50 anos? O fim e o recomeço

Por  Ricardo Oliveira Nunes, Human Capital Director da Bring Global Solutions & Services

Durante o início da minha carreira profissional a barreira dos 50 anos era quase sempre apontada como o fim da linha. Aquela idade temida em que temos de ter a carreira bem definida e segura e em que a mais arriscada mudança pode ser fatal. Mudar de emprego depois dos 50 era sinónimo de demasiado velho, demasiado experiente, demasiados vícios, demasiado caro ou… demasiado tudo.

As razões apresentadas por algumas empresas eram sempre as mesmas: nesta altura da vida já não aprendemos, já não temos a energia dos 30 ou 40, um jovem faz o mesmo trabalho melhor e o custo é inferior, precisamos de pessoas mais novas porque trazem ideias novas e são mais moldáveis…etc.

Como é evidente, quando nos aproximamos dos 50, quer queiramos quer não, estes receios assaltam-nos de imediato e eu não fui exceção!

Felizmente apercebi-me que a situação no mundo laboral está a mudar. Hoje muitas empresas já procuram misturar experiência com inovação, e juventude com solidez de conhecimentos.

Pessoalmente sempre gostei de desafios, de aprender e de estar na zona do desconforto. Por isso, quando aos 51 fui convidado para ser o diretor da direção de pessoas e processos na Novabase depois de décadas na área do negócio, percebei que ao contrário do que era comum abria-se uma mudança na minha vida profissional no dobrar da temida idade dos 50. Foi tempo de perceber que era possível recomeçar, reaprender, regressar à universidade, estudar e embarcar numa nova experiência profissional. No entanto continuava na mesma empresa, era uma espécie de mudança segura sem a sensação de verdadeiro recomeço.

3 anos depois, e eu com os 50 a subir, chegou ao fim o mandato do CEO com o qual tinha definido um plano e um objetivo. Com a missão bem cumprida regressou a dúvida: e agora que fazer com 54 anos de vida e 23 na mesma empresa? Como se recomeça no meio de uma pandemia e regressa a um mercado de trabalho em tumulto?

Intimamente acreditava em algo que fui aprendendo ao longo da minha vida: nunca devemos dizer nunca e abandonar a atitude positiva. Com isto em mente lancei-me à procura do meu novo desafio, preparado para ouvir os “demasiados” e as desculpas para a contratação de um profissional com mais de 50 anos.

Inesperadamente, sem esperar muito tempo, surgiu o convite perfeito e exatamente na área dos recursos humanos, como eu ambicionava. A cereja no topo do bolo veio quando percebi que teria como missão transformar a área de Human Capital para a nova fase da empresa Bring Global.

Durante as negociações para o novo trabalho percebi que, ao contrário do que eu receava, era afinal a minha experiência, percurso, conhecimento do negócio e de recursos humanos, o que pesou decisivamente na minha contratação.

Nas conversas com o CEO desta nova empresa ficou claro que era este o perfil exato que procuravam. Sem mais demoras acabei por ser contratado como o novo Human Capital Director da Bring, quase aos 55 anos.

Sei que o meu é um caso apenas e não pode ser generalizado para todas as pessoas de 50 anos que procuram um novo desafio profissional. No entanto, acredito que cada vez mais empresas modernas procuram este tipo de mistura nos seus quadros profissionais. A força e inovação dos mais jovens, com a experiência e segurança dos mais velhos. Uma combinação que pode ser a receita perfeita para tornar as empresas mais competitivas e sólidas.

Pela minha parte, confesso que não há nenhum segredo para alcançarmos este patamar. Apenas acredito em alguns princípios, os mesmo que também procuro nos profissionais que agora lidero e com quem trabalho:

 

  • Não devemos ter vergonha da nossa idade, a menos ou a mais.
  • A experiência/conhecimento, bem como a inovação e a descoberta, são uma vantagem para qualquer empresa.
  • A capacidade de querer aprender e conhecer novas técnicas é fundamental.
  • Agarrar sem medo novos desafios, mesmo que signifiquem recomeçar do zero.
  • Manter sempre o pensamento positivo, o otimismo e a humildade.
  • Conhecermos bem as nossas capacidades, mas ainda melhor as nossas fragilidades.
  • E, por último, não acreditar no impossível e… nunca utilizar a palavra nunca.

 

O nosso caminho profissional depende sempre de inúmeros fatores que jamais poderemos controlar. Nunca é em linha reta e invariavelmente com insucessos, mas se acreditarmos em nós em vez de lugares-comuns e ideias preconcebidas podemos sempre recomeçar. Já como responsável por recursos humanos não tenho dúvidas que são as empresas com esta nova atitude as que estão mais bem preparadas para o tão desejado recomeço do negócio.

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