Portugal em “situação crítica” por apoios sociais não acompanharem subida de preços

A Comissão Europeia considera que a eficácia da Segurança Social em Portugal na atenuação da pobreza e das desigualdades de rendimento se deteriorou, falando numa “situação crítica” por os apoios sociais não terem acompanhado o aumento dos preços.

«A eficácia do sistema de protecção social português na atenuação dos riscos de pobreza e na redução das desigualdades de rendimento deteriorou-se. Em 2023, o impacto das transferências sociais – com excepção das pensões – na redução da pobreza diminuiu 3,9 pontos percentuais, situando-se em 19,8% contra 34,7% na União Europeia, o que indica uma ‘situação crítica», refere o executivo comunitário.

Num relatório sobre o emprego na União Europeia (UE), que integra a segunda parte do pacote de outono do Semestre Europeu e que foi divulgado, a instituição justifica que «a diminuição da eficácia das prestações sociais reflecte o facto de que, enquanto os preços e os salários nominais terem crescido rapidamente nos últimos anos, as prestações sociais não terem aumentado ao mesmo ritmo».

Além disso, segundo Bruxelas, as desigualdades também se deterioraram em 2023, enquanto a percentagem de pessoas em risco de pobreza ou exclusão social permaneceu estável em nesse ano e está dentro da média, sendo «particularmente elevada nas regiões ultraperiféricas dos Açores e da Madeira».

No que toca ao emprego, a Comissão Europeia argumenta neste relatório que «o mercado de trabalho português continua a ser resiliente».

«Num contexto de crescimento económico acima da média da UE, a taxa de emprego melhorou de 77,1% em 2022 para 78,0% em 2023, apoiada pela migração líquida», destaca a instituição.

Ainda assim, Bruxelas alerta que a taxa de desemprego em Portugal aumentou ligeiramente (0,3 pontos percentuais) em 2023, para 6,5%, e que «persiste a segmentação do mercado de trabalho, refletida nas elevadas percentagens de jovens com contratos temporários», que foi de 42,9% no ano passado, contra 34,3% na UE.

Certo é que, apesar dos avisos, «Portugal não parece enfrentar riscos potenciais para uma convergência social ascendente», assegura a instituição no relatório.

No conjunto da UE, a taxa de emprego atingiu um máximo histórico de 75,3% em 2023 e voltou a aumentar para 75,8% no segundo trimestre de 2024.

O objectivo é chegar aos 78%, como estipulado no Plano de Acção sobre o Pilar Europeu dos Direitos Sociais, aprovado na Cimeira Social do Porto em Maio de 2021.

Ao mesmo tempo, no ano passado, a taxa de desemprego na UE diminuiu para um mínimo histórico de 6,1% em 2023, uma tendência que se manteve neste ano de 2024.

O Semestre Europeu é um exercício anual de coordenação das políticas económicas e sociais da UE, no qual do qual os Estados-membros alinham os seus orçamentos com os objectivos e as regras acordadas ao nível comunitário.

Criado após a anterior crise financeira, este instrumento visa garantir um crescimento económico sustentável, a criação de emprego, a estabilidade macroeconómica e a solidez das finanças públicas em toda a UE.

O calendário do Semestre Europeu segue um ciclo recorrente ao começar com a apresentação das prioridades económicas e sociais pela Comissão Europeia e a terminar quando os Estados-membros da UE apresentam os seus projectos de planos orçamentais, período que agora termina para se iniciar nova volta.

O pacote de foi apresentado à margem da sessão plenária do Parlamento Europeu, na cidade francesa de Estrasburgo.

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