Trabalhar no Estado deixou de ser atractivo para os jovens mais qualificados

O economista da Organização Internacional do Trabalho (OIT) Daniel Vaughan-Whitehead considera que o sector público português deixou de ser atractivo para os jovens mais qualificados e que a austeridade poderá comprometer a qualidade dos serviços públicos.

“O que nós vemos é uma redução do capital humano no sector público, os trabalhadores mais qualificados estão a reformar-se e a ser substituídos por funcionários com menos qualificações porque o sector já não atrai os jovens mais qualificados”, disse o economista em declarações à agência Lusa a propósito de um estudo da OIT ainda a publicar sobre o impacto das medidas de austeridade sobre a Administração Pública.

Para Daniel Vaughan-Whitehead, o principal autor do estudo, o objectivo dos cortes no sector público português é “pagar menos e conseguir mais”.

“No entanto, se estes ajustamentos não forem realizados correctamente, irão custar muito dinheiro e, no final, o Estado pagará mais para conseguir menos”, alerta.

Para o responsável da OIT, é necessário, desta forma, que as reformas na Administração Pública “contemplem os efeitos de longo prazo e que analisem quais os serviços e que tipo de sociedade queremos ter no futuro”.

O estudo com o título “Public Sector Shock: The impact of policy retrenchment in Europe”, que conta com a colaboração de especialistas de vários países, caracteriza uma Europa que desvaloriza cada vez mais os funcionários públicos.

A organização considera que os funcionários públicos estão a ser muito afectados pelos cortes nos salários – mais do que os do privado – num fenómeno particularmente visível em Portugal.

A especialista que assina o capítulo do estudo dedicado a Portugal, Helena Rato, sublinha ainda que se até 2008 ser funcionário público significava «ter um trabalho para vida», com 76,8 por cento dos funcionários com vínculo permanente, hoje em dia já não é assim.

Helena Rato aponta ainda, no estudo consultado pela Lusa, para o congelamento das carreiras e da formação de excelência no sector público, perda de benefícios sociais e uma cada vez menor harmonização entre o trabalho e a vida familiar.

A emigração dos portugueses mais qualificados é também uma das consequências dos cortes nos salários públicos e de outros benefícios, que têm reduzido o poder de compra dos trabalhadores do Estado para níveis muito baixos, sem expectativas de mudanças», refere.

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