O tema é “45 anos e agora?”
Tem-se assistido a diferentes casos, geridos de diversas formas, com maior ou menor sucesso. Partilhamos alguns dos principais erros e também algumas sugestões para que um processo de recondução de carreira seja construtivo e tenha um bom desfecho.
Por Filipa Leite de Castro, manager da Jason Associates
Hoje com 40 anos, manager na Jason Associates e com cerca de 15 anos de experiência em Executive Search, tenho-me deparado com cada vez mais pessoas entre os 40 e os 50 anos a comentar comigo: “Não sei se consigo aguentar mais 20/25 anos a fazer o mesmo, mas não sei o que posso fazer!…”
Esta questão tem sido cada vez mais recorrente e, na minha opinião, resulta de quase 20 anos de carreiras, com profissões muito desgastantes e de grande pressão e que, após todo esse tempo, se tornaram menos interessantes, menos aliciantes e, sobretudo, com menos margem de aprendizagem.
Falo de todo o tipo de contextos: desde a banca de investimento, onde deixou de haver bónus interessantes e onde o glamour do sector desapareceu, até funções que implicam viagens constantes em estruturas altamente matriciais, onde as pessoas sentem que já pouco decidem e que pouco valor acrescentam, entre tantas outras…
Sinto que, ao chegar aos 40 anos, muitos destes profissionais (que no meu caso passam por pessoas amigas e candidatos que vou acompanhando), iniciam um processo de reflexão e um balanço sobre a sua vida, sentindo quase “claustrofobia” quando pensam que não conseguem pensar numa alternativa profissional e, neste caso, de vida!
Por outro lado, nesta idade a maioria destas pessoas já tem uma série de responsabilidades financeiras, como crédito habitação, educação dos filhos, entre outros, que lhes retira, obviamente, alguma liberdade no processo de decisão.
Tenho, assim, assistido a diferentes casos, geridos de diversas formas, com maior ou menor sucesso. Neste sentido gostava de partilhar alguns dos principais erros e também algumas sugestões para que este processo seja conduzido de forma construtiva e com um bom desfecho.
Como principais erros destaco o facto de as pessoas quererem fazer bruscamente uma mudança de uma função para outra, descobrindo rapidamente uma profissão alternativa, que os faça felizes e que lhes permita assegurar as responsabilidades que têm.
Na verdade, o processo é bastante mais lento que isso e exige maior investimento de tempo e de dedicação. Quem opta por bruscamente tomar a decisão de se libertar para se focar apenas nesta reflexão, despedindo-se de forma impulsiva como forma de “dar um grito de Ipiranga”, pode cair num processo de frustração que o leva a ter mais tarde que regressar ao que já fazia ou optar, por necessidade, por algo que não vem trazer a motivação que procurava. Neste sentido, desaconselho vivamente este caminho.
Na minha opinião, os exemplos de maior sucesso, e bastante diferentes entre si, têm-se prendido com pessoas que, ao se colocarem esta questão, se têm exposto a outras realidades, despertando progressivamente para oportunidades e preparando-se para que estas possam tornar-se caminhos alternativos. Este caminho é feito em simultâneo com a função que desempenham actualmente, para possibilitar um amadurecimento destas alternativas, sem a pressão financeira sobre a escolha.
O que é comum à maioria dos exemplos que tenho assistido com maior sucesso é realmente a existência de um processo de amadurecimento, mas que extravasa os nossos pensamentos e que nos leva a agirmos perante ele. Com ponderação, com tempo, mas com ambição!
Obviamente que estar atento às oportunidades de mercado e ao que podem ser as novas tendências é também importante.
Neste caso, destaco alguns exemplos:
- Dar aulas em temas que gostamos e que podemos ter expertise: nestes contextos terão exposição a uma série de outras experiências e sectores que os podem ajudar a entender em que outras áreas podem capitalizar a sua experiência. Para além disso, permite enriquecer o network, podendo ter assim acesso a novas oportunidades.
- Estudar novamente – em temas que reforçam o seu expertise que lhe permitem ganhar valências em áreas diferentes das suas. (exemplo: os cursos de coaching têm levado a algumas mudanças de carreira, não só porque aumentam o autoconhecimento, mas também porque alguns se têm apaixonado pela área).
- Investimento em novos negócios – para quem possa ter a possibilidade de investir em outros negócios, esta opção pode ser interessante porque permite que existam outras fontes de rendimento, para além da sua função principal, aliviando assim a pressão para que se possa pensar em alternativas com maior liberdade.
- Experimentar um hobby novo – obriga-os a sair da zona de conforto e coloca-os em contacto com um novo círculo de pessoas, que vão permitir uma vez mais aumentar o network e em consequência disso, expô-los a novas realidades. Esta acção por si só não traz uma alternativa, mas ajuda a consciencializar que são capazes de experimentar algo diferente e novo.
Como resultado deste processo amadurecido, tenho assistido a algumas mudanças muito interessantes e inesperadas na carreira de algumas pessoas a quem lhes voltou a brilhar os olhos!