Quais as tendências para o futuro do recrutamento?
Em cada 100 contratações, 13 falham ou as pessoas abandonam a organização durante o período de experiência. O estudo da “Atrair o Talento do Futuro”, da Michael Page, deixa algumas pistas que explicam porque é que isto acontece.
Na altura de procurar emprego, os candidatos valorizam cada vez mais vínculos laborais com significado, querem compreender o propósito das suas funções e sentir-se realizados nas tarefas que desempenham. De acordo com a empresa de recrutamento, que entrevistou recrutadores de diversos países, incluindo Portugal, esta é uma mudança muitas vezes associada a millennials, mas que «tem um eco intergeracional».
O estudo revela ainda a aceitação tácita, tanto para colaboradores como para empregadores, de que deixou de haver empregos para a vida, acompanhada pelo aumento da importância dos contratos a prazo e de trabalho temporário.
Outra das conclusões dá conta de que o salário e a reputação da empresa deixaram de ser os aspectos que mais pesam na motivação dos candidatos. Os compromissos sociais, causas e temas apoiados pelas organizações são, por sua vez, os principais factores de diferenciação de uma empresa, assim como a valorização da formação, das avaliações, da comunicação genuína e na informação transparente sobre a empresa.
Do lado das empresas, também elas afastam a perspectiva tradicional de que o dinheiro é o factor mais importante, destacando a evolução da função e da própria empresa como relevantes para a atracção de talento. De acordo com o estudo, o envolvimento dos colaboradores e a sua transformação enquanto embaixadores da marca é um método já utilizado por 36% das empresas para atrair gestores e encontrar os melhores perfis de forma mais rápida.
Álvaro Fernández, director geral da Michael Page, faz notar que «quando os empregadores compreendem a motivação e os pontos de interesse dos seus colaboradores, podem usar essa informação para atrair os melhores candidatos através da sua imagem de marca como empregador». «Se conseguir transformar os seus colaboradores de topo em embaixadores da marca, está a contribuir para criar uma primeira linha aberta e transparente de informação sobre a empresa», defende.
Segundo as perspectivas da Michael Page, a compreensão das competências sociais e comportamentais (soft skills), da motivação e da personalidade dos potenciais candidatos são aspectos importantes no recrutamento do futuro, devendo considerar-se ainda o respeito pela individualidade. Na prática, «trata-se de encontrar as personalidades certas para a função, com uma conjugação de inteligência emocional e competências cognitivas, e mudar mentalidades no que se refere ao perfil do melhor candidato», explica.
Dados da consultora mostram ainda que em cada 100 contratações, 13 falham ou as pessoas abandonam a organização durante o período de experiência. E não é só. Em cada três pessoas, uma abandona a empresa no primeiro ano. «Um dos factores para contrariar esta situação reside na reavaliação das competências técnicas e comportamentais», diz, sugerindo que, entre outras estratégias, os empregadores melhorem os anúncios de emprego, tornando-os mais transparentes, para motivar potenciais candidatos.
Na sequência dos resultados do estudo, Álvaro Fernández conclui também que, «no futuro, o mercado de trabalho terá mais automatização em todos os processos». No entanto, frisa que «o objectivo não é substituir o humano na cadeia de valor, é dar-lhe apoio e expandir as suas capacidades. A tecnologia ajudará a aumentar as competências das pessoas ao acelerar os processos de selecção ou ao contribuir para a eliminação de enviesamentos nos anúncios de empregos».