Inflação e gastos em saúde vão impactar os planos disponibilizados aos colaboradores em 2024
Os níveis de custos com saúde superiores aos registados no período pré-pandemia e a necessidade de encontrar um equilíbrio entre a contenção de custos, face aos efeitos da inflação, e as prioridades dos colaboradores, com os seguros de saúde a serem cada vez mais uma ferramenta de atracção e retenção de talento, são algumas das tendências identificadas no estudo “MMB Health Trends 2024”, na hora de as empresas decidirem rever os planos de saúde para 2024.
Desenvolvido pela Mercer Marsh Benefits (MMB), o estudo inquiriu 223 seguradoras de 58 países para identificar as principais tendências futuras dos cuidados de saúde assegurados pelas empresas. Aumento dos custos médicos por pessoa, que superam já os níveis pré-pandémicos; escassez de competências e consequente transformação dos serviços de saúde; necessidade de contenção de custos; persistência de lacunas nas coberturas dedicadas a saúde mental e à saúde feminina e necessidade de maior rigor na gestão do plano de saúde são as principais tendências identificadas neste estudo.
1. Tendência dos gastos em saúde nos seguros supera os níveis pré-pandemia
Em 2021 e 2022, a tendência dos gastos em saúde alcançou uma taxa global de 10,1%, próxima da registada em 2018 e 2019 (9,7%). Agora, a tendência dos gastos em saúde está já a superar os níveis pré-pandemia. De acordo com o estudo, a região Médio Oriente e África é a única que continua a registar um valor ligeiramente abaixo ao registado em 2019.
Os dados revelam que, em 2023, a taxa global irá alcançar os 12,4%, com 86% das empresas a afirmarem que a inflação teve um impacto significativo ou muito significativo nesta evolução. Ainda que se estime um decréscimo da taxa global para os 11,7% em 2024, nomeadamente devido à previsão de abrandamento da crise inflacionária, o valor deverá continuar a ser superior ao registado nos anos pré-pandemia.
Com o cancro no topo da lista de custos em saúde e com a saúde mental a ser considerada o quarto risco mais elevado a nível mundial, o estudo sublinha a necessidade de as empresas priorizarem e concentrarem os seus esforços em medidas preventivas e em soluções mais inovadoras para apoiar os colaboradores.
2. Sistemas de saúde em transformação devido à ruptura causada pela escassez de competências
Nos últimos três anos, os sistemas de saúde públicos foram sujeitos a uma pressão sem precedentes devido à pandemia e a outros factores, nomeadamente acções colectivas e escassez de competências. Esta pressão começa agora a fazer-se sentir, com diferenças significativas na percepção das seguradoras entre a qualidade do serviço de saúde público e privado.
Na Europa, 73% das empresas consideram que, por comparação com o período pré-pandemia, a acessibilidade ao sector de saúde público piorou, com 48% a afirmarem que o mesmo se verifica na qualidade. Pelo contrário, 28% e 40% consideram que a acessibilidade e a qualidade, respectivamente, do serviço de saúde privado melhorou.
De forma a minimizar estas diferenças, o estudo destaca o potencial das ferramentas virtuais e da telemedicina para contribuírem para a melhoria do serviço de saúde. Contudo, as seguradoras revelam-se ainda indecisas quanto ao impacto destas estratégias.
3. Seguradoras respondem à necessidade de contenção de custos e oferecem opções para as empresas efectuarem alterações nos planos de saúde
O impacto das tendências dos custos médicos e da escalada da inflação constituem a principal preocupação tanto para as seguradoras como para os responsáveis pela gestão dos planos de saúde das empresas. Neste âmbito, o estudo sublinha a importância de as empresas garantirem a acessibilidade económica dos planos que oferecem aos seus colaboradores.
De forma a anteciparem as tendências, torna-se igualmente importante a monitorização das experiências de sinistros ao longo do tempo, bem como compreender os factores mais importantes para os colaboradores e criar um plano estratégico para gerir os custos a longo prazo.
Perante o impacto da escassez de competências em diversos sectores, o estudo destaca o importante contributo da qualidade dos planos de saúde para o cumprimento dos objectivos de crescimento das empresas. Neste sentido, mais de metade (57%) das seguradoras acreditam que os empregadores darão prioridade às melhorias dos planos para ajudar a atrair, reter e envolver os colaboradores em detrimento da contenção de custos. Esta percentagem sobe para 63% na Europa e para 74% na América Latina e nas Caraíbas, regiões que acreditam que as melhorias nos planos de saúde terão prioridade sobre um movimento de redução da cobertura.
Ainda que a transferência de custos para os trabalhadores seja uma opção pouco atractiva, o estudo sugere que será inevitável alguma partilha de custos. Esta medida deve ser combinada com uma comunicação mais eficaz e cuidados preventivos.
As seguradoras também estão concentradas na Inteligência Artificial para apoiar a futura contenção de custos, por exemplo, através da detecção de fraudes, desperdícios e abusos. 44% das seguradoras a nível global estão a considerar a introdução desta funcionalidade, aumentando para 60% no Médio Oriente e em África.
4. Continuam a persistir disparidades em matéria de saúde mental, saúde das mulheres e prestações sociais inclusivas
A modernização dos planos está a incluir mais benefícios de saúde digitais. Os serviços de cuidados virtuais ou de telemedicina são actualmente uma parte normal das ofertas da maioria das seguradoras. 69% das seguradoras a nível mundial oferecem telemedicina, sendo que 78% o fazem na Europa e 82% na América Latina.
As seguradoras estão a tornar-se mais conscientes das necessidades emergentes, como o combate à desinformação sobre a saúde, o que exige também uma gestão coordenada através dos empregadores.
As aplicações e indumentária tecnológica para autogestão do bem-estar ou de condições específicas são uma parte crescente dos planos de modernização das seguradoras, com 43% das seguradoras a nível mundial a considerar a sua introdução. Ásia, América Latina e Caraíbas são regiões particularmente fortes na adopção destas tecnologias, com 75% e 80%, respectivamente, a oferecerem ou a considerarem a sua introdução.
Existem ainda lacunas significativas nos cuidados de saúde, especialmente no que diz respeito à saúde das mulheres/reprodutiva e ao apoio à saúde mental, e a cobertura é variável nas diferentes regiões.
Os principais benefícios relacionados com a saúde mental oferecidos pelas seguradoras centram-se nos serviços tradicionais, como o aconselhamento, o tratamento em regime de internamento e a cobertura de medicamentos sujeitos a receita médica. A cobertura de sessões de aconselhamento psicológico e/ou psiquiátrico (69%) e o tratamento em regime de internamento (62%) são os serviços mais oferecidos. A cobertura de aconselhamento é mais abrangente na América Latina e nas Caraíbas, onde 32% das seguradoras que oferecem cobertura proporcionam sessões ilimitadas e 39% oferecem mais de 20.
Existem lacunas entre os serviços que os trabalhadores consideram úteis e os serviços prestados pelas seguradoras. Por exemplo, o estudo “Health on Demand 2023” da Mercer revelou que 44% dos colaboradores considerariam úteis, para eles ou para as suas famílias, serviços direccionados a crianças, adolescentes e pais, para apoiar a saúde mental dos jovens, a socialização e questões de aprendizagem.
O inquérito “Health Trends 2024” revelou que apenas 35% das seguradoras oferecem actualmente estes serviços. Poucos planos oferecem um apoio significativo aos colaboradores que precisam de terapia contínua. Embora 69% das seguradoras em todo o mundo digam que cobrem sessões de aconselhamento psicológico e/ou psiquiátrico, na prática, 52% delas cobrem apenas 10 sessões ou menos.
A cobertura das prestações de saúde das mulheres continua a ser esporádica e varia consoante as regiões geográficas. Por exemplo, 64% das seguradoras na Ásia não oferecem acesso e cobertura contraceptiva, em comparação com apenas 33% na América Latina e nas Caraíbas. Quase um quarto (24%) das seguradoras em todo o mundo não oferece cuidados pós-parto, o que faz com que as mulheres que têm esses planos tenham de receber esses cuidados através do sistema público ou não os recebam.