Andy Brown, CEO da Galp: Liderar pelo exemplo

Andy Brown juntou-se à Galp como CEO e vice-presidente do conselho de administração em Fevereiro de 2021, depois de ter estado 35 anos na Royal Dutch Shell. Recentemente, esteve à conversa com Stefano Salvatore, managing partner da Heidrick & Struggles Portugal e Espanha, no âmbito de um podcast promovido pela consultora.

 

Por Sandra M. Pinto

 

Nessa conversa – que foi realizada antes da invasão da Ucrânia pela Rússia e da (ainda maior) escalada dos preços –, Andy Brown analisou aquele que considerou um «momento único» no sector da energia. «Nunca o sector esteve tão volátil, com os preços do gás e do petróleo a níveis recorde, mas todos falam, e bem, da transição, pois, de facto, o sistema energético mundial tem de mudar», defendeu. E a Galp está consciente disso e a trabalhar neste «inevitável processo. Se olharmos para o futuro, até 2050, a Galp estará irreconhecível em comparação com o que é hoje, isto porque vamos ter de mudar completamente os produtos que vendemos, as competências core da empresa, vamos ter de desenvolver novos talentos, mudar a forma como trabalhamos e dar maior amplitude ao digital», faz notar.

Para o CEO e vice-presidente do conselho de administração da Galp, a inovação e o digital são um catalisador para a mudança. «As oportunidades digitais permitir-nos-ão optimizar o negócio, dando-nos novas perspectivas sobre o valor que pode ser criado, e, o mais importante, permite-nos satisfazer os clientes de diferentes formas.» Por outro lado, é preciso passar de um sistema energético muito centralizado para um sistema energético mais distribuído.

 

Transição, para lá do digital
Neste caminho de transição, mudança e inovação, vão acontecer mudanças na cultura da empresa e na percepção que esta tem do talento, acreditando Andy Brown que a forma como se faz negócio também vai sofrer alterações.

«A Galp é uma empresa extraordinariamente hierarquizada e, para obter o melhor das nossas pessoas – e temos pessoas fantásticas –, precisamos de delegar, para permitir que elas experimentem, falhem, aprendam e cresçam, algo que não é comum na cultura da Galp», reconhece, afirmando que esta é «a base da estratégia de Gestão de Pessoas» da empresa, a qual se concentrará naquilo a que chamam de «agilidade na mudança» e que se concentrará na capacidade de estarem focados.

Andy Brown sublinha também que é preciso estar concentrado nos resultados, mas, simultaneamente, é essencial esta abertura à melhoria contínua. «Importa questionar como posso fazer melhor, será que é o melhor processo, poderá ser mais simples, sempre centrado nas pessoas.»

Em termos de capacidade da liderança, o CEO partilha que, primordialmente, a empresa está a trabalhar com 60 líderes de topo. «Acredito que os líderes têm de liderar pelo exemplo, e estes profissionais vão ser um foco de atenção especial para nós, sobre o modo como estão a aderir a esse compromisso e a proporcionar a delegação de tarefas.» Andy Brown defende que é preciso dar às pessoas uma noção do que significa responsabilização, enquanto lugar seguro onde se fazem perguntas, mas também se tomam decisões. «Em termos de liderança, deve-se optar por uma solução em que não se decide o que fazer, mas em que se encoraja as pessoas a inovar, dando exemplos.» Mas admite que «na cultura que a empresa tem hoje, as pessoas esperam por instruções, em vez de avançarem».

«Esta transição, esta mudança, vai levar alguns anos e acontecerá quando colocarmos as pessoas certas, enfatizando os comportamentos certos, recompensando- as da forma correcta e criando uma cultura onde os colaboradores se sintam capazes de usar todas as suas competências para inovar e criar valor», afirma o responsável.

 

Olhar para o talento
Enquanto questão que tem vindo a afectar o mercado de trabalho, importa perceber quais as estratégias da Galp relativamente à atracção e retenção dos melhores talentos. «Temos abordado esta questão, que é fundamental para o nosso sucesso», começa por sublinhar Andy Brown. «Uma das nossas primeiras preocupações é garantir que estamos a pagar ao nosso talento o seu devido valor, sendo que, para tal, fizemos um levantamento completo das remunerações e um benchmarking para garantir que somos um bom pagador. Em resultado disso, alguns salários quase duplicaram.»

O CEO quer que o talento da Galp siga o objectivo e o propósito da empresa – “Vamos regenerar o futuro juntos” –, por isso quer «fazer da empresa um bom lugar para trabalhar, o que implica permitir que o talento se desenvolva, delegando e melhorando o ambiente no escritório », afirma, fazendo questão de referir o quão é, igualmente importante, ser flexível. «Queremos adoptar um modelo de trabalho flexível, onde se trabalhe dois dias por semana no escritório, pelo que, para tal, é importante ter formas mais modernas de liderar as pessoas.»

Andy Brown acredita que muitos profissionais abandonam as empresas por causa dos seus chefes, e não por causa da empresa em si. «E isso acontece porque não estão a ser bem geridos, o que nos leva a avaliar as nossas lideranças», reitera. «Bons líderes fazem com que as pessoas queiram trabalhar com eles, pelo que trabalhar a liderança, a forma como pagamos às pessoas, dando-lhes, simultaneamente, um objectivo, e ter um excelente ambiente de escritório, flexibilidade, é o nosso caminho para reter o melhor talento na Galp», conclui.

 

Este artigo foi publicado na edição de Março (nº.135) da Human Resources, nas bancas.

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