Paridade de género no topo: uma questão de quotas?
Na passada sexta-feira, dia 28 de Setembro, o Epic Sana Lisboa Hotel, recebeu o 7.º evento anual da PWN Lisbon. Como o tema “How to Get Women On Board – A Global Vision”, um diversificado painel de oradores partilhou visões e experiências sobre um tema que não é de hoje e não parece ter resolução simples à vista.
Que há um evidente desequilíbrio de género no que respeita a cargos de topo e de decisão ninguém nega. Que essa realidade tem implicações não só em termos de igualdade, mas de competitividade do negócio também poucos contestam. Mas então por que é que ainda existe uma tão baixa representatividade das mulheres em cargos de topo, quer a nível económico, quer político? E como de pode dar resposta a este problema?
Foi o que se debateu no 7.º encontro anual da PWN Lisbon, que reuniu mais de 300 profissionais, não só mulheres mas também homens. Com o objectivo de promover uma reflexão multidisciplinar sobre a diversidade na liderança e sobre a liderança como valor, reuniu personalidades nacionais e internacionais que protagonizaram uma discussão crítica sobre o tema.
A sessão teve início com a intervenção de Rosa Monteiro, secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade que defendeu haver duas dimensões fundamentais que é preciso trabalhar: uma liderança que exige representação equilibrada em cargos de decisão e uma liderança que seja indutora de alterações na cultura e práticas organizacionais com vista a uma igualdade efectiva. Entre as prioridades definidas encontra-se o combate à segregação sexual das profissões, combate às disparidades salariais, representação paritária em cargos de decisão e protecção da parentalidade.
A responsável falou dos programas em curso para trabalhar neste sentido, sublinhando que é um trabalho que tem que ser partilhado e articulado. «Não trabalhar no sentido da igualdade e da conciliação, é ficar para trás.»
Geraldine Gallacher, executive coach consultant e keynote speaker partilhou algumas estatísticas que dão conta da evolução, lenta, em matéria de diversidade na liderança (apesar de no Reino Unido terem atingido o número inédito de 30% de mulheres em conselhos de administração), falou do tema das quotas, da diferença salarial entre géneros (14,1% no Reino Unido) e deixou alguns conselhos sobre o que as organizações podem fazer: rever política de recrutamento, promoção e remuneração, promover liderança parental partilhada, tirar a penalização na licença de maternidade, apostar no talento feminino e recrutar mais homens para posições de apoio à gestão.
Fez ainda notar que o estigma está não só em relação à carreira das mulheres mas naquilo que se espera que façam para além do trabalho. De qualquer forma, as mulheres mostram maiores índices de felicidade.
Quotas: sim ou não?
Geraldine Gallacher juntou-se depois ao painel que deu nome ao encontro “How to Get Women on Board”, composto por Cristina Campos (directora-geral da Novartis), Duarte Pitta Ferraz (professor associado Univerisdade NOVA), Maria Antónia Torres (board member da PwC) e Vítor Bento (chairman da SIBS), com moderação do jornalista Camilo Lourenço.
O tema das quotas acabou por dominar o debate, com todas as mulheres presentes a admitir que antes não eram a favor, mas que se aperceberam que números não iam mudar a uma velocidade satisfatória se nada fosse feito (Maria Antónia Torres chamou a atenção para o facto “curioso” de existirem mais CEOs chamados Jon do que mulheres nos boards), porque há um preconceito inconsciente de quem escolhe, sendo por isso, agora, a favor das quotas. Tal como os dois homens do painel. Duarte Pitta Ferraz reforçou inclusive os bons resultados que se têm registado noutros países, mas chamando a atenção que é importante perceber-se por que se quer diversidade no board. A resposta é simples, porque é bom para o governance. Já Vítor Bento reconheceu que, se «num mundo ideal o critério seria só o mérito, no mundo real existem barreiras aos acesso das mulheres aos boards, por isso é preciso forçar essas barreiras a quebrar». Mas alertou que estes resultados não têm só a ver com discriminação, havendo muitas mulheres que não querem esses cargos.
Para além do sistema das quotas, Cristina Campos defendeu que, mais do que igualdade de género, é fã da diversidade, pois é o que potencia a inovação. E que é importante mulheres terem voz. E assumirem que querem o cargo. Geraldine Gallacher, por outro lado, alertou que é preciso tornar a função mais sexy, para que mais mulheres a queiram. E sugeriu que se use o método da “cortina” nos recrutamentos, ou “blank CV”, ou seja, apresentar só as competências, sem desvendar o género.
Duarte Pitta Ferraz aconselhou a estar preparado, porque estar num conselho de administração não é fácil; saber de táctica, governance e missão. Maria António Torres concordou que as mulheres precisam estar preparadas desde muito cedo, não só a nível profissional mas pessoal, sendo importante a escolha do marido. E ter consciência de que «podemos querer tudo; não podemos é fazer tudo». Ou seja, «não é preciso ser tudo perfeito».
Mudar a natureza dos empregos
O encerramento foi assegurado por Robert Baker, co-presidente da PWN Global, que fez notar que o progresso nesta matéria tem sido lento, não só nas empresas, mas em casa. Defendeu que é preciso mudar a natureza dos empregos pois parte-se do princípio que um CEO tem que passar três semanas em quatro a viajar. E corroborou esta ideia com o facto de, apesar de, nos últimos anos, estarem a ser contratadas mais mulheres para cargos de topo, também estão a sair mais, provavelmente por falta de worklife balance.
Salientou que no futuro a força do trabalho vai ser diversa, multi-cultural e multi-geracional e que para atingir equilíbrio na liderança é preciso haver uma mudança de cultura e mindset, ter uma pipeline de talento diversa e gerir activamente programas de flexibilidade e de condições de trabalho.
«Se isto for alcançado, teremos mais mulheres em cargos de topo e, consequentemente, diversidade de pensamento, será mais fácil atrair talento diverso, haverá melhor fit com diversidade dos clientes, e melhor performance e menos risco. E se mudarmos as mentalidades e a cultura organizacional, vai deixar de importar se é homem ou mulher. Esse papel é das empresas, mas também de cada um de nós», concluiu.
O evento contou também com intervenção de duas representantes da PWN Lisbon. A presidente, Ana Torres, deu conta dos programas que têm vindo a ser desenvolvidos para ajudar a mudar as organizações: em Fevereiro de 2017 a PWN Lisbon lançou o programa Women on Board; desde 2012 promove o Leadership Program; tem também um programa de mentoring; e vai ser lançado o Youth Program, para quem saiu agora da faculdade e está a iniciar o seu percurso profissional. Sublinhou ainda que «educar a sociedade é o primeiro passo para a igualdade na liderança».
Já Mariana Branquinho da Fonseca, deu conta, de forma mais detalhada, do que o Programa Women on Board está a fazer e de que forma, sendo que identificar as mulheres com maior capacidade para desempenhar cargos de gestão de topo e ter um advisory board para garantir o envolvimento dos stakeholders é um “work in progress”.
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