Políticas de acolhimento dos refugiados vão estar em debate amanhã

A desigualdade no tratamento dos refugiados pelos países que os acolhem levou o JRS Portugal (Serviço Jesuíta aos Refugiados) a lançar no Dia Mundial do Refugiado, a 20 de Junho, a campanha “Solidariedade sem Fronteiras, um Mundo sem Barreiras”, para que as políticas de acolhimento dos refugiados sejam mais justas. Para assinalar este Dia, o JRS Portugal vai apresentar o documentário “A última fronteira”, de André Carvalho Ramos (jornalista da CNN Portugal), seguido de debate onde estará presente a secretária de Estado da Igualdade e Migrações, Isabel Rodrigues.

 

O evento, com entrada livre, terá lugar no Salão Nobre do Colégio Almada Negreiros no Campus de Campolide da Universidade Nova de Lisboa. O documentário mostra as diferentes políticas da Europa para os refugiados. 

«Com a guerra na Ucrânia, a solidariedade não conheceu fronteiras. O mundo uniu-se para desconstruir as barreiras e garantir que as pessoas que fugiam das atrocidades do conflito conseguiam encontrar na Europa a Paz e Segurança que tanto merecem. Mas não nos podemos esquecer que tantas outras nacionalidades vindas de países como o Sudão, a Síria, ou a Eritreia, que também fogem de guerras, conflitos e crises humanitárias, são forçados a arriscar a sua vida na travessia do Mediterrâneo, a viver em condições deploráveis, bloqueadas às portas da Europa, sem dignidade ou direitos. Acreditamos que todas as pessoas merecem ser acolhidas e protegidas, independentemente da sua nacionalidade ou proveniência», refere André Costa Jorge, director do JRS Portugal e coordenador da Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR).

As histórias de Ghalia Taki e Siraj Ibrahim, retratam esta desigualdade. Ghalia Taki oriunda de Damasco (Síria), foi detida grávida de três meses e meio no aeroporto de Lisboa em 2014, com o marido, o filho e a mãe por terem documentos falsos. A família pediu asilo em Portugal, mas a integração foi muito difícil e lenta, já que os requerentes de asilo não têm qualquer apoio social. Em 2015, começou a trabalhar no Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS Portugal) como intérprete e mediadora cultural. Actualmente, é coordenadora do departamento de interpretação e mediação cultural e do projecto Bolsa de Intérpretes, que conta com 107 intérpretes em mais de 27 idiomas diferentes para ajudar outras famílias refugiadas.

Siraj Ibrahim, 42, anos, é natural da Eritreia de onde fugiu em 2005 para o Sudão onde esteve durante um ano. Em 2006, seguiu para a Líbia onde esteve durante cinco anos. Quando começou o conflito interno na Líbia em 2011, fugiu novamente para a Tunísia, pediu asilo e esteve durante oito meses no campo de refugiados chamado “Shusha”, à espera de um país seguro para o acolher onde pudesse viver com dignidade.  Veio para Portugal em 2011 ao abrigo do programa de Reinstalação, e desde 2015 que é intérprete no JRS. Actualmente já tem nacionalidade portuguesa.

Para além da campanha de sensibilização e da projecção do documentário “A última fronteira”, pode também ser vista, de 22 a 25 de Junho, a exposição “Vizinhos do Lado”, que junta 21 retratos de famílias afegãs. Estes retratos resultam da experiência de apoio de emergência em centro de acolhimento durante os meses iniciais do trajecto de integração das famílias afegãs.

O tempo junto das famílias e dos técnicos de Centro promoveu a aproximação necessária para que estas histórias fossem partilhadas na primeira pessoa e escritas pela jornalista afegã Farkhunda Kargar, acolhida através de uma operação humanitária de resgate. A fotografia é da autoria do fotógrafo português Vasco Passanha. A exposição vai estar patente em vários locais, começando pelo Largo do Cabeço de Bola, em Lisboa. Fará parte do Festival Bairro em Festa.

O Eurostat revelou em 2021 que 630.550 pessoas aguardavam resposta ao pedido de asilo na União Europeia. Destes, 1540 requereram asilo a Portugal, maioritariamente do Afeganistão, Marrocos, índia e Gâmbia.

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