Rita Oliveira, CEO da Shift Your Branding Agency: «Manter a motivação desta equipa é o maior desafio»
Quando fundou a empresa, o branding resumia-se a criação de logotipos e campanhas publicitárias. Desde então muito mudou, desde a formação ao digital e, hoje, cada vez mais é necessário fazer equipas à medida de cada projecto, garante a CEO da Shift Your Branding Agency, Rita Oliveira.
Por Tânia Reis
Com uma equipa de 10 colaboradores, a responsável acredita no lema “poucos, mas muito bons”. Além das hard skills inerentes à função, valoriza pessoas que gostem e saibam trabalhar em equipa, proactivas, curiosas e, acima de tudo, muito criativas. É o sentido de responsabilidade assumido por todos que permite à empresa não ter «políticas de género, idade, nacionalidades ou outras».
Fundou a Shift há 25 anos, que principais mudanças experienciou no negócio e no mercado de trabalho desde então?
Muitas. Desde o início que sabia que a área a que me queria dedicar era à construção de marca, o chamado branding, mas na altura, em Portugal, esta era uma disciplina que, na maioria dos casos, se resumia à criação de logotipos e campanhas publicitárias. Por isso, quando a Shift foi fundada, em 1998, começou por estrategicamente se chamar Shift Comunicação e Design. No início, procurámos trabalhar com clientes multinacionais estrangeiros, para quem o branding era uma disciplina bem implementada e cuidada pelos seus departamentos de Marketing. Um ano depois passámos a Shift Design, altura em que quisemos validar as nossas capacidades criativas através de concursos criativos a que concorremos.
Com a evolução do mercado, os clientes passaram a procurar agências que lhes criassem marcas bem alinhadas com os objectivos de negócio. Foi este o momento que aproveitámos para evidenciar a nossa capacidade de criar estratégias fortes para as marcas e alterámos o nome para Shift Thinkers.
Hoje, os clientes já estão completamente familiarizados com os processos de desenvolvimento de um projecto de branding e a Shift é reconhecida como empresa especialista nesta área. Como tal, no 25.º aniversário assumimos no nosso nome a mensagem que pretendemos passar a todos aqueles que querem um bom trabalho em branding e que ainda não trabalhem com a Shift: Shift Your Branding Agency.
Naturalmente que, paralelamente a toda esta evolução, surgiram alterações e novidades, como é o caso da passagem da vivência das marcas de um ambiente físico – offline – para um ambiente digital. Por outro lado, o público que consome as marcas também passou de uma postura mais contemplativa para uma postura mais activa e emocional. Actualmente, já não são as marcas de um lado e o público de outro, as pessoas querem viver as marcas. Surgiram muitos palcos para as marcas falarem com os seus targets e as redes sociais vieram trazer uma grande mudança na forma como as marcas comunicam. Nos dias de hoje, temos um desafio acrescido que está, novamente, a mudar o mercado, a Inteligência Artificial.
No mercado de trabalho, também tudo se alterou: passou a existir muito mais formação para quem quer seguir esta área e a chegada do digital trouxe mais valências, que vão muito além do design e da comunicação. A especialização foi substituída pelo multitasking, com os jovens a começarem a ter a oportunidade de aprender muitas coisas fora dos cursos, através de formações online e a partir de qualquer parte do mundo, sem saírem da sua casa. A par disso, passou a ser possível dedicarem-se a mais do que uma profissão, por exemplo, podem ser um bom designer e um bom músico ao mesmo tempo. Outro ponto positivo é que os profissionais também são pessoas mais viajadas e curiosas, características muito valiosas numa área que vive da criatividade.
O outro lado da moeda é a perda de foco: os profissionais hoje precisam de ser constantemente motivados e estimulados para que possam dar o seu melhor. Na nossa área, os mais novos têm neste momento uma grande preferência por trabalho em regime de freelancer. Para as empresas não é melhor nem pior, simplesmente é diferente e têm de se adaptar.
Quantos colaboradores tem actualmente a Shift e qual o “perfil-tipo”?
A equipa de Shift é formada actualmente por 10 pessoas, um número que pode vir a aumentar a qualquer momento porque continuamos a ter objectivos estratégicos em termos de negócio a alcançar que podem necessitar de mais profissionais com novas valências. Basta pensarmos que, para criar uma marca ou alimentar a presença dela no mercado, actualmente tanto se exige um designer como um músico a quem recorremos para criar um logo musical, por exemplo, para percebermos que cada vez mais é necessário fazer equipas à medida de cada projecto. Esta solução também vai ao encontro da preferência por regimes de freelance por parte dos profissionais.
Seja qual for a realidade, para mim é bastante evidente que a equipa permanente, ou seja, o núcleo duro, não pode ser muito grande para mantermos um bom nível de serviço. O meu lema sempre foi “poucos, mas muito bons”, em vez de ter uma grande estrutura e o foco do negócio ter de assentar mais na quantidade de trabalho do que na qualidade.
Além das hard skills inerentes à função, quando recrutamos procuramos pessoas que gostem e saibam trabalhar em equipa, com muito bom conhecimento falado e escrito em inglês, bom pensamento crítico, proactividade, orientação para resultados, muita curiosidade e capacidade de ter uma visão estratégica sobre temas e projectos e de entender que, com a liberdade, vem também a responsabilidade e, acima de tudo, com muita criatividade seja qual for a função. Uma das características comuns a todos aqueles que estão hoje na Shift é terem outros interesses paralelos ao trabalho e de precisarem de tempo para se dedicarem a eles. Ou seja, não temos políticas de género, idade, nacionalidades ou outras.
Em que pilares assenta a vossa estratégia de Pessoas?
A nossa estratégia assenta numa cultura organizacional forte e com valores bem definidos – uma cultura de respeito e colaboração e em que o bem-estar e o equilíbrio dos colaboradores são uma prioridade. Por isso, oferecemos flexibilidade e um regime de trabalho híbrido, para que quem trabalha connosco possa sentir um equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional e dar importância aos compromissos familiares, que podem ser desde uma ida ao médico com um familiar à reunião de pais na escola de um filho. Nesse âmbito, também disponibilizamos acordos com parceiros de serviços em várias áreas de que os colaboradores podem beneficiar e somos uma empresa pet friendly, pois acreditamos que a presença de animais no escritório tem um impacto muito positivo na produtividade e no bem-estar dos colaboradores.
A nossa cultura é também de reconhecimento e recompensa. Queremos mostrar que o bom desempenho, os resultados alcançados e a dedicação ao trabalho são muito valorizados na Shift, pelo que distribuímos os dividendos da empresa e prémios de produtividade com base nas avaliações do final do ano.
O desenvolvimento e a formação são fundamentais para estimular a criatividade e, assim, fazem igualmente parte da nossa cultura organizacional. Nesse ponto, temos uma oferta de formação definida pela empresa para manter os profissionais actualizados quanto a ferramentas e tendências e ainda um budget anual disponível para formação solicitada pelos colaboradores, desde que fundamentada na sua função, ou para participação em eventos, conferências ou palestras.
Actualmente, quais considera serem os maiores desafios nesta área?
Em relação ao recrutamento, encontrar profissionais que se comprometam e que efectivamente gostem do que fazem profissionalmente. Não faz sentido viver para o trabalho, mas faz sentido que o trabalho seja uma parte positiva da vida.
No que toca ao employer branding [marca empregadora], na Shift sempre se acreditou que o seu sucesso está directamente relacionado com a felicidade e a realização de todas as pessoas que trabalham cá. Por isso, a felicidade das nossas pessoas sempre foi o melhor barómetro para as nossas conquistas.
Gerir uma equipa pequena, onde todos são muito exigentes consigo mesmo e com os outros e com uma boa experiência profissional, é como gerir uma equipa de alta competição. Manter a motivação desta equipa é o que considero ser o maior desafio.
Num cenário de escassez de talento, que importância assume o employer branding na Shift?
Assume uma enorme relevância, não só pela escassez de talento, mas porque as prioridades dos profissionais também mudaram. Nesse sentido, os profissionais não procuram só empresas que sabem surpreender os seus clientes, como também empresas que surpreendem os seus colaboradores.
Como o desenvolvem para o exterior?
No rebranding que fizemos o ano passado tivemos o cuidado de criar uma estratégia de redes sociais em que damos a conhecer mais assiduamente como é o dia-a-dia na Shift. Felizmente, no mercado, a Shift sempre foi vista como uma boa empresa empregadora. A nossa reputação é boa entre as pessoas no mercado, mas temos de trabalhar mais a relação com quem está a chegar ao mercado de trabalho. Para isso, temos feito um esforço em comunicar mais nas nossas redes sociais, dar a conhecer a equipa, participar mais em eventos dirigidos a pessoas mais jovens e até patrocinar alguns destes eventos. Também temos as portas abertas para todos os estudantes que necessitam de estágios para completarem os seus cursos.
Acredita que contribui para captar e reter talento na empresa?
Acredito, pois. Para o bem e para o mal, sou a responsável pela gestão da empresa, pela criação de linhas orientadoras, seja do ponto de vista de negócio ou do ponto de vista ético e de valores. Para mim, desde sempre que as pessoas que trabalham na Shift não são meramente colaboradores que trabalham para mim. São as pessoas com quem escolhi trabalhar, com quem gosto de partilhar ideias, pessoas que gosto de ouvir, que têm alguma coisa a acrescentar ao meu dia de trabalho, que gostam de aprender comigo, mas também gostam de me ensinar. Na nossa equipa, todos partilham esta fórmula colaborativa e sabem que há uma escuta activa para as suas críticas e ideias, de forma a melhorar o desempenho da equipa, a nossa produtividade e qualidade dos projectos, o que faz com que o sentido de pertença seja grande.
Outro hábito que existe desde sempre é partilhar os objectivos e resultados anuais com todos, assim como fazer reuniões durante o ano para mantê-los a par de como o negócio está a correr. A transparência é vital em equipas pequenas.
Como medem e avaliam os níveis de satisfação dos colaboradores?
A estrutura da empresa é muito horizontal, o que permite que todos tenham um contacto muito directo com as chefias. Além disso, a nossa cultura promove muito essa proximidade. De uma maneira geral, as pessoas partilham a sua satisfação e frustrações espontaneamente, mas estamos sempre muito atentos ao estado de espírito de cada um e quando sentimos que pode haver algum problema, mesmo que seja da sua vida particular, temos logo uma conversa com a pessoa em questão para mostrar a nossa disponibilidade em ouvi-la e ajudá-la. Mais formalmente, temos avaliações anuais que dão sempre lugar a uma conversa com cada um individualmente.
Que requisitos procuram nos candidatos e o que mais valorizam?
Além do que foi referido anteriormente 2, posso ainda acrescentar que a nossa preocupação é sempre garantir que as soft skills dos candidatos sejam compatíveis com a cultura da empresa, que a sua integração na equipa é boa e que a sua entrada é motivacional para os que já dela fazem parte. Isto é um ponto muito importante numa empresa em que o trabalho em equipa faz parte do seu ADN e onde a confiança no próximo é um pilar para o bem-estar no dia-a-dia.
Que tendências prevê para o futuro da Gestão de Pessoas?
A Gestão de Pessoas nunca mais se vai reger por programas e soluções fechadas em “one size fits all”. Já é e vai continuar a ser um órgão vivo em constante mutação e o seu sucesso vai ser tanto maior quanto maior for a capacidade de se criar soluções “tailor made” para cada pessoa.