Patrícia Medeiros, DRH do Montepio Crédito: «Em cada crise existe uma oportunidade»
Perante o confinamento e a obrigatoriedade do teletrabalho, o Montepio Crédito apelou à união e à participação dos colaboradores em diversas iniciativas realizadas 100% online. O objectivo é manter o espírito de equipa, através da digitalização.
Por Sandra M. Pinto
Uma das iniciativas foi a criação do “Avião de Papel” – o grupo de Facebook dos colaboradores da instituição financeira -, sobre a qual conversámos com Patrícia Medeiros, directora de Recursos Humanos do Montepio Crédito.
Como e quando surgiu a ideia de fazer um grupo de Facebook dos colaboradores do Montepio Crédito?
Surgiu da necessidade e da vontade de criar e desenvolver formas de nos mantermos unidos, numa missão comum, num tempo em que todos se viram obrigados ao confinamento em casa, com equipas completas em teletrabalho. Desta forma, permitimos que os colaboradores se relacionassem e interagissem, quer formal, quer informalmente, de modo a manter o espírito de coesão de grupo que tanto nos caracteriza, mesmo à distância.
Quais os colaboradores a quem se destina? Todos os da organização?
Dirige-se e envolve todos os colaboradores e ainda, por extensão, em modo alargado, as suas famílias, pois é altamente promovida e incentivada a sua plural participação.
Porquê o nome de “Avião de Papel”?
Todos nós, quando fomos crianças, fizemos um avião de papel para nos levar até onde a nossa imaginação nos permitisse. Este foi o mote para o desafio do nosso avião de papel, um espaço aberto à criatividade, para nos transportar até a um mundo um pouco melhor do que aquele em estamos actualmente a viver.
Com que objectivos foi criada?
O principal objectivo foi mantermo-nos vivos e presentes, próximos e coesos, em tempo de confinamento; mostrar às nossas pessoas que, apesar de fisicamente distantes, estamos sempre perto e, acima de tudo, estamos com elas.
Como foi a receptividade dos colaboradores à criação do grupo?
Foi óptima; muito boa mesmo; surpreendente, até! O grupo foi criado em Março de 2020, no exacto momento em que se iniciou aquela que viria a ser a maior alteração das nossas vidas, um momento em que tudo era ainda tremendamente desconhecido, vivendo-se um sentimento de medo e susto permanentes.
Construir uma forma de, nestas condições, podermos estar juntos, acabou por ter um impacto enorme nos nossos colaboradores, a adesão foi total e muito rápida, em poucas horas tínhamos todos os colaboradores como membros deste grupo, dando vida ao nosso “Avião de Papel”.
Esta aposta no digital já vinha sendo uma prioridade para a organização antes mesmo da pandemia ou não?
Sim, o caminho para o digital já se tinha iniciado, a pandemia veio apenas acelerar essa realidade e o desenvolvimento do processo. O Montepio Crédito conseguiu, muito rapidamente e com grande agilidade, colocar toda a sua equipa em teletrabalho, tendo sido uma das empresas que o conseguiu fazer com maior celeridade, o que demonstra o seu pioneirismo, nomeadamente no sector em que desenvolve a actividade (a Banca), que continua a ser muito tradicional e conservador.
Tínhamos também iniciado o nosso processo de transformação digital, criando a aplicação “mycreditech” que permite a contratação de crédito totalmente à distância. Nestes tempos de pandemia, foi certamente uma ferramenta muito oportuna e essencial para os nossos parceiros e clientes.
Que iniciativas levaram à prática para manter a motivação e envolvimento dos colaboradores em teletrabalho?
Promovemos as mais variadas iniciativas, de modo a abranger e envolver todos os colaboradores. Procurámos juntar uma componente mais lúdica, em que tivemos workshops de culinária, momentos de stand up comedy, magia, concertos musicais; a uma componente mais dirigida para o bem-estar das nossas pessoas, incorporando palestras motivacionais com temas variados, desde a superação, a nutrição, a psicologia; enfim, todos aqueles temas que sentimos serem marcantes para fazer passar uma mensagem positiva às nossas pessoas.
De que forma evoluíram essas iniciativas ao longo do ano de 2020?
As iniciativas foram evoluindo para várias temáticas e com diferentes incidências e intensidades, um pouco ao sabor das expectativas e preferências dos nossos colaboradores. Chegámos, inclusive, ao momento em que passaram a ser eles mesmos a sugerir e apresentar novas iniciativas a implementar.
Se no princípio achávamos que esta pandemia iria durar pouco, ao longo do tempo fomos tendo consciência de que assim não seria. Foi, por isso, necessário repensar todos aqueles momentos em que temos por hábito aproveitar para celebrar em equipa, por exemplo a Páscoa, o aniversário da empresa ou o Natal, e tentar encontrar a melhor forma de celebrarmos juntos esses momentos que tanto valorizamos, perante a inevitabilidade de estarmos distantes uns dos outros.
É a digitalização agora mais importante do que nunca para manter o espírito da equipa?
Sim, é um facto. Creio que todos nós já sabíamos que as ferramentas existiam, mas não há forma melhor de as experimentarmos do que exercitar, utilizando-as de facto, mesmo que obrigados pelas circunstâncias. Antes da pandemia já havia o teams, o zoom, mas quantos de nós as usávamos?
Foi preciso uma pandemia para sermos confrontados com a inevitabilidade de nos dedicarmos a descobrir as potencialidades de todos os meios digitais que temos à nossa disposição e a perceber a sua enorme utilidade, enquanto ferramentas que nos aproximam e nos mantêm em contacto activo.
Hoje temos consciência de que a distância física contribuiu para reforçar ainda mais o espírito de equipa que sempre caracterizou o Montepio Crédito. O facto de estarmos longe, partilhando necessidades e dificuldades, permitiu que nos soubéssemos colocar no papel do outro e isso criou uma muito maior predisposição para a entreajuda.
Sendo que, e apesar do desconfinamento já ter começado, continuamos em teletrabalho, alguma iniciativa especial pensada para breve?
É um facto; o desconfinamento já se iniciou, mas é claro e evidente que esta ainda não é uma altura de convívio; temos de continuar a cumprir rigorosamente com todas as medidas de segurança, cautela e proteção. A Páscoa, à semelhança do ano passado, foi mais uma Páscoa confinada, pelo que pensámos e concebemos uma iniciativa para assinalar esta época especial. Tivemos o mês de Março com “em casa com o Toy” e terminámos com um concerto em directo, na Quinta-Feira Santa.
De que forma decorreu essa iniciativa e porque escolheram este artista para colaborar em tal evento?
Mais uma vez, procurando abranger todos os gostos e preferências do nosso público-alvo, escolhemos o Toy pela sua alegria, espontaneidade e versatilidade. O Toy é um artista que consegue pôr toda a gente a cantar e a divertir-se, sendo esse o espírito que queremos passar; celebrar em equipa com alegria!
Como foi a receptividade dos colaboradores?
Como vem sendo habitual, a receptividade foi muito positiva. A interação com o artista proporcionou uma participação bastante entusiasta. Foi criada uma juke box com 10 músicas do Toy, para que todos pudessem votar nas suas cinco preferidas. Apurados os resultados, construiu-se um karaoke com tais músicas e os colaboradores foram desafiados a partilhar fotos e vídeos das suas prestações, a solo ou com as famílias.
Os colaboradores foram ainda desafiados a partilhar palavras que definissem o que é para eles a “Páscoa Montepio Crédito” ou “Família Montepio Crédito” e, com essas sugestões e partilhas de todos, o Toy escreveu a letra para uma canção que compôs para nós. Tratou-se de um momento surpresa, apenas divulgado no Concerto da Páscoa, exclusivo para o nosso grupo.
Que balanço fazem de 2020 e da implementação do teletrabalho?
Fazemos um balanço francamente positivo. Mais uma vez, a nossa equipa respondeu à altura quando foi colocada perante mais um desafio, desta vez tão inesperado e diferente. Conseguimos manter os nossos índices de qualidade na resposta aos clientes e ser muito eficazes. O facto de estarmos em teletrabalho não traduziu qualquer decréscimo de produtividade; aliás, e pelo contrário, conseguimos melhorar a performance e os resultados obtidos pela empresa assim o confirmam.
A máxima que seguimos é “maior liberdade, maior responsabilidade” e as nossas pessoas seguem-na com muito profissionalismo e sentido de compromisso.
Quando e de que forma pensam regressar ao escritório?
O Montepio Crédito continuará a ter uma postura de vanguarda, zelando por proporcionar aos seus trabalhadores as melhores condições de segurança. Esta foi, é e será sempre a nossa prioridade. O regresso ao escritório será, por isso, muito bem planeado e com toda a tranquilidade. Será certamente faseado e muito controlado, mantendo a característica de equipas em espelho até que estejam garantidas todas as condições para que um eventual regresso mais massificado possa generalizar-se.
Muitas empresas já revelaram que vão manter um modelo de trabalho híbrido. E a vossa organização, que modelo de trabalho tenciona implementar no pós-pandemia?
Estamos bastante atentos e a procurar construir com racionalidade e alguma ousadia esse modelo híbrido. Acima de tudo, estamos a ouvir as nossas pessoas para saber o que preferem e conseguir estruturar um caminho, de modo a conceber um modelo de trabalho futuro, com equilíbrio, bom senso e eficácia. Vamos procurar criar regras que sejam claras, simples e compatíveis com todos.
Tencionam manter o grupo de Facebook depois do fim da pandemia?
Sim, mesmo depois da pandemia, este grupo tornou-se um local de partilha e é muito acarinhado e apreciado por todos. Será sempre uma forma de, no futuro, conseguirmos partilhar as nossas vivências. Não vejo por que tenha de ser descontinuado.
Criar uma iniciativa semelhante ao “Avião de Papel” para os clientes é uma hipótese?
O Montepio Crédito já tem a sua página própria no Facebook, onde partilha com todos os seus clientes e parceiros os produtos que promove, as suas notícias e também muitos eventos, como por exemplo, o concerto da primavera intitulado “Montepio Crédito, uma marca tocada pela música da esperança”, com a Orquestra Filarmónica Portuguesa, dirigida pelo maestro Osvaldo Ferreira.
Que ensinamentos retiraram de toda esta situação?
Mais do que tudo, e correndo o risco de parecer cliché, retirámos o ensinamento de que em cada crise existe uma oportunidade. Esta pandemia trouxe-nos muitas coisas más e indesejáveis, mas também nos trouxe coisas muito boas; fomos capazes de nos reinventar, de nos adaptar e manter a nossa empresa com níveis muito saudáveis, reforçando a importância das pessoas nas organizações.
Também somos hoje mais conscientes de que o futuro terá de ser mais sustentável a nível ambiental. As cidades, com o confinamento, ficaram muito mais “respiráveis” e o Montepio Crédito, com a sua já enraizada responsabilidade social, tudo fará para contribuir para o bem estar das gerações futuras, competindo-nos a todos exercitar esse comportamento cívico.