João Truta, Randstad: «O provedor do trabalhador vai servir os interesses dos colaboradores»
Há três anos na Randstad, João Truta assumiu há dois meses uma nova função – e única no sector – a de provedor do trabalhador. Revela que os últimos dois meses têm sido de adaptação, reflexão e preparação para os desafios que podem surgir, mas o seu objectivo é promover uma mudança positiva na consultora para um ambiente de trabalho mais inclusivo.
Por Tânia Reis
A Randstad é a primeira consultora em Portugal a implementar a figura do provedor do trabalhador e representa uma nova forma transversal de ver o trabalho, dando a oportunidade aos colaboradores de falarem abertamente, sobre temas que os preocupam e de serem ouvidos. Esse feedback será o motor de mudança, melhoria e crescimento na consultora.
Em que consiste esta nova iniciativa interna da Randstad?
A figura do provedor do trabalhador surge no âmbito de um projecto lançado no final do ano de 2022, a que designamos de New Governance. Este na verdade é mais do que um projecto, é uma nova forma transversal de vermos o trabalho, cujo principal objectivo é dar uma resposta integrada às necessidades de todos os que trabalham com a Randstad. Sejam trabalhadores que integram a estrutura corporativa da empresa ou trabalhadores alocados a projectos de clientes, importa harmonizar as regras de gestão entre todos, garantindo uma plataforma comum de direitos, deveres, procedimentos, formas de actuar e pressupostos, que depois derivam e se adaptam a cada especificidade.
O provedor do trabalhador proporciona, assim, o acesso a uma linha de comunicação segura para todos os trabalhadores da Randstad, sendo também um elo entre as várias áreas da empresa, o que permitirá identificar temas essenciais que mereçam ser revisitados e até revistos, de forma a garantir que trabalhamos transversalmente e em linha com os valores da Randstad, respeitando os direitos dos trabalhadores.
E o que faz exactamente um provedor do trabalhador?
O provedor do trabalhador age como um intermediário que, por meio dos canais disponibilizados, recebe exposições, dúvidas ou reclamações dos trabalhadores, garantindo sempre sigilo e segurança nessas comunicações. Mediante o que é exposto, o provedor do trabalhador fará o devido tratamento da informação partilhada, ouvindo todas as partes envolvidas, numa óptica, quando aplicável, de resolução de conflitos, visando sempre a transparência, a protecção dos trabalhadores e a melhoria contínua. Para que isto aconteça, o provedor do trabalhador, seguindo os princípios da legalidade e dos direitos humanos e dos trabalhadores, poderá emitir recomendações ou decisões, no sentido de dar resposta às preocupações de quem a ele recorre. Trata-se de um órgão corporativo isento e independente, que responde ao CEO em Portugal, de forma a realçar, igualmente, a importância que esta temática tem para a empresa.
Ressalve-se também que, sempre que justificado e solicitado, o anonimato é garantido, pois queremos que todos se sintam confortáveis e seguros ao recorrer a esta linha de comunicação.
Por que sentiram a necessidade de criar esta função?
A Randstad está atenta à mudança e às necessidades dos nossos trabalhadores, e numa perspectiva de New Governance, que se deseja integrada e transversal, queremos estar mais próximos deles, oferecendo canais de comunicação e ferramentas de trabalho eficazes e eficientes, daí que estejamos também a apostar cada vez mais na digitalização do trabalho. Neste sentido, identificámos a necessidade de ter uma figura, o provedor do trabalhador, que desse a oportunidade aos trabalhadores da Randstad de, abertamente, falarem sobre temas que os preocupam, de serem ouvidos, enquanto, usando esse feedback, mudamos, melhoramos e crescemos, sendo verdadeiros parceiros para o talento que confia em nós.
Que objectivos traçaram? E que resultados esperam alcançar?
Em boa verdade, os objectivos que traçámos com esta iniciativa estão intrinsecamente ligados aos nossos valores: conhecer, servir, confiar, busca pela perfeição e promoção de todos os interesses. O provedor do trabalhador vai servir os interesses dos trabalhadores, ambicionando criar um sentido de confiança geral na sua figura, e ajudando nesta procura da perfeição no trabalho, enquanto promove os interesses de todos. Em última análise, esperamos conseguir ser melhores, olhar com um espírito crítico e construtivo para tudo o que fazemos, para que os direitos dos trabalhadores sejam assegurados e o nosso trabalho seja feito de forma eficaz e eficiente.
Assumiu essa função recentemente, que desafios prevê encontrar?
Na verdade, estou há cerca de três anos na Randstad, ainda que tenha assumido a função de provedor do trabalhador há aproximadamente dois meses. Sendo esta uma função nova dentro da Randstad, e até entre outras empresas de talento em Portugal, este foi, para mim, um período de adaptação, reflexão e preparação para os desafios que posso vir a encontrar. Tudo teve de ser pensado e desenhado, desde as normas que regem o provedor do trabalhador na sua relação com os outros, até aos processos e ferramentas de trabalho que terá ao seu dispor. Lançámos recentemente uma campanha junto dos trabalhadores da Randstad Portugal, que dá a conhecer a figura do provedor do trabalhador, pelo que antevejo um período de experimentação activo na afluência a esta linha de comunicação, com a exposição de questões diversas e desafiantes, mas é com ânimo profissional e com motivação pessoal que olho para este desafio.
A que soluções irá recorrer para os resolver?
Todas as actividades desenvolvidas pelo provedor do trabalhador resultam de uma óptica de parceria com todos os intervenientes, não se pretende que este seja um órgão isolado e fechado. Encontrar soluções para as exposições que chegam até ao provedor do trabalhador passará, sempre, por ouvir todas as partes envolvidas, seguindo os princípios essenciais da justiça e da equidade, para que seja possível apurar factos e recolher toda a informação ou documentação relevantes. Por outro lado, o provedor do trabalhador contará também com a colaboração de outras áreas parceiras, como Legal ou Recursos Humanos, para que possa emitir recomendações ou decisões adequadas e sustentadas relativamente às exposições que lhe são apresentadas.
Tem recebido feedback dos trabalhadores?
Sendo uma iniciativa recente, começámos agora a recolher feedback junto dos trabalhadores, particularmente, em alguns casos que surgiram e nos quais pude intervir directamente. As pessoas manifestam agrado pela existência desta figura de arbitragem isenta, que os ouve, apoia na resolução de vários temas, e que aprende com eles, no sentido de sermos melhores enquanto empresa. Tanto quanto sabemos, somos a única empresa do nosso sector a ter um provedor do trabalhador, e queremos comprovar, com a sustentação do tempo e da experiência, a importância desta função para a promoção de um ambiente de trabalho que seja melhor para todos.
Quais os temas mais comuns abordados por eles?
Foram trabalhados casos que abordam temas que incluem o relacionamento interpares, temas de liderança, questões laborais gerais, aplicação incorrecta ou pouco clara de procedimentos corporativos ou temas ligeiros de assédio. Podemos afirmar que, até ao momento, nenhuma situação era tão grave que se tenha revelado insolúvel.
O bem-estar é também outra preocupação para as empresas. Como está, na sua função, a endereçar o tema?
Acima de tudo, queremos que as nossas pessoas se sintam confortáveis e que o seu “bem-estar” seja uma percepção real. Numa altura em que questões associadas à flexibilidade no trabalho, à equidade, à diversidade e à inclusão são tão amplamente faladas, queremos dar acompanhamento às necessidades dos nossos trabalhadores, e mais importante do que isso, queremos dar respostas que resultem num impacto positivo na sua vida profissional e pessoal. É precisamente aqui que entra a figura do provedor do trabalhador, já que, interagindo com todos e ouvindo-os, posso recolher informação valiosa para entender quais são as principais preocupações das pessoas, usando-a depois numa óptica de partilha e mesmo enquanto órgão influenciador dos principais decision makers, no sentido de promover uma mudança positiva para um ambiente de trabalho mais inclusivo.