Pagaria mais impostos para aumentar salários? A maioria dos europeus diz que sim
A maioria dos cidadãos europeus estaria disposta a pagar mais impostos para se aumentarem os salários dos trabalhadores essenciais. A conclusão consta do relatório anual European Tech Insights, da IE University, que mostra que cerca de 61% dos cidadãos europeus estariam dispostos a pagar mais impostos se isso significasse também um aumento nos salários.
O estudo, que reflecte as opiniões de cidadãos da Europa, dos Estados Unidos e da China face aos efeitos da pandemia sobre áreas como a saúde, a automatização, as redes sociais e os núcleos urbanos, demonstra claramente um aumento da responsabilidade colectiva na abordagem dos problemas sociais evidenciados ou agravados pela pandemia, como a melhoria da saúde e a protecção dos postos de trabalho.
“Apesar de coexistirem algumas diferenças baseadas em argumentos políticos, culturais ou históricos, torna-se mais evidente —como demonstra, por exemplo, o Brexit — que a experiência coletiva da Covid-19 e do consequente isolamento gerou, em muitos casos, um sentido de solidariedade e responsabilidade até então pouco expressivo”, referiu Oscar Jonsson, diretor académico do Center for the Governance of Change da IE University.
De acordo com o relatório, e de forma mais descriminada, a maioria dos cidadãos europeus (61%) estaria disposta a pagar mais impostos para se aumentar os salários dos trabalhadores essenciais, desde os enfermeiros até aos empregados do comércio. Um apoio que se mostra mais significativo na Suécia (70%), no Reino Unido (70%) e em Espanha (67%), sendo a França o único país que rejeita a medida, com 54% contra.
A maioria dos cidadãos europeus (65%) é inclusivamente a favor da criação de uma união sanitária europeia que reforce a cooperação em matéria de saúde pública, com Espanha, Itália e Holanda com as taxas de aprovação mais altas.
Cerca de 67% dos cidadãos europeus declaram-se a favor de políticas fiscais que ajudem as pessoas e as empresas a mudar-se para cidades mais pequenas e núcleos rurais, com Espanha a ser o país mais favorável a esta ideia (83%).
O estudo da IE University reflecte também uma crescente inquietação com a segurança laboral e evidencia o aumento de um fosso geracional. Grande parte dos jovens com menos de 25 anos (46%) mostra-se menos preocupada com a sua intimidade e mais disposta a partilhar os seus dados pessoais, nomeadamente dados relativos à saúde, enquanto os maiores de 35 anos (53%) prefeririam não o fazer. Mais uma vez, Itália, Espanha, Holanda e Polónia lideram no apoio a esta medida.
Os jovens europeus mostram-se também dispostos a permitir que os seus governos partilhem o seu historial médico com empresas como a Google – 55 % dos menores de 25 anos são a favor dessa partilha.
A vontade de limitar a automatização para proteger o emprego é maior entre os menores de 44 anos, enquanto os maiores de 45 anos são mais relutantes.
A pandemia também teve o seu impacto sobre a relação dos europeus com a cidade. Este ano, pela primeira vez, constata-se uma maioria (43% face aos 41% contra) a favor de reduzir a circulação de automóveis nos centros das cidades com a aplicação de impostos ou outras restrições – em 2020, só cerca de 38% era a favor dessa redução, face aos 49% contra.
Para elaborar este relatório, o CGC entrevistou 2.769 pessoas, entre 1 e 18 de janeiro de 2021. A publicação da segunda parte do relatório European Tech Insights, centrada, sobretudo, na utilização da tecnologia e nas implicações da governação sobre a democracia, está prevista ainda para este mês de Maio.