Meeting Point: O futuro do trabalho
“O Futuro do Trabalho” foi o tema proposto para reflexão no âmbito da rubrica “Meeting Point”. Estudos indicam que daqui a 10 anos a força de trabalho necessária irá reduzir drasticamente. Como adaptar pessoas e organizações, competências e formas de trabalho, às novas tecnologias e que impacto isso pode ter na estrutura das equipas?
Alavancar as nossas habilidades únicas nas novas capacidades das “máquinas”
Por Inês Pina Pereira, head of People Culture na WeDo Technologies
Não podemos falar sobre o futuro do trabalho sem falar em tecnologia. Ao longo dos tempos temos vindo a testemunhar o impacto dos avanços tecnológicos no nosso trabalho, inicialmente com a automação das atividades operacionais – na industria, por exemplo -, e, mais recentemente, no contributo para a rapidez com que realizamos as nossas tarefas diárias e a facilidade com que acedemos a qualquer tipo de informação.
Mas estamos a assistir a uma nova era, onde o avanço da tecnologia vai mudar em muito as profissões atuais. Estima-se que 65% das crianças que hoje entram nas escolas, provavelmente irão trabalhar em funções que atualmente não existem.
Há décadas que a Inteligência Artificial (IA) faz parte do imaginário tecnológico, mas a verdade é que só com o movimento da internet e da transação de milhares de dados – textos, imagens, até estados de espirito! – este conceito conseguiu evoluir na sua aproximaçao à faceta da inteligência humana.
O “machine learning” é a prova de que a robotização está chegar às áreas de conhecimento e às atividades mentais que envolvem tomadas de decisões e juízos de valor assegurados por pessoas, que jamais pensaríamos poderem ser subsituídas por máquinas.
É verdade que algumas atividades serão substituídas, ou complementadas, por máquinas, mas ainda há um conjunto de características que nos diferenciam. A nossa criatividade, o nosso bom senso, a nossa flexibilidade e capacidade de nos adaptarmos a situações novas e, acima de tudo, a nossa emotividade e skills interpessoais, são alguns exemplos de elementos únicos no ser humano que, ainda, não são subsituíveis.
Em casos onde a tomada de decisão for um processo meramente automático, os computadores conseguirão assumir o processo de A a Z. Exemplo disso são alguns call centers que viram já as suas atividades/ processos robotizados pois seguem rigidamente scripts predefinidos. E a verdade é que com sistemas cada vez mais evoluídos, em alguns casos, o computador pode até fazer um melhor trabalho, pois conseguirá considerar os diferentes cenários, ao conseguir consultar em tempo real informações dispersas em dezenas de bancos de dados e cruzar as inúmeras variáveis.
Mas a capacidade de ouvir, refletir e criar será sempre diferenciador, e necessário, no contexto empresarial, onde lidamos com pessoas – e emoções – numa base diária.
No outro dia li um artigo sobre o tema, e exempleficavam com a ideia de um advogado poder usar algoritmos para analisar e cruzar milhares de documentos e até receber de forma automática algumas estratégias de ação, de forma a ficar livre para se dedicar à preparação da sua argumentação e retórica que, acima de tudo, é influenciada pelo conhecimento do contexto, emotividade e pensamento abstrato de como conduzir a estratégia da sua retórica. Acredito que este exemplo espelha o que irá acontecer nas empresas.
As máquinas libertar-nos-ão de algumas tarefas e atividades para as quais a nossa capacidade intelectual não é tão necessária, permitindo-nos focar em outro tipo de desafios. Não podemos recear esta transformação no mercado e na força de trabalho, mas devemos, sim, pensar e antecipar formas de alavancar o nosso conhecimento, as nossas habilidades únicas e diferenciadoras, nestas novas capacidades das “máquinas”.
Neste novo paradigma de união de novos processos, novos canais, infidáveis transações, enormes volumes de dados e máquinas inteligentes, há que apostar em formação continua e em nos manter informados e atualizados.
Para vingar neste movimento, a regra é simples: é preciso aprender, sempre.
(Texto escrito ao abrigo do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, em vigor desde 2009.)
Sobre “O futuro do trabalho” leia também os artigos “A IA libertará recursos para produzir trabalho com significado“, de Luísa Fernandes, directora de Recursos Humanos da Primavera BSS, e “A metanóia que precisamos de “instalar”, de Hugo Sousa, Digital Transformation adviser no Ministério da Justiça de Portugal