Está à espera do vento no papagaio?
Opinião de Paula Carneiro
Head of Talent & Organisation Development do Grupo Cimpor
A vida quase nunca é como gostávamos que fosse. Ela é o que é e acontece independentemente de nós planearmos fazer outra coisa qualquer. No meio destes tempos menos fáceis que hoje vivemos, há aqueles que passam o seu tempo a queixar-se disso e da forma como nada melhor podem fazer do que esperar que passe ou que “eles” resolvam o problema.
Ou porque o contexto macro económico é desfavorável e não o podem alterar ou porque não podem mudar as leis e politicas, tudo serve de desculpa para a censura e inacção. Outros, no entanto, perante a mesma realidade, escolhem fazer a diferença e são actores do seu próprio destino.
Apesar de provavelmente à nossa volta abundar mais o primeiro tipo de perfil, dando corpo ao fado e ao destino a que os portugueses tão gostosamente gostam de se agarrar, fico muito orgulhosa de ser portuguesa e poder constatar que apesar de tudo existem inúmeros casos de liderança em português cujo sucesso é de louvar dentro e fora de fronteiras.
Universidades que estão no topo dos rankings mundiais, empresas que são casos de inovação e internacionalização de sucesso, quadros e investigadores em organizações de destaque, artistas e futebolistas que são embaixador da nossa pátria e até o Pastel de Nata se prepara para conquistar o mundo.
O que têm em comum estes ícones da nossa nação?
Cada um, da sua forma, tomou o seu destino nas suas mãos. Todos decidiram concentrar-se no que podem fazer, na solução do problema e não naquilo que não podem controlar ou alterar.
O primeiro passo que deram foi saber o que queriam ser e fazer e cada um destes casos de sucesso concentrou-se na sua missão única e executou-a com disciplina e paixão. Encontraram a sua força de vida e transformaram-se no seu próprio “patrão”. Ajudaram outros a fazer o mesmo e fizeram-no com eles. Foram melhorando com o caminho percorrido, olhando para a frente de uma forma positiva, respeitando o presente, mas concentrando-se no futuro, comprometidos em fazer funcionar cada dia como uma nova oportunidade de fazer bem, de conseguir fazer melhor, de ganhar e de errar e voltar a tentar.
Com uma voz, uma bola ou um conjunto de ferramentas de gestão e investigação, cada um da sua forma, deu corpo ao seu sonho e pensou: “Estás por tua conta, e sabes o que sabes e és aquele que pode decidir o que fazer e por onde ir”. E você? Acorda de manhã a pensar: “Parabéns! Hoje é o teu dia. Podes ir a muitos lugares. Tens um cérebro na tua cabeça, pés nos sapatos, podes escolher a direcção que quiseres.”
Há quanto tempo você e a sua equipa não fazem este exercício? Quando foi a última vez que analisou a sua missão? O que faz, o que gostaria e/ou deveria fazer com a sua vida, a sua equipa e a sua empresa? Poderá ser mais eficaz e eficiente? Focaliza-se naquilo que é mesmo essencial e abandona o supérfluo? Está a liderar o seu sonho? Ou está à espera que o telefone toque, o peixe morda o isco ou o vento sopre no papagaio? Há no nosso País demasiadas pessoas à espera e estar à espera é talvez o menos útil dos comportamentos que podemos ter, num momento onde os desafios se podem tornar oportunidades.
Há pontos a marcar e jogos a ganhar. Esta é uma atitude que temos de ter, incentivar nos outros e desenvolver nas organizações e enquanto País. A vida é o que fazemos dela. A diferença está na forma como cada um a encara e enfrenta o seu dia e o seu caminho.
Afinal de conta o “eles” não somos mesmo ”nós”?