A longevidade humana e os 50+

Por Luís Roberto, Managing Partner da Comunicatorium, Vice-Presidente da APECOM e Professor convidado do ISCSP-ULisboa

A longevidade da população, tem nos últimos tempos promovido debates e intervenções que defendem o alargamento do tempo do trabalho humano.
É um facto que  a carreira de um indivíduo pode durar muito mais, e as empresas podem ter de empregar pessoas até aos 60, 70 anos, à medida que o número de colaboradores entre os 20 e os 50 anos diminui.
Segundo alguns estudos, estima-se que a relação entre o número de pessoas ativas para cada pessoa reformada baixe dos atuais 8 para 1, para 4 para 1, em 2050.
Aliado a este facto, muitas pessoas no ativo ponderam prolongar a sua permanência no mercado de trabalho, como forma de garantir a sua estabilidade financeira e emocional.
Nos Estados Unidos, mais de 80% das empresas acreditam que os trabalhadores com mais de 50 anos são “um recurso valioso para treino e orientação” e oferecem “mais conhecimento, sabedoria e experiência de vida”.
No Reino Unido,  o governo tem incentivado as empresas a reter, e a recrutar pessoas acima dos 50 anos, e  desenvolvido políticas que apoiam a formação e a requalificação ao longo da vida. Não raras as vezes, observamos lugares de mentores, coaches e ou especialistas a serem ocupados por pessoas séniores.
Em Portugal, vive-se hoje, em média, quase 81 anos, colocando-nos como um dos países com maior esperança de vida do mundo, alterando-se o marco da terceira idade e a tradicional passagem para a reforma.
A existência de vidas mais longas em combinação  com o sistema da segurança social quase em rutura, levanta enormes desafios económicos, financeiros e sociais para a sociedade, que não devem ser ignorados.
É importante ter presente, que a longevidade humana vai implicar com o ciclo de vida das pessoas e com o seu percurso profissional nas empresas.
A “economia da longevidade” apelidada por alguns, deve ser vista como uma oportunidade para preparar o negócio e as pessoas, para um mercado em franca expansão. A mudança de pensamento e as práticas organizacionais, vão ter mudar no imediato, em resposta a esta realidade, que é mundial.
Enquanto observador atento, destaco o pioneirismo de algumas organizações que iniciaram este processo de mudança ao criarem as condições para a retenção e integração dos 50+ na sua estrutura organizativa.
A indústria automóvel norte americana, começa a trabalhar com funcionários mais velhos, registando-se um aumento de produtividade da linha de montagem, depois de introduzidas mudanças simples, como a instalação de bancadas de trabalho ajustáveis.
Há quem afirme que os 50+ não estão dispostos para trabalhar em full-time, e que não reúnem as condições fisico-mentais para situações de pressão e de grande stress.
Em resposta, algumas organizações estão a envolver os 50+ com opções flexíveis de trabalho e posições de tempo parcial, ao mesmo tempo que reduzem os seus custos operacionais.
A requalificação também desempenha um papel importante nas estratégias de sucesso para utilizar os talentos 50+.
Os engenheiros informáticos 50+, que desenvolveram as suas carreiras em tecnológicas mais antigas e que eram considerados experts em linguagens de programação como o Cobol, RPGIII, ou Fortran, podem usar essa experiência para trabalharem em Inteligência Artificial, num ritmo que será certamente mais rápido.
As empresas que estão a iniciar a implementação de programas para a integração dos 50+,  terão certamente a necessidade de conceber novas políticas salariais, mas importante também, é a formação dos novos líderes para gerir as pessoas através das gerações.
É fácil acontecer que um jovem líder tenha membros na sua equipa com a idade dos seus pais, e isso, requer uma preparação. Saber gerir e comunicar em ambientes multigeracionais é, absolutamente vital.
Acredito que está  acontecer uma das transformações sociais mais significativas deste século.
Segundo as projeções do Instituto Nacional de Estatística, a esperança média de vida em Portugal vai ganhar dez anos até 2080, pelo que é provável que os seres humanos ultrapassem os 100 anos no final do século XXI.
A assumpção tida como a mais verdadeira que a aprendizagem  termina aos 30 anos, que a progressão na carreira termina aos 40 e o trabalho termina aos 60 anos, não são mais precisas ou sustentáveis.
Repensar estratégias para as múltiplas gerações que integram as nossas empresas, exigirá mentes abertas onde a razão da idade é diversidade, e nunca poderá ser descriminação.