isto significa que ficam expostos tanto a trabalho flexível, conforme a sua disponibilidade, quanto a serem mais rapidamente incluídos em processos de recrutamento e selecção que decorram nas empresas.

 

Que peso está a ter a transformação digital nas feiras presenciais e na interacção das empresas com os candidatos?

António Marto – As feiras caminham cada vez mais para a digitalização, deixando vários exemplos. Todos os candidatos entram nos eventos, registando-se online, todas as empresas são convidadas a carregar as suas ofertas na plataforma online. Nas Bolsas de Empregabilidade físicas existem dinâmicas exclusivas para os inscritos na plataforma online como sessões de mentoria e entrevistas rápidas. Estamos a trabalhar para complementar trabalhos entre digital e acções físicas com mais profundidade do que nunca.

 

João Santos Silva – No caso da Merytu, as vantagens da tecnologia, no âmbito da identificação de talento, são diversas. Um perfil identificado pela equipa de RH numa bolsa de empregabilidade pode, tecnicamente, desempenhar funções no dia seguinte, sem qualquer burocracia dos tradicionais trâmites de admissão, mantendo assegurados todos os pressupostos legais em vigor. Esta velocidade e transparência que o modelo da merytu oferece têm conquistado a confiança de profissionais e empresas.

No entanto, tal como acontece com qualquer inovação, o ser humano tende a cenários binários e à tendência de substituir o antigo pelo novo. A evolução faz-se, precisamente, não através da substituição, mas por meio da assimilação das virtudes das novas opções, mantendo o que já funciona bem.

A merytu não visa substituir as práticas de excelência na identificação de talentos que o sector já possui, mas sim potencializá-las e resolver aquilo que ainda estava por resolver. Daí esta parceria ser uma mensagem em si: os eventos presenciais uniram-se a uma tecnologia digital, e é desta hibridização que acreditamos ser feito o futuro do trabalho.

 

E nos processos de recrutamento, de que forma está o digital a impactar a área de gestão de Pessoas?

João Santos Silva – A este nível, partilhamos dois exemplos muito práticos de como o digital se integrou de forma imediata com os processos de recrutamento e selecção tradicionais.

Diversas empresas hoteleiras e de restauração, que conheceram a merytu na Bolsa de Empregabilidade, têm, na fase do recrutamento, atraído muito mais profissionais devido à conjugação entre o networking que fazem nas Bolsas de Empregabilidade e a base de profissionais da app merytu, que já conta com mais de 50 mil profissionais em todo o país.

Por outro lado, na última fase dos processos de selecção, muitos especialistas de RH têm recorrido à merytu para aumentar os índices de confiança das suas decisões finais relativas à shortlist que construíram. E como? Convidando os profissionais para realizarem compromissos profissionais de curta duração, através da merytu, ‘worksamples’, onde validam na prática o seu fit cultural e técnico em relação à posição em causa.

 

Notam um aumento na procura e valorização de digital skills por parte dos empregadores?

António Marto – As empresas estão muito desejosas de pessoas para trabalhar, mesmo que não tenham todas as skills estão na disponibilidade de dar-lhes formação e preparar para o posto de trabalho a ocupar. No caso da Bolsa de Empregabilidade online ainda sentimos muita resistência dos candidatos em descreverem bem o seu perfil online, ou até fazerem boas candidaturas e um bom approach às vagas disponíveis, o que nos leva a dizer que ainda existe um caminho a ser feito neste campo.

 

E por parte dos candidatos, que benefícios mais procuram nas empresas?

António Marto – Depende do estágio da vida em que se encontram. Se o candidato tiver um perfil mais sénior, procura oportunidades estáveis e perto da zona de residência. Se for mais jovem, está mais disponível para oportunidades noutras geografias e privilegiam a rotatividade de funções como forma de avaliarem onde está a sua verdadeira paixão no vasto mundo que é trabalhar em Turismo.

 

Como analisam o mercado de trabalho e que tendências prevêem para este ano?

João Santos Silva – A multiplicação de novos cenários relativos à forma como os profissionais das novas gerações se posicionam no mercado de trabalho tem acontecido a um ritmo extraordinário. Poderíamos citar diversos exemplos, mas existe um que se tem destacado: o fenómeno do ‘slashing’. As novas gerações estão a desfazer a ideia de que ter apenas uma vocação profissional é o único modelo válido e possível no mercado de trabalho. Observa-se cada vez mais jovens que, por paixão e não por necessidade financeira, combinam o seu tempo entre duas actividades profissionais, as quais desejam manter por se sentirem realizados desta forma.

Acreditamos que, em breve, despontarão mais modelos que nos surpreenderão e que as empresas terão, necessariamente, de acompanhar sob pena de ficarem para trás na sua atractividade para com o melhor talento.

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