Jovens mulheres doutoradas ganham menos do que homens licenciados

Apesar de as mulheres jovens terem maiores níveis de escolaridade do que os homens da mesma idade, estas continuam a ser significativamente prejudicadas, tanto em termos salariais, como na sua inserção no mercado de trabalho. Esta é uma das principais conclusões do livro “Os jovens e o trabalho em Portugal – Desigualdades, (Des)Protecção e Futuro”, desenvolvido pelo Observatório das Desigualdades e pelo Observatório do Emprego Jovem do Iscte, o qual expõe as profundas assimetrias que afectam os jovens no mercado de trabalho em Portugal.

 

Segundo dados de 2023 do Instituto Nacional de Estatística, 48% das mulheres entre os 25 e os 34 anos tinha um diploma de ensino superior, valor que descia para 35% no caso dos homens. No entanto, este sucesso académico não se traduz em igualdade no mercado de trabalho: o estudo revela que, em média, os homens licenciados têm rendimentos superiores aos das mulheres, mesmo quando estas têm qualificações mais avançadas, como mestrados ou doutoramentos.

«A desigualdade de género atravessa todo o livro, sendo evidente nas diferentes variáveis abordadas», afirma Inês Tavares, investigadora e coautora do livro. Exemplo disso é a relação entre níveis de escolaridade e rendimentos, uma vez que tendencialmente os homens licenciados obtêm rendimentos mais elevados que as mulheres com mestrado ou doutoramento, nas mesmas circunstâncias. «Ser homem com uma licenciatura é financeiramente mais vantajoso do que ser mulher com um mestrado ou um doutoramento em Portugal», sublinha Inês Tavares, destacando que este desequilíbrio é persistente e atravessa todas as gerações.

O livro é da autoria de Renato Miguel do Carmo (coordenador), Fátima Suleman, Inês Tavares, Ricardo Barradas e Rodrigo Vieira de Assis, e baseia-se num inquérito aos jovens sobre o mercado e trabalho e a Segurança Social em Portugal. Será apresentado hoje, dia 18 de Setembro, pelas 18h30, na Livraria Almedina do Atrium Saldanha, em Lisboa. Alexandra Leitão (PS), Carla Castro (Iniciativa Liberal) José Soeiro (Bloco de Esquerda) irão estar presentes para debater as principais conclusões do livro.

Para além das desigualdades de género, o livro também relata desigualdades sociais entre as jovens. As mulheres provenientes de meios socioeconómicos mais desfavorecidos e com menor nível de escolaridade enfrentam maiores dificuldades para ingressarem no mercado de trabalho. Além disso, as conclusões indicam que as jovens que vivem fora dos centros urbanos são desproporcionalmente afectadas pela precariedade e pelo desemprego.

«A conjugação de fatores como género, nível de escolaridade, origem social e local de residência cria um efeito cumulativo de desigualdade, em que as jovens mulheres de origens menos favorecidas são as mais vulneráveis», explica Inês Tavares. «Estes grupos estão mais expostos a baixos rendimentos, contratos precários e maiores taxas de desemprego.

Os inquiridos pertencentes ao perfil de “integrados e protegidos” residem na sua maioria na Área Metropolitana de Lisboa (58%). A percentagem destes jovens vai diminuindo à medida que se afastam dos territórios mais urbanos e se aproximam dos mais periféricos.

O livro “Jovens e o Trabalho em Portugal” alerta para a necessidade de uma intervenção concertada que enfrente estas desigualdades estruturais, e apela a uma reflexão sobre como o mercado de trabalho pode ser transformado para se tornar um espaço mais justo para todos. «A transição para o mercado de trabalho é uma fase crítica onde as disparidades de género se intensificam», defende Inês Tavares. «É urgente que sejam implementadas políticas públicas que promovam uma verdadeira igualdade de oportunidades».

A elaboração do inquérito pelo Iscte surgiu de um convite da Comissão para a Sustentabilidade da Segurança Social criada pela ex-ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho.

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