Pedro Barbosa, Wise Pirates: «Sem pandemia, só em 2024 atingiríamos os valores de facturação que temos hoje»

Chama-se Wise Pirates, fica no Porto e trabalha o marketing digital. A empresa dirigida por Pedro Barbosa teve um crescimento acelerado durante na pandemia, algo que levou o CEO a revelar que, sem pandemia, só em 2024 atingiríam os valores que têm hoje. Com o aumento de actividade surgiu a necessidade de recrutar, algo que fizeram nos últimos dois anos e que vão continuar a fazer, revelou à Human Resources.

Por Sandra M. Pinto

 

A Wise Pirates terminou o ano passado com 100 colaboradores e um pouco mais de quatro milhões de facturação. Pedro Barbosa identificou os desafios que tiveram de enfrentar e em que alicerces assentam a sua actividade de forma a marcarem a diferença no mercado.

 

Gostava de começar por perguntar como surgiu a ideia do nome, o qual é de facto bastante curioso?

O nome Wise Pirates baseia-se em duas vertentes que assentam no princípio de diferenciação e disrupção que trouxemos para o mercado português – uma vertente de conhecimento e outra de atitude. No conhecimento, sabemos que nos dias de hoje a única possibilidade de realmente acrescentar valor é ter grande maturidade digital e conhecimento profundo que misture negócio, com marketing e parte de engenharia. É nessa fusão que acrescentamos valor. Na atitude, porque viemos trazer uma abordagem ao mercado de partilha de risco e total transparência, misturada com grande proximidade dos clientes e agilidade extrema. A coesão da nossa equipa é um elemento central de todo este posicionamento estratégico e o facto de sermos independentes é critico para nos divertirmos, enquanto contribuímos de forma decisiva para a maior maturidade do ecossistema digital em Portugal.

Quando nasceu a empresa e o que levou à sua criação?

A Wise Pirates nasceu em 2017, para dar resposta a um gap de mercado. Na altura em que surgiu, as agências de marketing trabalhavam maioritariamente da mesma forma e ofereciam o mesmo a todos os clientes, e nós quisemos surgir com uma proposta de valor única e disruptiva, com foco especial em performance, inspirada nas melhores equipas mundiais desta especialidade. Por outro lado, quisemos trazer para o mercado uma forma diferente de modelo de retribuição. Temos a retribuição indexada aos resultados, e isto faz com que o foco e a colaboração seja conjunta, porque todos ganham com a performance e resultados e todos sentem a pressão do insucesso por igual. A partilha de risco e transparência total foram e são bandeiras de diferenciação, a par da orientação para resultados e grande proximidade dos parceiros, como extensão das respectivas equipas. A combinação destes elementos de diferenciação continuam a ser parte integrante de uma proposta única de valor em Portugal e não só, e só assim pudemos ser eleitos “Top 10 Digital Marketing Agencies in Europe”, posição recentemente atribuída pela Martech Outlook.

Em que assenta exactamente a vossa actividade?

O core da nossa actividade é o marketing de performance. Desenhamos, operacionalizamos e executamos estratégias de comunicação digital multicanal, que incluem, além da liderança de expertise em áreas como redes sociais e Google, áreas como automação de marketing, e-commerce end-to-end, Marketplaces (Amazon, Worten, etc), Customer Relationship Management (CRM) e Customer Data Platform (CDP), Search Engine Optimization (SEO) e Search Engine Marketing (SEM), projectos de data e produção de sites de e-commerce em Shopify, além de uma alargada oferta de GMP e Cloud. Na prática, mais que ajudar as empresas só no digital, usamos o melhor do digital para ajudar as empresas em todos os domínios do seu negócio.

Para muitos sectores a pandemia foi algo mau, mas se olharmos para os vossos resultados não podemos tirar a mesma conclusão, correto?

A pandemia trouxe incerteza para pessoas e empresas, e destapou o risco que é as empresas não estarem preparadas para o digital. Teve de haver uma mudança de mindset, esforços e orçamentos, mais dirigido para o digital e isso veio trazer uma evolução rápida, sobretudo às PMEs, que de outra forma aconteceriam mais tarde. Mesmo assim, é um processo ainda a começar, dado que as PME portuguesas continuam muitíssimo atrasadas e há inúmeras oportunidades, com os parceiros certos. Orgulho-me da Wise Pirates ter dado o seu pequeno contributo para a evolução deste ecossistema, ajudando empresas nos mais diversos sectores, desde joalharia, restauração, vestuário, cosmética, decoração, banca, seguros, indústria e saúde entre outros, a iniciarem esta transformação digital e ter contribuído para que os seus negócios continuassem o seu crescimento, alguns de forma incrivelmente célere.

Já agora que falámos em valores quer revelar alguns números alcançados pela Wise Pirates entre 2020 e 2021?

Em 2020, a Wise Pirates atingiu os 2 milhões de facturação. Em 2021, mantivemos a tendência de crescimento, tendo fechado o ano ligeiramente acima dos 5 milhões.

Relativamente à vossa estrutura, quantos colaboradores têm actualmente?

Contamos, neste momento, com 100 colaboradores, número que prevemos aumentar no próximo ano, estimando contratar cerca de 60 novas pessoas. E com o aumento do trabalho, veio também o aumento da nossa equipa. Tivemos a necessidade de crescer de forma acelerada, de modo a dar resposta aos desafios que nos eram lançados. Em plena pandemia, aumentamos a nossa equipa de pouco mais de 20 para cerca de 100 pessoas, conseguindo assegurar um crescimento sustentado de clientes de 50 para cerca de 200.

Têm intenção de continuar a recrutar? Se sim para que áreas?

Sim, a expectativa para 2022 é de crescer significativamente a equipa, o que implica recrutar cerca de 60 pessoas, para reforço das nossas áreas de especialização, sendo as áreas de analítica, criatividade e programação frontend as principais. Conhecimento de tecnologias Google, Salesforce, Amazon e Shopify serão valorizados, mas será igualmente um foco a contratação de consultores seniores na área de maturidade digital.

À semelhança de tantas outras empresas, também sentem escassez de talento?

As áreas em que trabalhamos, sobretudo performance, data analytics, e tudo que são áreas mais ligadas a tech, são áreas que têm sofrido um crescimento acelerado e onde existe um gap de oferta. Na Wise Pirates sentimos também esse gap de talento, embora de forma menos crítica que a maioria dos players do mercado, porque apostamos em retenção, formação e aprendizagem acelerada. De facto, a retenção do talento tem sido muito positiva no nível de serviço que garantimos aos clientes. Por outro lado, com a democratização do conceito de remote em algumas funções, acredito que o gap de talento vai aumentar e tornar-se insustentável em Portugal, face à procura de outros países da Europa. A única forma de contrariar a tendência é a formação e capacitação massiva. Contudo, não há cursos suficientes nem mindset de preparação em muitos dos profissionais deste ecossistema. Por isso, para 2022, temos já pensado e estruturado um projecto de desenvolvimento formação para toda a equipa Wise Pirates três vezes mais intenso do que a média do mercado, desenhado individualmente para cada um, que vai não só dar a possibilidade de evoluírem e crescerem dentro da empresa, como também na sua própria carreira individual. Há algo em que nós acreditamos a 100% e que é crucial para a Wise Pirates: as empresas não crescem se os seus membros não crescerem ao mesmo tempo. É neste contexto que a a Wise Pirates arrancou com a WIT Academy, primeira plataforma de digital training que mistura digital, marketing, maturidade e tech em Portugal, e onde se espera proporcionar mais de 20 mil horas de formação neste ano de 2022.

Quais são as características do vosso colaborador ideal?

Para além de pessoas especialistas na sua área, há alguns elementos de atitude cruciais na contratação e evolução: inquietos, enérgicos, nativos digitais, com garra e “atitude pirate”: que não tenham medo de arriscar e errar, aprender com esses erros e fazer melhor. Queremos pessoas resilientes, que vão atrás e que tomam a iniciativa. Que tenham espírito crítico e analítico, e que trabalhem verdadeiramente em equipa, mas também que sejam generosos com os seus peers e contribuam para a evolução de todos, desde os clientes aos colegas. A equipa definiu os elementos da cultura por si e agora persegue-os, todos os dias. Nem sempre é fácil, às vezes é demasiado intenso e há que quem não consiga aguentar a pressão que os clientes nos impõem. Mas a resiliência é algo que se aprende a conquistar e a nossa cultura é exactamente esta: a de conquistar, de evoluir, de superar.

Com a pandemia surgiu o teletrabalho. Foi ele uma novidade para a vossa empresa ou não?

A flexibilidade sempre foi algo presente no nosso ADN enquanto empresa. Para nós, o importante são os resultados e não o horário a que as pessoas trabalham. Como é óbvio, com esta pandemia tivemos de acelerar um sistema que fosse mais claro para toda a equipa. O nosso modelo de trabalho híbrido, que permite a todos, dependendo da sua senioridade na empresa, trabalhar remotamente em parte da semana. Temos também mais flexibilidade para top performers e ainda a possibilidade de nomadismo digital, quando a pandemia facilitar a mobilidade. Acreditamos em liberdade e responsabilidade em todos os ângulos do nosso negócio e modelo de trabalho.

E hoje qual é o modelo de trabalho que implementaram?

Definimos um modelo híbrido, que permite à nossa equipa trabalhar de casa ou qualquer outro local uma parte do tempo e outra a partir de um dos nossos escritórios. Acreditamos que esta flexibilidade permite às pessoas organizar a sua vida pessoal e profissional de outra forma, obter melhor foco e colaboração, mas ao mesmo tempo promove os momentos sociais entre colegas quando estes estão no escritório, que são também muito importantes a variadíssimos níveis, e sobretudo em processos de onboarding.

Que boas praticas implementaram desde o início de 2020 para não cimentar os valores da empresa juntos dos colaboradores, mas também para os ajudar nesta fase complicada?

Para além do método de trabalho híbrido, montamos alguns programas que têm como objetivo um maior bem-estar das pessoas que fazem parte da equipa da Wise Pirates. Um desses programas visa a dar oportunidade a quem for pai ou mãe na equipa, poder usufruir de até mais 6 meses em que trabalha em regime part-time e full remote, mas recebendo salário completo, custo suportado totalmente pela empresa, e poder aproveitar mais este tempo com o seu bebé.

Damos também a oportunidade a cada um dos nossos colaboradores de desenvolver o seu espírito empreendedor, proporcionando-lhes um contexto rico em desafios e promotor da criação e implementação de novas ideias e negócios. Para além de criarmos o contexto e disponibilizarmos as ferramentas necessárias para fazer acontecer, entregamos a cada pirata o ownership de cada projecto, materializado na atribuição de stock options e stock offers. De facto, teremos em 2022 cerca de 20 pessoas da Wise Pirates com share rights, e incluir as pessoas que mais contribuem e que estão há algum tempo na empresa na sociedade é um prémio de inclusão que entendemos justo. Temos é pena que seja caso quase único em Portugal. Entendemos a Wise Pirates, mais do que uma fábrica de talento e de criação de valor para clientes, como uma unidade que produz empreendedores, uma área em que Portugal continua a necessitar melhorar.

Além disso, melhoramos as condições do escritório, oferecemos café, snacks e fruta, incentivamos e patrocinamos actividade física, desenvolvemos actividades lúdicas, proporcionamos seguro de saúde a todos e teremos um programa de formação e desenvolvimento de competências individuais, que mais nenhuma agência oferece, porque queremos ter talento cada vez melhor, mais qualificado e com vontade de aprender e crescer, dentro e fora da empresa.

Equilibro entre vida pessoal e profissional é uma preocupação da Wise Pirates?

É fundamental. Ainda não estamos no equilíbrio que precisamos e nem sempre os clientes respeitam, integralmente os momentos de descanso da equipa, mas temos vindo a melhorar a cada quarter. Com uma melhor organização interna em que trabalhamos neste final de ano, este equilíbrio é um dos maiores objectivos de 2022, em que a intensidade deverá ser balanceada e a ansiedade eliminada. Conforme referi, promovemos um modelo híbrido de trabalho, precisamente para assegurar que cada colaborador gere, da forma mais equilibrada e produtiva, o seu dia. Acreditamos na responsabilização e no foco nos resultados – esta é a fórmula que nos tem permitido crescer e manter elevados níveis de retenção de colaboradores.

Foram capa da revista internacional Martech Outlook. O que significou para vocês esta distinção?

Ser seleccionada como uma das 10 melhores agências da Europa foi uma surpresa enorme, mas uma honra ainda maior. As informações que temos é de que o ranking foi construído através de uma pool de inquéritos, conduzida a nível europeu, seguida por um conjunto de entrevistas e conversas. Daqui, resultou o convite para sermos chamados à capa, em representação das dez melhores agências do ano. É, evidentemente, uma honra, mas uma enormecresponsabilidade – somos a primeira empresa portuguesa a merecer este destaque nesta área. Temos consciência de que somos, entre todos os nomeados, aquele que mais cresceu nos anos de 2020 e 2021 e que representamos, simbolicamente, um ecossistema digital em Portugal em pleno desenvolvimento acelerado. O desafio é, agora, assegurar a sustentabilidade deste crescimento.

Olhando para o futuro, onde se vê a Wise Pirates daqui a 10 anos?

É difícil fazer este exercício e pensar na Wise Pirates daqui a 10 anos, e também não é algo que queiramos fazer, há demasiadas variáveis no digital, pelo que já ninguém pensa a tão longo prazo. O que queremos fazer é crescer a nível internacional, solidificar o nível de serviço, posicionar-nos na área de high end consulting em maturidade digital, e ter pessoas muito felizes dentro da equipa. Trabalhamos todos os dias para garantir a lógica de “people first”: integrá-las ao máximo dentro das equipas, dar-lhes liberdade e contexto para testarem novas técnicas, estratégias, tecnologias, e negócios, fazendo-as superar tudo aquilo que acreditavam ser possível.

 

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