Líderes empresariais identificaram as três “entidades” que vão determinar a transformação da economia portuguesa

Empresas, investidores e políticas públicas: são estes os três actores centrais da transformação da economia portuguesa e têm de trabalhar em conjunto para que seja possível criar um futuro mais verde, mais limpo, mais resiliente e mais justo para todos. A transformação dos modelos de negócio, com vista à mitigação das desigualdades e ao combate às alterações climáticas, é, pois, mais do que uma oportunidade, uma condição para o sucesso e para o crescimento económico.

Esta foi uma das mensagens centrais, várias vezes reiterada, na conferência “Transformar a Economia de Portugal através da Sustentabilidade e Inovação”, organizada pelo Financial Times e que decorreu na passada terça-feira, no Jardim Botânico da Ajuda, em Lisboa, com o apoio da Tabaqueira e à qual se associaram diversas outras entidades e associações empresariais portuguesas.

Com as indústrias, a nível global, a transformarem-se com foco crescente na sustentabilidade, respondendo aos impactos sociais, ambientais e económicos ao longo das suas cadeias de valor, Portugal necessita de garantir o alinhamento dos diversos agentes – decisores políticos, líderes empresariais e investidores – para assegurar que tem um papel central neste desafio e que pode ser um motor da transição verde na Europa. A conferência do Financial Times deu voz a todos estes actores e destacou as estratégias empresariais que, a partir de Portugal, têm o potencial de inspirar a transformação de outros modelos de negócio.

Na intervenção de abertura, o Ministro da Economia, Pedro Reis, lembrou que «os desafios que enfrentamos são significativos, como são também as oportunidades que [a transição verde] traz à economia e à sociedade». Por isso, referiu, é obrigatório que «o capital de risco, os investidores, a inovação e as lideranças empresariais» trabalhem em prol de economias mais verdes e mais resilientes, «que sejam à prova do futuro e estejam preparadas para o futuro».

Para tal, «a colaboração entre o público e o privado e as suas parcerias são fundamentais nesta agenda, criando as condições necessárias para avançar na transição. Não existe um caminho para o crescimento sustentável dissociado de um setor privado vibrante», disse o governante, que acrescentou que, em sintonia com o Programa Acelerar a Economia, apresentado pelo Governo, é preciso garantir um ambiente de negócios que «incentive o investimento», que «combata a burocracia», que «promova a inovação» e premeie modelos de negócio sustentáveis.

Líderes de Organizações como a The Navigator Company, a Fundação Gulbenkian, a Euronext Lisboa, representantes de associações empresariais como o Business Council for Sustainable Development (BCSD) Portugal, e especialistas académicos, discutiram e deram a conhecer como as empresas nacionais se estão a preparar para este desafio global, nalguns casos servindo como modelo de inspiração mundial.

Orador na conferência, Ricardo Arroja, presidente da AICEP – Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, realçou, «apesar de sermos um país pequeno, temos uma ambição muito grande. Estamos a tentar atrair para o nosso país novas tecnologias, fundamentais, por exemplo, para o desenvolvimento de novas fontes de energia. Alguns destes projectos vão reposicionar Portugal como líder de fontes de energia na Europa».

E apontou para um dado muito positivo, actualmente, somos o país europeu com o terceiro maior rácio de licenciados em Engenharia em percentagem dos licenciados totais, e temos quase meio milhão de estudantes inscritos em áreas STEM [da sigla em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática]. Estes são activos muito significativos para o país, para a transformação que temos pela frente.»

Participante desta conferência, a Tabaqueira, subsidiária da Philip Morris Internationa (PMI) em Portugal, deu a conhecer o seu processo de transformação, iniciada em 2016, quando o grupo anunciou uma nova visão de negócio. «Criar um mundo sem fumo, em que os cigarros se tornam obsoletos e são uma coisa do passado», referiu Marcelo Nico, director-geral da Tabaqueira.

A transformação da indústria tabaqueira a nível mundial está a ter um impacto muito positivo em Portugal, sublinhou o responsável, «no país, já existem cerca 600 mil utilizadores de produtos sem combustão; é em Portugal que a PMI tem uma das suas maiores unidades produtivas, a Tabaqueira, que é certificada em neutralidade carbónica e foi a primeira fábrica em Portugal a garantir a certificação da Alliance for Water Stewardship [que atesta as boas práticas de gestão de água]; ao mesmo tempo é Portugal que a PMI está a localizar alguns dos seus centros de excelência globais, como o IT HUB, onde trabalham cerca de 200 engenheiros e que são grandes motores de criação de emprego, altamente qualificado. Hoje, praticamente metade dos trabalhadores da Tabaqueira têm menos de 35 anos. A Tabaqueira tem uma pool de talento qualificado e jovem, com capacidade para levar para a frente este processo de transformação», afirmou.

Na sua intervenção, que marcou o encerramento da conferência “Transformar a Economia de Portugal através da Sustentabilidade e Inovação”, organizada pelo Financial Times, o Ministro de Estado e das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, vincou a importância do equilíbrio entre as políticas públicas e a força do sector privado – justamente alertando para a necessidade de Portugal “crescer em capital humano”, incentivando a atracção e a retenção de trabalhadores, dos mais indiferenciados aos mais qualificados, para resolver o problema de baixa produtividade e de baixo crescimento económico que tem marcado, nos últimos 25 anos, a história da economia portuguesa.

Os diversos oradores da conferência promovida pelo Financial Times realçaram que o impulso para a sustentabilidade da economia portuguesa depende de uma série de factores, desde a reforma regulatória até à iniciativa das empresas revisitarem os seus modelos de criação de valor e o alinhamento das estratégias de investimento com os objectivos ambientais, sociais e de governança. Alcançar metas de sustentabilidade e, ao mesmo tempo, acelerar o crescimento económico requer igualmente uma cultura robusta de inovação e colaboração, que necessariamente tem de juntar decisores, líderes da indústria e demais stakeholders da sociedade. As empresas são uma parte muito importante da equação, mas não a resolvem sozinha.

Como lembrou Jennifer Motles, Chief Sustainability Officer da PMI, também oradora num dos painéis desta conferência do Financial Times, «há um limite para aquilo que está no nosso controlo. A PMI pode tornar-se num negócio 100% sem fumo, mas isso não quer dizer que os cigarros tenham sido completamente eliminados. Porque para isso acontecer é importante que várias partes da sociedade trabalhem para o mesmo fim, incluindo, por exemplo, a regulação, que tem um papel muito importante na definição do enquadramento necessário para o fim dos cigarros. É preciso que trabalhem em conjunto», sublinhou.

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