Mais de três em cada 10 colaboradores tem conhecimento de má conduta no local de trabalho (mas não a reporta)

Segundo o estudo “Ethics at Work 2024” do Institute of Business Ethics, em parceria com a Católica Porto Business School, um em cada quatro colaboradores (25%) está ciente dos comportamentos que violam a lei ou os padrões éticos das suas organizações no último ano. Os resultados são debatidos hoje na Conferência Anual do Fórum de Ética da Católica Porto Business School que se realiza pelas 17h, na Universidade Católica Portuguesa no Porto.

Este número representa um aumento significativo em relação aos 18% registados em 2021. No total participaram 12 mil pessoas de 16 países.

Helena Gonçalves, coordenadora do Fórum de Ética da Católica Porto Business School, explica que se trata «de um inquérito feito a uma amostra representativa da população activa em cada país, onde são analisadas três grandes áreas: a cultura ética; a identificação de riscos éticos; e o apoio à ética no local de trabalho».

O estudo revela que um em cada três entrevistados (35%) tem conhecimento de abuso de autoridade, enquanto 32% relataram estar cientes de casos de bullying e assédio. Em paralelo, 20% dos colaboradores reconheceram ter conhecimento de assédio sexual.

Apesar disto, um terço dos colaboradores que souberam de má conduta optaram por não a relatar. Os principais motivos para esta falta de denúncia incluem o medo de prejudicar as suas carreiras (34%) e a preocupação de que a organização não tomaria medidas correctivas (34%).

O “Ethics at Work 2024” mostra ainda que, entre os dois terços dos colaboradores que levantaram preocupações (64%), quase metade (46%) enfrentou desvantagens pessoais ou retaliação por terem falado abertamente, e 28% expressaram insatisfação com o resultado. Apenas 61% dos colaboradores afirmam que as suas organizações oferecem meios confidenciais de denúncia.

Lauren Branston, CEO do Institute of Business Ethics, destaca a importância de criar um ambiente seguro para que os colaboradores se sintam à vontade para expressar as suas preocupações: «se estamos realmente comprometidos em prevenir comportamentos prejudiciais no local de trabalho, uma cultura de denúncia segura é crucial.»

A conferência conta com a presença de Rachael Saunders, directora do IBE, para falar sobre “The employees voice: ethics at work 2024”. Helena Gonçalves, coordenadora do Fórum de Ética vai falar sobre ética no trabalho de 2018 a 2024.

Segue-se uma mesa-redonda sobre “A voz de gestores: mesa-redonda com moderação” que, com moderação de Sofia Salgado, docente da Católica Porto Business School, contará com João Mouta, director de Ética e Compliance do Grupo Ageas Portugal; Raquel Carvalho, directora da Área Jurídica e Compliance da Altri; e Rita Sousa, head of Ethics and Compliance na EDP e do grupo EDP Renováveis.

O encerramento está a cargo de Isabel Braga da Cruz, pró-reitora do Centro Regional do Porto da Universidade Católica Portuguesa.

Estudo revela divisão geracional na vontade para denunciar má conduta

«Outra das conclusões do estudo é a divisão geracional na disposição para denunciar má conduta», ou seja, colaboradores mais jovens (18-34 anos, 70%) são mais propensos a levantar preocupações em comparação com colegas mais velhos (35-54 anos, 61%) e aqueles com 55 anos ou mais (54%), refere Helena Gonçalves acrescentando «os colaboradores mais jovens (52%) são mais propensos a sofrer retaliação após relatar preocupações do que os seus colegas mais velhos».

Branston conclui que «quando os trabalhadores não sentem que os problemas serão tratados internamente, podem procurar outras formas de se manifestar. Estamos a ver um aumento na disposição dos colaboradores, especialmente dos mais jovens, de buscar alternativas para expor as suas preocupações».

O Ethics at Work é um estudo conduzido pelo Institute of Business Ethics (IBE), de três em três anos, e foi realizado pela primeira vez em 2005. Portugal foi incluído no grupo de países participantes em 2018, através de uma parceria entre o IBE e a Católica Porto Business School. O relatório está disponível para consulta, na íntegra, em https://www.ibe.org.uk/ethicsatwork2024.html.

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