Patrícia Bispo, Galileu: «As principais necessidades dos profissionais são as skills transversais, aplicáveis em qualquer sector ou função»
Em resposta às novas mudanças e exigências do mundo do trabalho, a Galileu actualizou a sua oferta formativa. Agora, microlearning, formação digital e acompanhamento contínuo são as grandes tendências, revela Patrícia Bispo, head of Learning and Development | Soft Skills da Galileu. E acredita que o futuro da formação assenta na personalização e interactividade, mas também na acessibilidade e flexibilidade.
Por Tânia Reis
Diversidade geracional e multicultural, a criação de ambientes inclusivos e a sustentabilidade são os temas mais procurados, quer por profissionais quer pelas organizações. Já as principais necessidades são o desenvolvimento de competências transversais que sejam aplicáveis em qualquer sector ou função. Mas, ainda há um caminho a percorrer, sobretudo no que diz respeito à valorização das soft skills desde o início da carreira.
A Galileu reformulou a oferta formativa com novos cursos. Por que sentiram essa necessidade?
A oferta formativa da Galileu está em constante actualização. Neste caso específico, a reformulação da nossa oferta formativa foi uma resposta directa às rápidas mudanças no mercado de trabalho e às necessidades dos profissionais. Com o aumento do trabalho remoto e híbrido, surgiram novos desafios para os líderes e equipas, como a gestão à distância, a comunicação e a manutenção da coesão e produtividade.
Por outro lado, temas como a inclusão e a diversidade tornaram-se centrais para a criação de ambientes de trabalho mais colaborativos, criativos e eficazes. A nossa oferta de calendário acompanhou os novos contextos das organizações, e continua, desta forma, a apoiar o desenvolvimento das competências necessárias para as organizações enfrentarem estes desafios de forma eficaz.
Porquê o foco nas áreas de Liderança, Vendas e Comunicação?
Estas áreas são fundamentais para o sucesso de qualquer organização e, na Galileu, temos observado uma crescente procura por soluções que desenvolvam competências precisamente nestas áreas. A liderança, sobretudo em contextos remotos ou híbridos, exige novas abordagens para manter as equipas motivadas e produtivas. A comunicação, por sua vez, é o pilar que sustenta a colaboração e a eficácia organizacional. Já as competências de vendas são cruciais para o sucesso comercial de qualquer empresa, especialmente em mercados cada vez mais competitivos.
Que principais tendências de mercado identifica na área da formação?
Estamos a assistir a um forte crescimento na procura de acções de microlearning, que consiste em acções de formação curtas, dinâmicas e com impacto prático. As empresas e os profissionais valorizam cada vez mais a formação que seja de aplicação imediata, algo em que o microlearning é bastante eficaz. Por outro lado, a formação digital (e-learning ou blended learning) continua a registar cada vez mais interesse e procura dada a sua flexibilidade e alcance. Também o acompanhamento contínuo, através de mentoring, coaching ou counseling, tem uma maior procura dado que permite um desenvolvimento mais personalizado e sustentado.
A nível de temas e áreas, identificamos como tendência questões como a diversidade geracional e multicultural, a criação de ambientes inclusivos, a resolução criativa de problemas e a sustentabilidade, com foco no ESG.
Alguns cursos também foram actualizados. Actualmente, quais são as principais necessidades dos profissionais?
As principais necessidades dos profissionais passam pelo desenvolvimento de competências transversais que sejam aplicáveis em qualquer sector ou função. Falamos de competências como confiança, comunicação eficaz, inteligência emocional e relações interpessoais. Estes são elementos-chave para a adaptação a novos contextos de trabalho e para a criação de equipas mais coesas e colaborativas. A capacidade de liderar em cenários incertos, bem como de comunicar de forma clara e inclusiva, são também competências que temos vindo a reforçar nas nossas formações.
Quais são os cursos mais procurados? Que razões aponta para tal?
Ao nível de competências empresariais e pessoais, todos os cursos destas áreas – liderança, vendas, comunicação- têm bastante procura. O contexto de trabalho actual, marcado pela transição para modelos híbridos e pela crescente valorização da diversidade e inclusão, tem gerado uma necessidade urgente de adaptação por parte das empresas. O interesse nestas áreas reflecte também a importância crescente que as organizações atribuem à gestão eficaz de equipas à distância e à comunicação clara e inclusiva, que podem evitar mal-entendidos e promover um ambiente de trabalho mais saudável.
Como analisa o tema das competências em Portugal?
Em Portugal, temos vindo a assistir a uma maior consciencialização sobre a importância das soft skills e competências empresariais em complemento às competências técnicas. Há uma necessidade crescente de profissionais que saibam liderar com empatia, resolver problemas de forma criativa, e que sejam capazes de trabalhar em equipas onde a diversidade e multiculturalidade são abraçadas.
No entanto, ainda existe um caminho a percorrer, sobretudo no que diz respeito à valorização destas competências desde o início da carreira. Empresas e profissionais precisam de investir mais na aprendizagem contínua para se manterem competitivos num mercado em constante evolução.
Acredita que o cenário de escassez de talento está relacionado com esse tema?
Acredito que o desenvolvimento de competências pode ser uma arma importante para combater a escassez de talento. Hoje, os profissionais procuram cada vez mais organizações que ofereçam oportunidades para crescer tanto a nível pessoal como profissional, e a formação é um dos principais veículos para promover esse crescimento. Empresas que investem no desenvolvimento das suas equipas, proporcionando ferramentas para aprimorar competências técnicas e comportamentais, são mais atractivas para quem valoriza a aprendizagem contínua. Isto contribui directamente para a retenção e atracção de talento, especialmente numa altura em que os profissionais mais qualificados são disputados por várias organizações.
Além disso, o desenvolvimento de competências-chave, como liderança, comunicação eficaz e inteligência emocional, é fundamental para fortalecer a cultura interna da empresa e melhorar a sua reputação no mercado. Quando uma organização tem líderes capacitados e equipas que se comunicam de forma eficaz, o ambiente de trabalho torna-se mais colaborativo e produtivo, o que, por sua vez, reforça o employer branding. Um ambiente de trabalho onde se investe no crescimento dos colaboradores não só atrai novos talentos, como também contribui para a retenção de talentos existentes, reduzindo a rotatividade e potenciando a inovação e o desempenho. Em última análise, o desenvolvimento de competências é uma estratégia central para enfrentar a escassez de talento e construir uma organização mais competitiva e atractiva.
As soft skills já começam a ter igual (ou maior) peso na selecção de profissionais? Quais as que considera fundamentais actualmente?
Sem dúvida, as soft skills estão a ganhar uma preponderância cada vez maior na selecção de profissionais. É relativamente fácil encontrar candidatos com as competências técnicas procuradas, mas são as soft skills que vão ser determinantes para a integração de um candidato na organização e para o seu sucesso nas funções que irá ocupar. Competências como empatia, comunicação eficaz, inteligência emocional, e a capacidade de resolução de problemas são actualmente valorizadas tanto quanto as competências técnicas, se não mais.
Numa época de mudanças rápidas e imprevisíveis, a adaptabilidade e a criatividade são também essenciais para o sucesso a longo prazo. Profissionais com estas competências são capazes de liderar equipas, comunicar eficazmente e adaptar-se rapidamente a novos contextos de trabalho.
E no que diz respeito às empresas, quais as competências que mais precisam e procuram?
As empresas estão a procurar, de forma crescente, profissionais que saibam liderar e colaborar em equipas diversificadas e que possam comunicar de forma eficaz em ambientes multiculturais. A gestão de equipas remotas e a comunicação inclusiva são hoje competências muito procuradas, reflectindo a transição para modelos de trabalho mais flexíveis e a importância de criar ambientes de trabalho que promovam o respeito e a inclusão. A capacidade de resolução criativa de problemas e a inteligência emocional são também altamente valorizadas, especialmente em cargos de liderança.
Com os rápidos avanços da tecnologia, como prevê o futuro da formação?
Com os avanços tecnológicos, o futuro da formação será cada vez mais personalizado e interactivo. A inteligência artificial e o machine learning vão permitir criar trajectórias formativas ajustadas às necessidades individuais de cada profissional, oferecendo conteúdos mais relevantes e no momento certo. A formação também será mais acessível e flexível, com o crescimento de plataformas digitais e ambientes de aprendizagem virtuais. No entanto, acredito que o elemento humano continuará a ser fundamental, e é por isso que o acompanhamento através de mentoring e coaching será um pilar essencial na formação do futuro.