Francisco Gaspar, JE Portugal: «As universidades portuguesas podem – e devem – tornar-se os maiores motores de inovação no país»

Estão localizadas em instituições de ensino superior e são geridas exclusivamente por estudantes, competindo directamente com outras empresas do mercado. Actualmente, existem 25 Júnior Empresas em Portugal, distribuídas por 13 instituições. São apoiadas pela Junior Enterprises Portugal, a Federação Portuguesa de Júnior Empresas. Escassez de financiamento e elevada burocracia são os principais obstáculos ao desenvolvimento de projectos inovadores e empreendedores, garante Francisco Gaspar, presidente da JE Portugal.

Por Tânia Reis

 

Além de apoiar na integração de estudantes no mercado de trabalho, o Movimento Júnior Português, a maior plataforma de desenvolvimento e capacitação de estudantes do ensino superior, “obriga-os” a lidar com problemas típicos de uma empresa, desde a gestão de tesouraria à de pessoas. Ao longo do ano, a JE Portugal desenvolve um programa de acompanhamento anual, que inclui eventos, distinções, formação e trocas de boas práticas.

Qual a missão da JE Portugal?

A missão da JE Portugal consiste em garantir a contínua evolução das Júnior Empresas portuguesas, encorajar a expansão de novas e acompanhar o crescimento exponencial da plataforma número um de associativismo juvenil portuguesa. Representar o Movimento Júnior Português em Portugal, na Europa e no Mundo, torna ainda possível a troca de sinergias e best practices.

O que diferencia uma Junior Empresa das demais?

As Júnior Empresas são geridas exclusivamente por estudantes do ensino superior, que assumem a responsabilidade pela gestão, tesouraria e execução de projectos para clientes reais. As Júnior Empresas, localizadas em instituições de ensino superior, competem directamente com outras organizações do mercado, contribuindo para a economia portuguesa enquanto proporcionam experiência prática aos seus membros.

Com quantas Júnior Empresas e Júnior empresários contam actualmente?

Actualmente, existem em Portugal 25 Júnior Empresas, distribuídos por 13 instituições de ensino superior e compostas por mais de 1250 Júnior Empresários. Além disto, existem actualmente 20 Júnior Iniciativas em Portugal, um estágio de desenvolvimento primário de uma Júnior Empresa.

Que principais áreas/sectores abrangem?

Actualmente as Júnior Empresas actuam principalmente em três áreas, a consultoria, dividindo-se nas áreas de estratégica, recursos humanos, marketing, estudos de mercado e estratégias de negócio, em desenvolvimento tecnológico através da criação de soluções de IT e prototipagem e ainda a organização de eventos.

Que iniciativas desenvolvem e de que forma os apoiam?

A JE Portugal desenvolve diversos eventos ao longo do ano, fomentando as sinergias entre todas as Júnior Empresas, proporcionando formação e trocas de boas práticas. Além disto, realiza uma premiação anual, contando com cinco prémios. Ao longo de todo o ano a JE Portugal também dá e organiza diversas formações e realiza um programa de acompanhamento anual, onde se reúne mensalmente com todas as Júnior Empresas, de forma a acompanhar o seu crescimento, aconselhar nas mais diversas áreas, definindo objectivos estratégicos para o crescimento da Júnior Empresa.

Qual o impacto da actuação da JE Portugal? E como se traduz na economia e no mercado nacional?

Actualmente o volume de facturação anual do Movimento Júnior Português é superior 578.000€, distribuindo-se por 244 projectos contratualizados, realizados na maioria para PME. Para além disto, são realizados outros 231 projectos internos, que promovem a inovação interna, lançamento de novos produtos e colaborações pro-bono com muitas associações.

Como descreve o Movimento Júnior Português?

O Movimento Júnior Português é a maior plataforma de desenvolvimento e capacitação de estudantes do ensino superior, contribuindo para a melhor integração de estudantes no mercado de trabalho e obrigando jovens estudantes a lidar com problemas normais de uma empresa, desde a gestão de tesouraria, à dispensa de colaboradores. O Movimento Júnior Português prova que os jovens portugueses são capazes, desde cedo, de fazer projectos com impacto real para a sociedade, demonstrando o seu valor e aposta que tem de ser feita pela sociedade. Fazer parte do Movimento Júnior Português significa que são exactamente os jovens que as empresas procuram no futuro, com experiência em projectos e contacto com o tecido empresarial e prontos para criar valor desde o dia 1.

Que desafios e oportunidades identifica actualmente no empreendedorismo jovem?

O empreendedorismo tem estado em crescimento entre os jovens portugueses nos últimos anos, seja pela vontade de se desafiarem, seja pelo desejo de contribuírem para melhorar o mundo que os rodeia. Contudo, em Portugal, uma das principais dificuldades para o desenvolvimento de projectos inovadores e empreendedores é a escassez de financiamento. Muitos jovens acabam por abraçar estes projectos sem qualquer rendimento, apoio social ou investimento do Estado, o que torna o desafio ainda mais exigente.

Além disso, a elevada burocracia em Portugal e na Europa constitui outro obstáculo significativo, especialmente em áreas como a Saúde, a Inteligência Artificial e a Ciência de Dados. Projectos promissores frequentemente enfrentam dificuldades logísticas e administrativas, levando à sua interrupção precoce. Por vezes, essas iniciativas acabam por ser transferidas para os Estados Unidos da América, onde o ambiente para lançar projectos inovadores é menos restritivo.

É evidente que há um longo caminho a percorrer a nível europeu. Como destacado no Relatório Draghi de 2024, é imprescindível um forte investimento em tecnologias emergentes para criar uma economia mais competitiva, capaz de eliminar barreiras ao empreendedorismo e de apoiar novas iniciativas. O objectivo deve ser tornar a Europa – e Portugal – um ambiente mais acolhedor e propício para empreendedores.

Apesar de Portugal ter demonstrado avanços no sector do empreendedorismo nos últimos anos, com o aumento de incubadoras, startups, investimento e jovens a enveredarem por esta área, muito ainda precisa de ser feito. Os jovens necessitam de sentir que esta é uma via viável para o seu futuro, sem o receio de entrarem num “labirinto” burocrático e incerto.

Outro ponto essencial é o papel das universidades. Estas devem ser motores de empreendedorismo, estando directamente ligadas a incubadoras, startups e projectos inovadores. É crucial que fomentem ecossistemas onde apostar em ideias disruptivas seja algo natural, à semelhança do que acontece em Silicon Valley. Em 2024, não basta apenas realizar investigação científica; é necessário apostar em cursos mais práticos que incentivem os alunos a criar projectos, ideias e soluções que possam ter impacto na sociedade civil.

As universidades portuguesas podem – e devem – tornar-se os maiores motores de inovação no país, promovendo iniciativas que impulsionem o empreendedorismo e contribuam para o desenvolvimento económico e social de Portugal.

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