Networking: utilidade e moralidade
Os comportamentos de rede, ou o tão comum networking, são tentativas que as pessoas fazem para criar e promover relacionamentos ou redes de contactos, na esfera social e profissional, com outras pessoas que poderão ajudá-las, directa ou indirectamente, no desenvolvimento das suas carreiras.
Por Liliana faria, docente da Faculdade de Ciências da Saúde e do Desporto da Universidade Europeia
Do mesmo modo que ninguém questiona que a alimentação saudável e o exercício são fundamentais para o bem-estar das pessoas, também é inquestionável que construir, manter e alavancar comportamentos de rede é uma competência essencial para qualquer profissional, na medida em que estes podem facilitar o acesso a recursos pessoais e profissionais.
No entanto, saber o que fazer – seja para comer melhor, para seguir um plano de exercício adequado ou para criar redes de contactos com sucesso – não é condição suficiente para dar resposta a esses objetivos. É preciso acreditar que estes esforços são legítimos e eficazes. Mas é isso que acontece? Será que as pessoas acreditam na legitimidade e utilidade do networking?
A resposta é sim e não.
Sim, porque há pessoas que acreditam, põem em prática, e obtêm vantagens, pessoais e profissionais, de ações que visam o estabelecimento de relações e de redes de contactos. Desde a troca de ideias e de conhecimento, à partilha de contactos, indicação de cursos de formação e de vagas de emprego, ao pedido de amizade nas redes sociais, à participação num evento, ou até à apresentação de um projecto pessoal, tudo é usado para criar ligações pessoais e profissionais que mantenham a pessoa em evidência no mercado de trabalho.
Não, porque não é difícil encontrar pessoas inteligentes, esforçadas, socialmente competentes, mas que, ainda assim, evitam ou se recusam a fazer networking. Embora reconheçam a importância da rede de contactos, muitas pessoas questionam a sua moralidade e utilidade.
Para muitos, a ideia de criar redes de relacionamentos para construir laços sociais e, assim, apoiar os seus objectivos profissionais ou pessoais provoca uma ambivalência moral, senso de futilidade ou, até mesmo, pavor e aversão. Há quem diga inclusive que é “sujo”. Sim, sujo. Esta é a palavra que algumas pessoas usam para descrever o networking, de acordo com a literatura acerca desta temática. Para outras, o networking simplesmente não tem qualquer utilidade.
Navegar no LinkedIn ou Twitter, entregar cartões de visita, inscrever-se em associações profissionais de prestígio e participar em eventos sociais, dificilmente se traduz em algo com retorno positivo. É inútil, na melhor das hipóteses, e contraproducente na pior. Em alguns casos, estes comportamentos relativos à moralidade e à utilidade das redes podem combinar-se para criar um vínculo duplo que desmotiva, inclusivamente, profissionais experientes com habilidades e recursos suficientes para criar redes de relacionamentos.
Mas, então, porque será que isto acontece? Porque é que pessoas inteligentes, cognitiva e socialmente, reconhecem que o networking é uma competência importante na gestão da carreira, porém duvidam da sua moralidade e utilidade?
Efectivamente, não há uma resposta única e consensual. Muito provavelmente, as dúvidas e receios em relação ao networking são provenientes de preconceitos, que poderão decorrer do conhecimento de más práticas neste âmbito. Haverá, de facto, pessoas que usam formas específicas de comportamento antiético na prática de criação de relacionamentos e de redes de contactos. Tentam aproximar-se dos outros por má-fé, abusando da sua confiança, com sentido de oportunismo, ou até, criando redes como suborno disfarçado, cooperando na irregularidade de outros actores da rede.
Todavia, quando assim é, não se trata de networking, mas sim de má conduta. O networking assenta em princípios como a boa-fé, partilha de objectivos honestos e participação de actividades lícitas; partilha de informações, conhecimentos e recursos, assentes nos princípios da reciprocidade e gratuidade, justiça nas relações de poder assimétricas, exercício de uma influência ética positiva dentro da rede. Posto isto, importa dizer que há limites na prática de networking.
É importante que haja mais formação nesta área. Formação séria, que ajude as pessoas a construir pontes entre si, de modo honesto e fiel a si próprias e aos seus valores, integrada, por exemplo, em programas de competências para a vida no currículo escolar, bem como em cursos de formação ao longo da vida, considerando os diferentes níveis e estádios da carreira de cada um.
Nunca é tarde para se beneficiar da rede e explorar as competências que permitam utilizá-la, de forma ética e eficaz.