Portuguesa lidera equipa que descobriu terapêutica inovadora para a doença de Alzheimer
Uma equipa de investigadores, liderada por Maria José Diógenes, professora associada, farmacêutica e investigadora do Instituto de Farmacologia e Neurociências da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL), abriu uma nova porta na luta contra a Doença de Alzheimer (DA), ao descobrir uma nova abordagem muito promissora com eficácia e ausência de toxicidade.
O trabalho desenvolvido, recentemente publicado na revista Molecular Therapy, focou-se na criação e avaliação de um composto inovador que preserva o recetor TrkB da degradação causada pela presença do péptido β-amilóide, uma das principais características patológicas da DA. O composto desenvolvido pela equipa de Maria José Diógenes demonstrou eficácia na prevenção de sintomas, melhoria do desempenho cognitivo e na redução da progressão da doença em modelos animais da doença.
Este trabalho deu origem a uma patente, «destacando-se a inovação e o potencial terapêutico representados pelos seus resultados».
«A equipa conseguiu desenvolver um composto, com um mecanismo de ação inovador, que melhora a função das sinapses (conexões entre os neurónios) e o desempenho cognitivo de ratinhos modelo da doença de Alzheimer. Muito importante, este composto, previne alterações moleculares patológicas no cérebro dos ratinhos. Estes resultados são promissores e abrem portas para novas abordagens terapêuticas que podem vir a ser aplicadas clinicamente», afirma a investigadora do Instituto de Farmacologia e Neurociências da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa Instituto de Farmacologia e Neurociências da FMUL.
Os investigadores criaram um composto que designaram de TAT-TrkB que impede que uma proteína importante no cérebro, o TrkB-FL, seja destruída pela Doença de Alzheimer. Esta proteína é essencial para que as células cerebrais comuniquem corretamente entre si de forma adequada. Quando a doença danifica essa proteína, as células do cérebro têm mais dificuldade em funcionar corretamente. O novo composto TAT-TrkB protege essa proteína de ser destruída, permitindo que as células do cérebro continuem a comunicar como deveriam, impedindo alterações na memória.
Além disso, o estudo envolveu a análise de amostras de liquido cefalorraquidiano de doentes de tecido cerebral post-mortem de doentes com Doença de Alzheimer, e demonstrou que a destruição do TrkB-FL ocorre desde a fase precoce da doença e que se agrava com a sua progressão. O composto TAT-TrkB demostrou não só que impede essa destruição, mas também que melhora a plasticidade sináptica e as funções cognitivas em modelos animais.
O estudo, que contou com a colaboração de investigadores de várias instituições nacionais e internacionais, não encontrou evidências de toxicidade hepática ou renal após a administração prolongada do novo composto, o que reforça o seu potencial como fármaco seguro modificador da doença para o tratamento da DA.