Por que é que os salários quase não crescem?
O facto de a tabela salarial não estar a acompanhar a descida das taxas de desemprego com a mesma intensidade está a causar um fenómeno global de estagnação dos salários. Esta é a principal conclusão da oitava edição do Hays Global Skills Index, realizado pela Hays em colaboração com a Oxford Economics.
O relatório, intitulado de «The Global Skills Dilemma: How Can Supply Keep Up With Demand?», revela que houve uma queda generalizada nas taxas de desemprego a nível global nos últimos anos. Mas o que continua a ser uma preocupação para os economistas é «o subsequente fracasso da inflação salarial em seguir o exemplo», uma vez que «isso criou um fenómeno incomum de estagnação salarial nos mercados globais».
No barómetro deste ano, a pontuação geral permanece inalterada em relação a 2018 (5.4), apesar da crescente incerteza geopolítica nos mercados globais. Isto deve-se ao facto de as condições do mercado de trabalho altamente qualificados permanecerem semelhantes às do ano passado. No entanto, «as tendências de estagnação salarial, subemprego – onde as pessoas que desejam trabalhar em período full-time não estão a fazê-lo – e o desajuste de talentos, em diferentes localizações geográficas, contribuíram para as diversas pontuações regionais do índice».
«O Index deste ano destaca uma mudança estrutural no mercado de trabalho, assim como as inovações tecnológicas que fundamentam a estagnação salarial evidente nos mercados de trabalho globais. Estes dois factores associados ao subemprego como resultado do longo prazo da Crise Financeira Global, significam que a força de trabalho global enfrenta menos oportunidades de trabalho e remuneração, o que não pode acompanhar o aumento dos custos e da inflação», comenta Alistair Cox, director executivo da Hays.
Por outro lado, o indicador de Desajuste de Talentos subiu para os 6.7 este ano, o valor mais elevado desde o início do barómetro em 2012. «Essa tendência preocupante continua a gerar diferenças salariais entre profissionais qualificados e não-qualificados, particularmente na região da Ásia-Pacífico. Para além disso, as aptidões mais procuradas são escassas em todo o mundo, causando uma queda nas taxas de participação, principalmente na América do Norte, e o que contribui para o aumento do subemprego», lê-se.
De acordo com o estudo, o rápido avanço tecnológico é um principais factores que contribuem para o agravamento do subemprego e para o desajuste de talentos, mesmo nas economias mais avançadas do mundo. «Num cenário de crescente incerteza económica de progresso tecnológico contínuo, os empregadores devem investir em formação de longo prazo, minimizar o subemprego por meio da alocação estratégica de capital humano e capacitar a força de trabalho global para ter sucesso em meio às mudanças nas condições de trabalho.»
Além disso, acrescenta que «regulamentos que restringem a mobilidade dos trabalhadores, reduzem a competitividade e prejudicam as empresas a longo prazo».
Faz também notar que a predominância das mulheres em funções rotineiras,mais vulneráveis à automação, explica quase 5% da diferença de salários entre os sexos. Da mesma forma, «a segregação ocupacional também pode limitar a capacidade das mulheres de aproveitar os benefícios da globalização nas economias em desenvolvimento», realça.
Para Alistair Cox, as tendências apresentadas têm implicações significativas para os principais stakeholders, empresas, decisores e profissionais. Por isso, «é crucial que, no futuro, sejam feitos mais investimentos de forma a alinhar a tecnologia, a força de trabalho e a formação», para que os profissionais possam «maximizar a produtividade em conjunto e não em conflito com os avanços tecnológicos».
«Se não procurarmos abordar essas questões num futuro próximo corremos o risco de desencorajar ainda mais os profissionais ao não aumentar os salários, proporcionar pleno emprego e prestar contas do progresso tecnológico no local de trabalho», alerta, aconselhando que, «embora complexas, as aptidões e as crises salariais estão ligadas e, para evitar que fique fora de controle, os empregadores devem reavaliar colectivamente o crescimento dos salários e as aptidões no mercado de trabalho global».