Talento sénior: A história de Martim que, agora com 55 anos, vai recomeçar

Por Joana Russinho, People Enthusiast, head of Human Resources

 

Martim que não sabe parar, que trabalhou em três países com equipas interdisciplinares, que inventa o que fazer quando lhe escasseiam as obrigações. Filho de pai com a mesma energia no sangue e ele próprio um educador pelo mesmo exemplo. Martim agora com 53 anos a sentir-se traído, envergonhado, constantemente à procura de respostas para justificar o que teria feito de errado nos últimos 10 anos. O problema que estaria em si?

Ao longo do processo de luto, o círculo de relações começou a estreitar. Afinal não fora só o trabalho que perdera. Perdeu pessoas, supostas amizades, a fé. Muitos assistiram e quiseram saber o máximo possível durante os primeiros dois meses. Uma telenovela grátis de um conhecido próximo? Venha ela, enquanto o entusiasmo durou! Mas poucos permaneceram para além desse tempo. As telenovelas perdem o interesse após alguns episódios. E dá trabalho cuidar. Cuidar de quem não está bem não deve ser encarado com um trabalho, mas é percepcionado como tal e o acompanhamento como uma obrigação que, com o tempo, menos frequente se torna…

Martim mais desacompanhado, perdeu o sentido de humor, já não se ouviam as gargalhadas que provocavam outras. Tornou-se uma pessoa ressentida. Testa franzida, mãos fechadas, em silêncio. Temporariamente e com toda a legitimidade para assim estar e sentir.

Até ao dia. Não sei o que lhe aconteceu. Se foi a vida que chamou mais alto, a família que exigiu que regressasse ou a sua determinação que o acordou. Talvez todos os factores em uníssono, mas a verdade é que, ao fim de alguns meses, despertou.

Martim, luto feito, decidiu não se conformar. Cobrou ajudas que deu, ligou e voltou a ligar, insistiu apesar dos “nãos”. Perdeu a conta às vezes que ouviu que era overqualified; às que foi julgado pela idade e preterido, porque “afinal o processo não vai avançar”, não obstante o seu curriculum, a sua experiência de vida e de trabalho.

O talento sénior está a ser desconsiderado, resultado de preconceitos e estereótipos injustos como o receio da não actualização tecnológica, de um custo mais elevado, de uma falta de destreza física e intelectual, entre outros. Apesar de vivermos na era de escassez de talento, o estigma associado a um número que faz acender a luz vermelha no cérebro de quem está a recrutar continua latente.

Hoje, recebi finalmente a notícia pela qual tanto esperava. O Martim vai (re)começar a trabalhar! A empresa que o vai receber sabe o quanto vai ganhar com esta contratação. Deveriam outras seguir-lhe o exemplo. Maturidade, mundo, ponderação, solidez ética, entre outros. As pessoas que com ele trabalharão vão encantar-se com a dedicação, a latitude de soluções para problemas complexos, a capacidade de adaptação e de concretização.

Pode ser que daqui a mais dois anos leia um testemunho sobre esta contratação no site institucional da empresa. Nada como factos provados para ajudar a quebrar barreiras psicológicas. Precisamos de pessoas assim, haja quem as saiba valorizar.

Martim agora com 55 anos vai recomeçar.

Digo-lhe a brincar que esteve de licença sabática, ele responde-me com o seu sentido de humor que foi obrigado e que não gostou do presente.

Já se ri e já nos faz rir.

Bem-vindo de volta! Mostra-lhes como é teres contigo a experiência para partilhar e o equilíbrio para continuar a aprender!

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