Redescobrir o essencial é uma das formas de mobilizar e liderar em 2013
As prioridades estão a ser reorientadas e o momento actual devolve-nos para aquilo que é o essencial. Antes eram os salários, o estatuto e os prémios, hoje devemos focar-nos num propósito de vida mais realizador. Esta foi uma das conclusões recolhidas na 4.ª conferência da Human Resources Portugal.
Com o tema “Como mobilizar e liderar em 2013”, o evento decorreu hoje, no Hotel Dom Pedro, em Lisboa, perante uma plateia de mais de 200 profissionais.
«O desafio das organizações nos dias de hoje passa por comunicar a todos os colaboradores, de forma transparente, o máximo de informação sobre a empresa. A partilha de informação é a base para motivarmos as nossas pessoas». O tema foi levantado por Rui Paiva, CEO da We Do Technologies, a quem coube a tarefa de abrir a 4.ª conferência da Human Resources Portugal.
Contornar as adversidades económicas, financeiras e sociais actuais são o grande desafio que se coloca a gestores, responsáveis de recursos humanos e líderes de organizações portuguesas. Se para a maioria o cenário parece negro, Rui Paiva, CEO da We Do Technologies desdramatiza e dá o exemplo da sua organização. «A We Do Technologies nasceu em 2001. Hoje temos escritórios em 15 países, contamos com profissionais de 19 nacionalidades diferentes, num total de 500 pessoas e temos clientes em mais de 80 países». O segredo do sucesso da empresa portuguesa passa por uma comunicação transparente com todos os colaboradores, estejam eles em Portugal, nos EUA ou na Malásia. Esta premissa é de tal forma importante que todos os colaboradores da tecnológica têm acesso, via intranet, a um “White Book”. «Este livro electrónico mostra a todos os colaboradores, a clientes e a quem quiser, o que é a empresa. Dos valores e missão da empresa, a aquisições de outras empresas, a entrada de novos membros para o board de administração e até os benefícios dos colaboradores. Neste livro está a We Do Technologie», explica Rui Paiva.
Diferenciar motivação e incentivo
Aberta a 4.ª Conferência da Human Resources Portugal, seguiu-se a vez de subirem ao palco António Pires de Lima (CEO da Unicer), José Manuel Silva Rodrigues (presidente Carris/Metro), Miguel Lourenço (country manager Johnson’s Wax) e novamente Rui Paiva (CEO WeDo Technologies) para um painel moderado por Fernando Neves de Almeida (presidente da Boyden Portugal). “Como liderar as empresas e as pessoas nestes tempos conturbados e incertos? Como manter as equipas focalizadas?” foram os problemas a que os especialistas tentaram responder.
António Pires de Lima acredita que a sociedade moderna rege-se por uma cultura materialista e consumista, logo é óbvio que as pessoas associem motivação a benefícios salariais. No entanto, este é um paradigma que felizmente está a mudar devido à crise actual. «Não podemos continuar a motivar através do salário, porque a actual situação económica não o permite». A solução passa por procurar novas formas de mobilizar, adaptando as expectativas dos colaboradores.
«Hoje as expectativas de muitas pessoas passam por manter os seus trabalhos», afirma José Manuel Silva Rodrigues. De acordo com o presidente da Carris e do Metro, é possível motivar sem recorrer a bónus monetários. Exemplo disso é o prémio “Desempenho Mais” instituído pela Carris. Os colaboradores que se distinguem pela positiva recebem diversos benefícios, desde formação gratuita a passeios. Uma forma inovadora e com resultados visíveis. «As organizações têm de continuar a premiar aqueles que se diferenciam dos seus colegas e esta foi a forma que encontramos para dizer “Obrigado”».
Para o responsável pela Johnson’s Wax mais do que nunca as organizações têm de ser criativas na forma como premeiam os seus colaboradores. «A chave para mobilizar passa pela distinção entre motivação e incentivo». Todavia, Miguel Lourenço lembra que é preciso conhecer melhor os colaboradores. «Temos de investir o nosso tempo a diagnosticar as nossas pessoas. Perceber quais os problemas de cada um. Esta crise é uma oportunidade única para nos aproximarmos dos nossos colaboradores», sentencia.
Por sua vez, Rui Paiva alertou que em momentos adversos como o actual é, de facto, difícil premiar. O importante, para o CEO da WeDo Technologies é convencer. «As pessoas têm de ser convencidas que vale a pena fazer esforços porque no futuro serão recompensadas».
Justiça e equidade
“Como mobilizar os colaboradores das empresas? O que pode levar a que encontrem motivação?” foi o tema da segunda mesa redonda, que contou com a participação de Isabel Barata (administradora da SATA), Pedro Raposo (director de recursos humanos BES), José Manuel Seruya (professor da Universidade Católica de Lisboa), Maria Manuel Seabra Costa (lead director human capital Consulting services PwC), Pedro Esteves de Carvalho (director de direcção de desenvolvimento e liderança da PT), intervenções moderadas por Joana Queiroz Ribeiro (directora de pessoas e comunicação da Unicer).
Na sua intervenção, Pedro Raposo explicou as mais recentes apostas do BES. Segundo o director de RH, a maioria das pessoas já percebeu que dificilmente terão prémios salariais ou aumentos nos próximos anos, cabe portanto às organizações encontrar novas soluções. «No BES apostamos sobretudo em benefícios de apoio às famílias, porque sentimos que os nossos colaboradores estão preocupados com o futuro dos seus filhos».
«A satisfação e motivação de cada um terá de vir pelo sucesso da empresa», quem o diz é Isabel Barata. Segundo a administradora da SATA, os colaboradores, mais do que nunca, terão de ter «orgulho em vestir a camisola» da sua organização e a motivação surgirá quando a empresa apresentar bons resultados.
Já Pedro Esteves de Carvalho admite que o grande desafio das empresas para os próximos anos passa por envolver mais os colaboradores e garantir equidade dentro da empresa. «Nos últimos dois anos temos trabalhado no desenvolvimento de um novo modelo de carreiras mais equitativo. As nossas pessoas não se podem sentir injustiçadas face aos seus colegas de trabalho». Ideia corroborada por Maria Manuel Seabra da Costa, «Não pode existir um tratamento igual para situações diferentes». De acordo com a especialista, é urgente as lideranças respeitarem mais as suas pessoas, estarem mais atentas e «terem um sentimento de humanidade maior do que nunca». Por fim, José Seruya destacou que ninguém confia em projectos, mas sim em pessoas. «Os líderes têm de mostrar que há um futuro pós crise e que o percurso até lá é razoável», rematou o professor da Universidade Católica.
Ser o melhor do mundo
Na sessão mais aplaudida do dia, Miguel Gonçalves (Idea Starter Spark Agency ) encerrou a conferência com uma mensagem de incentivo, perspectivando um futuro risonho para as organizações que se souberem adaptar a esta nova realidade. «Vimos de uma época em que recebíamos de acordo com o que produzíamos. Hoje já não é assim. Eu não quero dinheiro, eu quero mudar o mundo e isso é o que me motiva», afirmou. Para o fundador da Spark, os portugueses têm capacidade de ser tão bons ou melhores que quaisquer outros, mas «ficamos sempre atrás porque pensamos que as coisas boas só acontecem aos outros. Somos pobres de sonhos. A missão dos recursos humanos é dar sonhos às pessoas. Ajudá-las a serem as melhores do mundo naquilo que fazem», afirmou.